Dia da “Consciência Negra no Brasil” para que e para quem? Quem foi Zumbi? Quem foi Dandara? Precisamos deste dia, sim, para que todas e todos nós, negros e brancos, tomemos consciência da importância da população negra para este país. Consciência de que o Brasil por mais de três séculos escravizou pessoas negras, que eram tratadas como objeto, que eram torturadas e estupradas.
Precisamos tomar consciência desta triste história para que nunca se repita. Precisamos tomar consciência para abrirmos o nosso olhar para enxergar onde a população negra esteve ontem, quando teve a dita abolição da escravatura e onde está hoje. Abolição esta que não lhes garantiu terras, alimento, trabalho, moradia, estudo e direitos fundamentais. A constituição de 1824 não considerava negros e negras sujeitos de direitos, pelo contrário, na época havia legislações que lhes negavam direitos.
Hoje no Brasil 54% da população é negra (pretos e pardos). Sem uma consciência negra, como poderemos responder os motivos em que olhamos para as instituições e cargos com maior poder, se não enxergamos pessoas negras?
Quantos médicos (as) negros (as) brasileiros conhecemos? Quantos juízes? Quantos promotores? Quantos engenheiros? Parlamentares no congresso? Presidentes da República? Governadores? Além disso, podemos tomar consciência de que a população negra é, em sua maioria, trabalhadores com maior desgaste físico e menor remuneração, como é o caso das empregadas domésticas e pedreiros.
Também são maioria dentro dos 10% de pobres no país (75% são negros), enquanto dentre o 1% mais rico estão 17,8% dos integrantes. Conforme dados da ONU, a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado no Brasil. O risco de o jovem negro ser morto é três vezes maior do que um jovem branco.
Além disso, a população negra contribuiu e contribui muito para esta formação e desenvolvimento do País. Seja na música, no esporte, culinária, religiões, linguagem brasileira e as mais diversas ciências. A consciência negra é necessária para aprendermos. Para conhecermos filosofia africada chamada UBUTUN. Por que tenhamos consciência que uma postura antirracista é urgente e necessária.
Marici Seles, 33 anos, é conselheira Estadual de Promoção da Igualdade Racial, representante da Rede Mulheres Negras-PR, e moradora de Colombo
“O Brasil foi construído a partir do sofrimento, da tortura e da morte, promovida por um regime de escravidão que durou 388 anos, com sequestros e assassinatos de aproximadamente 7 milhões de seres humanos africanos e descendentes.
O Dia 20 de novembro é o momento de celebrar a memória do Zumbi dos Palmares e da Dandara, que foram os heróis do povo brasileiro, e também, para refletir sobre a escravidão, a tortura e o genocídio. Serve também para refletir sobre o racismo, que é estrutural e que infelizmente precisamos enfrentar todos os dias.
Só para lembrar, foram 388 anos de escravidão, e ainda tem gente que diz não entender a questão das desigualdades sociais. Esse país só tem 519 anos. ”
Milena Miranda de Souza é rolandense e tem 16 anos
“Por que temos que ter, sim, o Dia da Consciência Negra?
Por que os negros compõem 60% da população carcerária do país?
Por que os negros ocupam os empregos com menos qualificação educacional?
Por que os negros representam o maior índice de desempregados no Brasil?
Por que a taxa de homicídios de negros é quase 3 vezes maior que a de não negros?
Por que as maiores taxas de feminicídios então entre as mulheres negras?
Por que as os maiores índices de analfabetismo estão entre as populações negras?
Por que os menores salários estão entre os negros?
(Fonte de dados: PNAD/2017)
Pois bem, as suas respostas irão nos dizer se é ou não importante ter um dia da consciência negra. Se você for uma pessoa progressista, compreenderá que esses resultados são consequências do racismo estrutural que acompanha a história do nosso país. Que mesmo após a abolição da escravidão em 1888, os negros (as) não foram inseridos na sociedade, ao contrário disso, continuaram a sofrer o ódio e a discriminação legitimados pelas principais instituições sociais, reproduzindo gerações e gerações de despossuídos e tornando as oportunidades cada vez mais distantes. Se você for uma pessoa progressista, compreenderá que a diversidade humana é uma qualidade, mas que essa diversidade foi transformada em desigualdades acobertando interesses de poder e exploração. Compreenderá que somos diferentes na diversidade, porém iguais enquanto espécie humana e que nossos direitos devem ser os mesmos.
Mas se você não compreende nada disso… para você o Dia da Consciência Negra não deveria existir.”
Silvia Motta, 49 anos, é socióloga e professora de Sociologia na Rede Estadual de Ensino em Rolândia
“Nós acreditamos que trabalhar o dia 20 de novembro, exaltar e colocar a “Consciência Negra” como uma data de feriado, tem suma importância para a valorização de uma cultura que foi renegada pela história brasileira. Se nós pegarmos os livros didáticos, eles abordam apenas a questão étnica racial, na temática de escravidão, e não valorizam a história do povo que compôs o nosso país.
Se hoje nós somos quase 54% de negros no Brasil é porque houve um passado histórico, no qual existiram pessoas que morreram para este país se constituir e, essas pessoas que morreram, eram negras. Foram trezentos séculos de escravidão e agora existem pessoas que falam que as ações afirmativas, que têm 20 anos de existência, são suficientes para sanar um período histórico e nefasto do passado brasileiro.
Então, ser feriado no “Dia da Consciência Negra” é importante para exaltar a cultura do povo brasileiro que não conhece o seu passado na maioria das vezes.”
Jamile Baptista, 30 anos, é pesquisadora das Relações Étnicos Raciais da UEL e assessora de Políticas Assertivas, moradora de Londrina.