No ano de 2004, a Câmara Municipal de Rolândia aprovou um projeto de lei que instituiu o prêmio Zumbi dos Palmares. O prêmio, que jamais saiu do papel, propunha homenagear, no dia da Consciência Negra (20 de novembro), pessoas ou instituições que se destacassem na defesa dos direitos humanos, combate à discriminação e preconceito racial e outras ações – tudo em relação a pessoas negras.
Ao longo destes 13 anos, nenhum vereador apresentou alguma pessoa ou instituição para receber o prêmio, que sequer parece ser de conhecimento da população ou dos próprios legisladores. Silvia Motta, professora de Sociologia e ex-secretária de Cultura de Rolândia (2000-2006), revelou se sentir decepcionada que o prêmio esteja “engavetado” ao invés de reconhecer ações positivas na sociedade. “Seria uma forma de estar fomentando inúmeros projetos”, disse. “Por que fazer algo e não utilizar?”, questionou.
Valorização da cultura afro
Uma das ações realizadas neste período visando valorizar a cultura africana na gestão de Silvia foi a nomeação da praça ao lado do Colégio Kennedy de “Zumbi dos Palmares”, há cerca de 15 anos. “Ela está na Avenida Castro Alves, que é o poeta dos negros, coincidentemente”, destacou Silvia. Na inauguração da mesma, um casal afrodescendente foi homenageado. “Foi para ressaltar a presença negra na história da colonização de Rolândia”, explicou a professora. Alguns anos depois, a obra foi remodelada, mas a praça continua homenageando o líder negro.
No período que ela ficou a frente da secretaria, também foi criada a Associação Afro-brasileira de Rolândia (ABRAR) em 2003, que ficou em atividade por três anos sob o comando do presidente Wagner Rosa, professor de capoeira também conhecido como Nagô. “A associação foi criada com o intuito de reunir as pessoas que se autodeclaram negras, afrobrasileiras, para praticar a cultura e conhecerem a cultura negra e criar o sentimento de pertencimento”, revelou Silvia. Quando ele se mudou para Curitiba, a associação não teve continuidade.
Conscientização
Como professora, Silvia explicou como a Educação pode contribuir na desconstrução do preconceito. “No nosso colégio tem um projeto idealizado por mim e nós temos banners de negros, homens e mulheres, que marcaram os diferentes campos do conhecimento para que as crianças se habituem a ver essas imagens”, mencionou. Para ela, “o mito da democracia racial no Brasil” acabou criando no imaginário popular que devido à miscigenação, não existe racismo no país. “Como uma criança negra cria auto-estima, sentimento de pertencimento, se a única referencia que passaram para ela, que quiseram que ela soubesse de forma alienada ou não, está relacionada à escravidão?”, questionou. Silvia aponta que os professores precisam de mais formação para trabalhar a cultura africana e lidar com situações de preconceito dentro das salas de aulas. “A formação de história e cultura africana tem que acontecer nas licenciaturas”, opinou.