Qual a sua expectativa?

Por Monsenhor José Agius

Certo médico brasileiro só atendia a pacientes terminais do hospital onde trabalhava. Depois de anos de trabalho, ficou impressionado de como as pessoas que iam morrer se lamentavam de não terem feito na vida aquilo que gostariam. Iriam morrer sem terem realizado a maioria de seus sonhos e projetos. Iriam morrer de certa forma frustrados. Isso o fez refletir muito sobre o sentido da vida humana. Lançou-se, então, à busca de respostas. Foi nesse tempo que alguém lhe sugeriu que conhecesse o budismo. Atraído pela mística dessa religião, viajou para o Nepal e foi procurar um mosteiro budista daqueles bem escondidos no meio das montanhas. Chegando lá, foi recebido por um monge na porta e disse-lhe, em inglês: “eu gostaria de falar com o Mestre”. O monge mandou-o sentar-se e esperar uns instantes, e saiu.

Daí a pouco entrou uma mulher com traços europeus, aparentando uns 45 anos. Ela sentou-se no chão diante dele e perguntou num inglês com sotaque francês: “em que posso ser-lhe útil?” Ele disse: “eu quero falar com o Mestre”. Ela respondeu: “eu sou o Mestre”. O que o senhor deseja?” Ele, tentando disfarçar o seu desapontamento, pois esperava encontrar um daqueles autênticos velhos sábios budistas, cheios de experiência de vida, de sabedoria, de mística, pensou rápido: “vou fazer uma pergunta bem difícil, para que ela fique embaraçada e me mande procurar um sábio original”. E perguntou: “qual é a essência do budismo?” Ela respondeu: “a essência do budismo é que o homem sofre”.


Ele, surpreso com a concisão da resposta, e que isso tinha a ver com o motivo que o levou ali, continuou: “e porque o homem sofre? E ela: “o homem sofre porque não aceita que a vida tem altos e baixos, como as montanhas. Quando está no alto, ele quer continuar nessa situação e, ao ver-se embaixo, sofre porque não está lá em cima. Esta é a diferença entre o homem sábio e o ignorante: o sábio aprende com o sofrimento, o ignorante reclama”. Com essa resposta o médico deu-se por satisfeito e voltou para casa, pensativo. Não se tornou budista, mas encontrou ajuda par o que dizer aos seus pacientes terminais que se angustiavam diante da fatalidade da morte. Mais ainda, percebeu que é melhor ensinar as pessoas a correrem atrás dos próprios sonhos agora, para não terem que chegar frustrados ao momento da morte.


E nós, qual a nossa expectativa? O que esperamos? Como encaramos o sofrimento, a morte? A propósito, vale a pena refletir sobre este verso de uma canção de Mercedes Sosa: “Eu só peço a Deus que a dor não me seja indiferente, que a ressequida morte não me encontre vazia e só, sem ter feito o suficiente”.


Monsenhor José Agius.

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