De traços finos a grossos, do desenho delicado ao realismo, as garotas no universo da tatuagem enfrentaram diversas formas de machismo até abrirem os próprios estúdios. Ao redor do mundo, profissionais são reconhecidos por seus traços, cores, formas e despertam o desejo de eternizar momentos em riscos pelo corpo.
Por muito tempo era um trabalho quase que exclusivamente masculino, mas as mulheres foram ingressando na carreira, dominando a técnica e ganham, a cada dia, a preferência do público, sobretudo o feminino. A tatuadora rolandense Wendy Duarte (21) começou a tatuar com 18 anos, mas já trabalhava com tatuagem desde os 17, quando era recepcionista em um estúdio. “Eu decidi que queria ser tatuadora com 15 anos, nessa época eu sofria com a falta de oportunidade no mercado de trabalho para pessoas com modificações corporais, pois sempre estive fora do padrão estético estabelecido e não queria abrir mão disso para trabalhar. Minha motivação foi acreditar que nessa profissão eu teria liberdade, não só sobre minha aparência, mas também meus horários e valores. Outro fator é que nunca me dei bem com autoridade, logo, desde criança tive em mente ter o meu próprio negócio”, explicou Wendy.
Lidando com o machismo
A tatuadora contou que já passou por preconceito e foi vítima de machismo durante sua trajetória profissional até aqui. Ela mencionou que teve dois mentores homens durante o início de sua carreira, e um deles apresentava inúmeros comportamentos machistas enquanto ela era recepcionista/aprendiz. “Era obrigatório para mim como mulher e funcionária estar com as unhas feitas todos os dias, bem vestida e com maquiagem, alguns homens eram proibidos de frequentar o estúdio se eu estivesse sozinha, se isso acontecesse, ele chamava minha atenção”, relembrou.
A tatuadora ainda recorda que o mesmo mentor a proibia de postar algumas ideias particulares em suas próprias redes sociais, pois, segundo ele, “manchava a imagem do estúdio”. “Ele ainda ameaçou não me ensinar a tatuar se eu continuasse”, afirmou. Wendy se lembrou de muitos momentos de sua vida profissional como tatuadora que ela certamente preferia esquecer, como alguns episódios de assédio que, na época, a marcaram muito.
“Muitas pessoas questionaram o porquê de eu aceitar aquela situação por tanto tempo, a verdade é que aquele era meu primeiro emprego, eu não tinha experiência nenhuma no mercado de trabalho, eu tinha um sonho de aprender e estava disposta a “pagar o preço”. Quando eu contava para as pessoas o que acontecia no meu trabalho, as pessoas diziam que era normal, patrão é assim mesmo. Hoje tenho a convicção de que isso não é normal e que eu vivi uma relação abusiva e machista”, contou.
Já não estando mais no papel de aprendiz, Wendy também continuou passando por episódios de machismo. Ela revelou que quando decidiu abrir seu próprio estúdio, contou com o apoio de um tatuador que foi extremamente prestativo e atencioso no começo. “Mas depois, o machismo e a opressão apareceram a partir do momento em que ele passou a eliminar completamente o meu mérito como profissional partindo do princípio de que ele me ensinou a tatuar efetivamente, logo, eu devia todo meu sucesso a ele”, relembrou.
Os desafios em meio ao sonho
Conforme contado pela tatuadora, ter essa profissão proporcionou que ela tivesse experiências que trouxeram muitas reflexões sobre o impacto das raízes que o sistema patriarcal em que estamos inseridos. “Criamos estereótipos de feminilidade extrema em que tatuagens femininas precisam ser delicadas, pequenas, de traço fino, enquanto as masculinas são grandes, com bastante detalhes e marcam presença. Na verdade, nem todas as mulheres têm essa preferência, é óbvio que a massa consumidora tem, mas isso é consequência dos padrões impostos desde a nossa infância em relação à aparência feminina que não inclui quem somos e o que queremos na nossa essência”, afirmou.
Outra questão pontuada por Wendy é que tatuadoras mulheres sempre são mais procuradas por clientes mulheres, não só pelo trabalho em si, mas também por conta de denúncias de assédio vindos de tatuadores homens nos últimos anos. “A questão é que eu não quero mais clientes por ser mulher, quero que mulheres se sintam à vontade tatuando com qualquer profissional. Eu não quero mais fazer tatuagens que não representam a luta, a revolução e a quebra de padrões estéticos e continuar contribuindo com um sistema que nos rotula e nos oprime, sim, isso é um desabafo”, assegurou.
Empreendedorismo “na veia”
No início, a tatuadora que exercia todas as funções da profissão, menos a de tatuar, e além de fazer deixar a sua arte na pele dos clientes, também faz todas as demais tarefas como passar orçamentos, agendar os clientes, recepcionar, fazer as artes das tatuagens, limpeza do estúdio, montagem dos materiais e etc. “Além disso, hoje eu também estou abrindo uma loja virtual de moda alternativa, na qual também atuo em todas as funções”, comentou.
Ela afirma que não é fácil manter as duas empresas funcionando, e muitas vezes se sente sobrecarregada. “Eu não acho que está tudo bem destruir meu corpo e mente por causa de um ou dois trabalhos. Por isso, tenho distribuído as atividades de forma flexível no meu dia a dia de modo que eu possa descansar e ter um tempo para mim entre ou após as atividades”, revelou.
Você é suficiente!
Por fim, Wendy deixou um recado dedicado as mulheres neste mês especial, de frases retiradas do livro “Curando a Deusa em mim”, de Mariana Ruppel. “A mulher que você é hoje já é suficiente. Faça com que seu relacionamento com você mesma seja sua maior fonte de cura, e não de destruição. Ninguém pode parar uma mulher determinada a se amar e se curar. Sua cura individual, reverbera no coletivo”, ressaltou.
Para conhecer melhor o trabalho da empreendedora e tatuadora rolandense, acesse suas mídias pelo Instagram: @wendy.tatuadora ou @ofidiana_ que é o perfil da sua loja de roupas alternativas. Para falar com ela, basta entrar em contato pelo (43) 9.99348557.