Inventando Anna

Por Samuel M. Bertoco

Imagine o universo da alta sociedade nova iorquina, uma vida de hotéis seis estrelas, restaurantes consagrados, roupas caríssimas e uma rede de contatos que se auto enriquece. Agora imagine desfrutar de tudo isso sem ter um centavo no bolso. Foi o que fez Anna Sorokin – na vida real – ainda quase conseguiu um financiamento de 40 milhões de dólares para criar uma fundação para super ricos – que ela não era.


A nova minissérie da Netflix conta através de uma jornalista desmoralizada, como uma imigrante russa se infiltrou na alta sociedade se fingindo de uma herdeira milionária alemã e enganou alguns dos maiores banqueiros, arquitetos e investidores da cidade.


A série patina, mas ele cumpre a missão de nós contar o que rolou. As atuações são exemplares, de todos, mas Julia Garner como Anna é simplesmente incrível – três anos e ela é Oscar. Outra parte legal é o núcleo da jornalista e a dinâmica com Anna – a quem ela entrevista na cadeia, antes do julgamento – e sua luta para colocar a matéria no ar, visto que seus chefes não acreditam muito na força da história.


De ruim temos clichês e guinadas pouco críveis. Um exemplo: Anna não é especialmente bonita, mas se vestia no estilo patricinha e queria um financiamento de U$ 40 mi. Pra isso vai num banqueiro, que nem quer saber, ela sai frustrada, mas tem uma ideia. Volta a cena, Anna pintou o cabelo, botou um óculos de grau e se vestiu “cobrindo”, parecendo agora uma empresária júnior promissora e voilá, o processo de financiamento começa a andar. É pobre, e isso acontece várias vezes. É certo que Anna nunca realmente foi muito inteligente nem teve um grande plano, foi conseguindo as coisas com carisma e mentiras frágeis – e nem durou muito – mas isso enfraquece a série como um todo.


No geral vale ver como uma pessoa normal com algumas mentiras se infiltrou em um dos círculos mais fechados do mundo e que, uma vez lá dentro, tudo vai acontecendo “na camaradagem” e sem verificação – até um avião ela roubou. Anna – a de verdade – está presa e vai ser deportada. Mas que ela zoou, zoou.

Samuel M. Bertoco é formado em Marketing e Publicidade

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