E agora, José? A pergunta deve ter ecoado na mente do carpinteiro, cuja noiva engravidara misteriosamente. O que fazer com aquela gravidez inexplicada? Ele pensa em cancelar o casamento e abandonar, sem alarde, a futura esposa. Mas a aparição de um anjo do Senhor em seus sonhos muda tudo e ele decide aceitar sua noiva, grávida do Espírito Santo. A partir desse momento, o Menino Jesus ganhou um pai – e que pai.
Mesmo sem pronunciar uma palavra sequer em todo o Novo Testamento, São José esteve presente em momentos importantes na vida do pequeno Jesus. Só para mencionar alguns, é ele quem lidera a ida a Belém, onde Maria dá à luz o filho em uma manjedoura, e cabe a ele também a responsabilidade de comandar a fuga da pequena família para o Egito, longe das ameaças do rei Herodes, que prometia acabar com a vida de todos os garotos de até 2 anos de idade.
Na realidade, há poucos dados históricos sobre esse homem que abraçou corajosamente a paternidade de Jesus. Não se sabe exatamente quem ele era, qual era sua idade ou quem era sua família. Ele é o mais silencioso e escondido de todos os santos.
José é um vocacionado: “…você lhe dará o nome de Jesus…” (Mt 1,21)
A simplicidade e a discrição de São José, porém, não impediram que ele se tornasse modelo de comportamento dentro e fora da Igreja. São José é um exemplo de fé, de castidade e, claro, de bom pai e chefe de família.
Ao falarmos São José, na realidade estamos falando, também de Deus, especialmente de Deus Pai – José é a personificação de Deus Pai. Isso faz com que toda a Santíssima Trindade venha até nós seja por meio do Filho (Jesus), Espírito Santo (Maria) ou do Pai (José). Há uma afinidade do Pai celeste a se encarnar no pai José. O Pai celeste é mistério abissal, trabalha criando o Universo e cuida de todos. Semelhantemente, José não fala, é mistério, é carpinteiro e cuida de Maria e Jesus.
De acordo com estudiosos, a figura paterna de José ultrapassa seu simbolismo religioso, podendo servir como uma grande fonte de inspiração para os pais do século 21.
José é uma testemunha: “…Esse homem não é o Filho do Carpinteiro?…” (Mt 13,55)
“O papel do pai é conferir segurança aos filhos, impor limites, ser um exemplo de capacidade de responder aos desafios. Ora, São José viveu todas essas dimensões de forma conseqüente e pode ser um inspirador de como devemos ser pais hoje”, diz o teólogo Leonardo Boff.
Mais que isso, o desempenho paterno de José romperia com o estereótipo do pai autoritário, mostrando um genitor mais gentil e afetuoso. “O arquétipo do pai está ligado à autoridade, às leis, ao que é certo ou errado”, afirma a psicóloga Eloísa Penna, diretora da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica. “Na mitologia cristã, esse arquétipo cabe a Deus. José é um pai mais suave, mais carinhoso. Ou seja, representa a paternidade que se espera hoje de um pai moderno: dar atenção, pegar no colo, ensinar.”
Nós não pudemos escolher nosso pai e nossa mãe. Mas, Jesus pôde. Isso porque, antes de ser gerado no seio da Virgem Maria, Ele já existia no seio do Pai Eterno. Quando chegou a hora de sua Encarnação para a salvação do mundo, que fora criado por meio dele, então, escolheu uma Mãe que lhe gerasse na carne, por obra do Espírito Santo, e um Pai que lhe fizesse na terra o lugar do Pai do Céu; escolheu o justo José.
José, o homem que colabora: “…Olhe, que seu pai e eu estávamos angustiados à sua procura…” (Lc 2,48)
Certamente, o Verbo escolheu a melhor Mulher e o melhor Homem disponíveis “na plenitude dos tempos” para serem seus pais. O melhor Filho teve o melhor Pai na terra.
José e Maria, através de seus exemplos de educadores do menino, mostram que a educação se faz com amor, exemplo, carinho, paciência, perseverança.
José viveu para Deus, para a Esposa e para o Menino. Anulou-se para servir ao Senhor. Sem dúvida, um exemplo de pai e de marido que deveria ser seguido por todos. Quem sabe assim teríamos menos problemas com violência, drogas e falta de respeito dentro das próprias famílias nos dias de hoje.