Renata Cândido da Silva é a criadora da Ishá: um sistema que simula a corrente sanguínea do paciente durante uma sessão de hemodiálise
Mesmo com mais de 20 anos na mesma profissão, a técnica enfermagem e graduanda de Enfermagem, Renata Cândido da Silva (42), resolveu inovar e aperfeiçoar o seu trabalho desenvolvido no Hospital Universitário de Londrina, no setor de hemodiálise. A complexidade para treinar os profissionais de saúde em procedimentos de hemodiálise despertou em Renata o desejo de mudança. Foi nesse momento que ela deu os primeiros passos para desenvolver um simulador para humanizar e descomplicar a capacitação nesta área. O projeto depois ganhou o nome de Ishá (Eva em hebraico).
Ishá é um sistema que simula a corrente sanguínea do paciente durante uma sessão de hemodiálise por meio de um manequim e a criação tem chamado muito a atenção dos profissionais da saúde de toda a região e ajudado a vida de muitas pessoas. Mas antes de chegar nesse protótipo tão real, a profissional conta que não foi tão simples e houve uma primeira tentativa de mudar esse sistema de aprendizado.
“Não tinha nenhum curso específico na internet, ou um artigo científico que pudessem auxiliar nesse aprendizado. Eu fui buscar informações com colegas mais experientes, mas fiquei na mesma, pois ninguém conhecia mais a fundo esse setor”, relembra Renata. Vendo que a dificuldade eram das pessoas que trabalhavam no setor, a profissional desenvolveu um caderno que era como um manual de procedimento, para que pudesse ser consultado e agilizasse o trabalho. “Na verdade não deu muito certo porque parar para consultar o caderno era parar o que estávamos fazendo e isso não estava funcionando”, ressaltou.
Ainda insatisfeita com a situação, e sabendo da importância de uma mudança nesse processo, a profissional não desistiu e continuou tentando buscar uma saída. “Principalmente por saber que, até o ano de 2040, um em cada nove pacientes vai ter problema renal e que a doença renal crônica vai ser a quinta maior causa de morte do mundo, e também pensando que eu poderia ser esse paciente, ou minha mãe, um parente, um amigo, pedi uma direção de Deus para que pudesse desenvolver alguma coisa que facilitasse esse mecanismo e pudesse melhorar esse serviço para não expor o paciente e nem o profissional”, explicou Renata.
Depois desse pedido de uma intervenção divina, Renata teve uma visão desse projeto e inicialmente o desenhou em papel, para depois colocar em prática. Ela levantou estudos e pesquisas e todo o processo durou aproximadamente cinco meses. Então, Renata colocou o mecanismo dentro de um manequim, o levou para a clínica que trabalhava, fez o teste na máquina de hemodiálise e funcionou.
“O ponto chave do projeto, a verdadeira proposta de valor dele é ser um simulador. Ele é não é considerado como um boneco, mas sim um simulador de hemodiálise. A proposta dele é substituir o paciente durante a sessão de hemodiálise para que o profissional possa treinar e se qualificar, e assim exercer o seu o seu trabalho com segurança”, reforça a técnica em enfermagem. Hoje para poder receber um transplante renal, o paciente precisa de uma qualidade de hemodiálise significativa, ou seja, uma qualidade excelente durante o tratamento. “Quando tiro essa hora diária do paciente para treinar alguém, querendo ou não, a longo prazo há interferência nessa qualidade de hemodiálise e coloca-se em risco eminente de morte o paciente”, afirma Renata.
Diante de algo tão pioneiro e inovador, o projeto recebeu propostas de empresas nacionais e internacionais, e a profissional tem contato até mesmo com o apoio do Sebrae Paraná. A consultora do Sebrae Paraná, Cinara de Marchi Tozatti, acompanhou a ideia da Renata desde o início deste ano, e ainda destacou que a inovação tem grande potencial. “O projeto diminui o custo do treinamento, o tempo e o sofrimento do paciente. Tanto que as multinacionais se interessaram por enxergar que essa é uma demanda do mundo inteiro”, afirmou Cinara.
O projeto inclusive já está inscrito em dois editais e em um deles houve a aprovação para a segunda fase. Além disso, o Conselho Regional de Enfermagem do Paraná (Coren) reconheceu a relevância da invenção para o setor da saúde durante a Semana da Enfermagem, realizada em Curitiba, no mês passado. Renata foi premiada na categoria pesquisadora. Com tantas possibilidades, a empreendedora avalia duas propostas: uma parceria com uma empresa internacional de simuladores e outra para a criação de um curso de pós-graduação. “Minha prioridade é montar um instituto de treinamento de hemodiálise. Pretendo montar uma clínica e inserir nas universidades como formação de base”, planeja Renata. E olhe que quando ela planeja, ela faz. Em tempo, Renata trabalha atualmente na UPA de Arapongas.