Danilo de Longhi mostra a urgência de preservar os aspectos materiais e imateriais nos túmulos do Cemitério Municipal de Rolândia
O rolandense Danilo de Longhi, graduado em História pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), Bacharel em Direito pela FACCAR e Mestre em História Social, dedicou sua pesquisa a um tema singular e de profundo significado para a identidade da cidade: o cemitério municipal. Sua dissertação teve como foco a necessidade urgente de preservar os aspectos materiais e também imateriais, presentes nos túmulos que compõem o cenário do principal cemitério rolandense.
Ao longo de sua investigação, de Longhi realizou um cuidadoso registro fotográfico de 4.752 túmulos, concentrando-se especialmente nas quadras 7 a 30, as mais antigas do cemitério. O ponto de partida para sua pesquisa surgiu ao deparar-se com túmulos marcados com um X, indicando que seriam removidos. Essa prática levou-o a refletir sobre o impacto que a remoção desses túmulos poderia ter na preservação da história e da memória da cidade.
A questão ganha ainda mais relevância diante do contexto atual, em que a falta de espaço para novos sepultamentos tem levado a administração a marcar e remover túmulos aparentemente abandonados. Além disso, durante sua investigação, de Longhi deparou-se com túmulos marcados em bom estado de conservação, alguns deles pertencentes a pessoas cujas histórias foram marcadas por episódios de perseguição, como é o caso de túmulos de judeus.
“Esses são casos internacionais, pois, na Alemanha nazista, as casas e judeus eram marcados com um X ou com a estrela de Davi. Marcar com um X uma sepultura de um judeu é algo macabro. É como se estivessem sendo perseguidos mesmo após a morte, como se fossem indesejados, mesmo na terra que um dia serviu de refúgio”, comentou Danilo.
De acordo com o pesquisador, muitas das sepulturas do cemitério têm o potencial de contar parte da história da cidade e das pessoas que contribuíram para sua formação. Danilo argumenta que, ao estudar essas sepulturas, é possível aprender sobre os diversos grupos étnicos que habitaram a região, enfatizando a importância dessa diversidade na construção da identidade de Rolândia.
“A análise das sepulturas pode proporcionar insights sobre as crenças e os valores religiosos das pessoas enterradas ali, evidenciados pela estrutura dos túmulos e pelos símbolos religiosos presentes. Ou seja, existe todo um valor histórico e cultural das sepulturas como uma fonte de conhecimento sobre a cidade e seus habitantes”, afirmou o pesquisador.
De Longhi argumentou que os investimentos feitos pelas famílias na construção de túmulos suntuosos revelam uma preocupação em manter viva a memória dos entes queridos, algo que se contrapõe à padronização do mundo moderno. “É por meio dessas sepulturas que podemos compreender como as pessoas entendiam a morte antigamente, pois a estrutura tumular dessas sepulturas mais antigas remete a uma época em que as pessoas tinham uma maior preocupação em manter a memória dos entes queridos viva. Essa ideia de manter a memória viva pode ser explicada pelo investimento que as famílias faziam para a construção de túmulos suntuosos, algo que difere da padronização do mundo moderno”, enfatizou.
Durante o trabalho realizado no cemitério municipal, o pesquisador identificou muitos itens históricos. “O Túmulo Budista marcado pela administração do cemitério, registrada no início de 2019, localizado na quadra 13, este túmulo, em excelente estado de conservação, representa um exemplo que motiva a reflexão sobre a política de remoção de túmulos do cemitério, uma prática que carece de uma revisão mais cuidadosa”, observou.
Nesse sentido, a pesquisa de Danilo De Longhi lança luz sobre a importância de preservar os túmulos do cemitério de Rolândia como um patrimônio histórico e cultural. “Preservar esses túmulos mais antigos é como manter viva a história das pessoas que um dia contribuíram para o desenvolvimento da cidade. E que essa história pode ser contada por meio de seus túmulos”, finalizou o pesquisador.