O Dia Nacional de Doação de Órgãos e Tecidos foi celebrado na última sexta-feira, 27 de setembro, e o hospital São Rafael contribui com a captação de globos oculares que são transplantados em pacientes da região. Essa captação é a única que pode ser feita em hospitais do porte do HSR, que não possuem UTI. Em 2019, a média está em uma de captação/ mês no hospital rolandense.
Ser doador de órgãos é um ato nobre que transforma vidas e deve ser discutido em família. “O importante é as pessoas falarem sobre isso com as famílias, porque um dos maiores motivos de recusa é devido à família dizer que o paciente falecido nunca ter falado nada sobre isso. Há um medo de doar e achar que a pessoa não gostaria de ter doado”, enfatizou a enfermeira Kátia Vaz, que atua na captação no HSR há dois anos, credenciada pela Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos (Cidot).
Kátia destacou que um novo globo ocular representa uma imensa melhoria na vida de um paciente. “A pessoa pode viver sem esse transplante, mas a qualidade de vida é muito diferente”, ressaltou. E ela conta um exemplo recente que soube através do Banco de Olhos de Londrina. “O pessoal recebeu o áudio de uma mãe que perdeu totalmente a visão, fez o transplante e conseguiu ver o filho pela primeira vez. Uma coisa que para nós parece tão pequena, para ela foi muito importante”, relatou.
Abordando a família
Após o falecimento, todas as pessoas são potenciais doadores, mas é preciso avaliar a causa da morte, idade e obter autorização familiar. O hospital deve contatar o Banco de Olhos de Londrina e Organização de Procura de Órgãos e Tecidos (OPO) e passar essas informações. Em cerca de 15 minutos já são informados se podem prosseguir.
A abordagem da família do possível doador é feita por enfermeiros treinados. “Temos que ter enfermeiros prontos em todos os horários, porque não sabemos o momento em que vai acontecer”, acrescenta Claudinéia Pontiroli Gonçalves, gerente de enfermagem do HSR. Na semana passada, dez profissionais da enfermagem do HSR participaram de uma capacitação em Londrina, com um enfermeiro especialista de Curitiba. “A nossa intenção é capacitar cada vez mais nossos enfermeiros. Não é um tema fácil, porque a perda de um ente é o momento mais difícil para uma família”, acrescentou Claudinéia.
Caso a família aceite a doação, é necessário preencher a documentação. Se há um parente de primeiro grau para fornecer os documentos e assinar, o processo leva em torno de uma hora. Caso esse parente venha de outra cidade e demore a apresentar os documentos, o processo acaba levando mais tempo. “O paciente só vai para o centro cirúrgico fazer a retirada quando tiver tudo certo e assinado”, ressaltou Kátia. Enquanto isso, a córnea precisa ser mantida umedecida até sua remoção e é preciso também colher sangue do paciente para testar a compatibilidade.
O procedimento de retirada pode levar de 30 minutos a duas horas, dependendo da reação do paciente. “Retira-se o globo ocular, com todo o respeito pelo paciente que está doando. Depois da retirada, o órgão é acondicionado em frascos estéreis junto com o sangue para mandar ao Banco de Olhos. É colocada uma prótese, porque se a família quiser passar a mão no rosto, fica igual como se tivesse o globo ocular. Então, é feito o fechamento da pálpebra e a sutura. O paciente pode ter um hematoma, mas se consegue cobrir com maquiagem”, detalhou a enfermeira.
O corpo é devolvido para a família velar em um bom aspecto, porque a captação segue vários critérios, não sendo possível perceber sinais do procedimento. Às vezes, é preciso aguardar a contenção do sangramento. “Não entregamos o corpo sangrando, nós esperamos ele sangrar e ter o esgotamento, isso acaba demorando, mas é imprevisível”, explicou. A família pode aguardar o procedimento e ver o corpo antes de ser levado pela funerária. “Se esperarem terminar a captação, eles podem e têm direito de ver o corpo assim que sai do centro cirúrgico”, revelou Kátia.
O globo ocular é enviado para o Banco de Olhos, onde será encontrado um receptor dentro da fila de espera. Ele pode ser conservado por até 14 dias no banco. “As córneas têm prioridade nos traumas oculares, sendo usadas em pacientes que tiverem queimaduras ou perfuração”, revelou a enfermeira. O destino do globo é então determinado e, na grande maioria das vezes, vai para um paciente do Paraná ou pode ser enviado a outro estado. “Se não houver compatibilidade na região, vai abrindo o espaço e analisando”, concluiu Kátia.