Por Samuel M. Bertoco

O Brasil já deu suas beliscadinhas no tapete vermelho do Oscar, fez bonito com Central do Brasil e Fernanda Montenegro – que tinha chances de verdade de ganhar – e abocanhou alguns carequinhas com o inesquecĂvel Cidade de Deus. NĂŁo somos presença constante, mas parece que dessa vez pode rolar com Ainda Estou Aqui, e com a magistral atuação de Fernanda Torres.
Ainda Estou Aqui Ă© um filme simples de uma histĂłria verĂdica e muito trágica – e simples. A trama centra em Eunice – vivida por Fernanda -, esposa do ex-deputado Rubens Paiva. Rubens – Selton Mello – foi sequestrado pela ditadura militar e nunca mais voltou pra casa. O roteiro Ă© montado de forma que vamos vendo a vida de privilĂ©gio dos Paiva em contraste com o cerceamento da liberdade e, posteriormente ao desaparecimento de Rubens e as consequĂŞncias disso em sua famĂlia.
Dramas desse porte tem aos montes em Hollywood, verĂdicos ou nĂŁo, de Ă©poca ou nĂŁo. Alguns pontos costumam diferenciar um draminha de Netflix pra um filme que se torna grandioso, Ainda estou Aqui cumpre quase todos os quesitos. Apesar de pesado e focado nas emoções e ligação entre os personagens, o filme tem um roteiro ágil, que nĂŁo o deixa cair na mesmice e virar um novelĂŁo. A direção tem pitadas de brilhantismo nas fotografias e enquadramentos e, claro, os atores dĂŁo show.
Selton Mello, que já é um dos atores que mais gosto, entrega muito mesmo, e tem algumas chances de figurar na lista de melhores atores do Oscar, o que já seria imaginável. Mas Fernanda é um espetáculo à parte e caminha solidamente não só pra ser indicada, mas a ter chances reais de ganhar, nem tem muito como explicar, é gigantesco, só vendo pra saber, ou melhor, sentir.
O filme ainda deve vir muito forte pra vencer entre os indicados a melhor estrangeiro, e deve ser indicado aos melhores no geral – mas esse não deve levar. São várias indicações mais que merecidas, e, se ganhar, não seria nada inexplicável não. Torçam.
Samuel M. Bertoco Ă© formado em Marketing e Publicidade