O que você está sentindo é o seu principal problema? Acabar com esse sentimento resolverá seu problema? Enquanto achar que os seus sentimentos são a fonte dos seus problemas você estará enganado. Ilustro, sabe aquele pino (termômetro) que fica enfiado na carne do peru, e serve para avisar quando ele está pronto? Então, é como se aquele pino fosse o seu sentimento. Como assim? Vamos entender.
Nós já nascemos com a possibilidade de sentir, mas o abismo que há entre o que nós sentimos e o nome que existe para cada sensação precisa de uma ponte. Aprender a utilizar as palavras “frio”, “fome”, “sede” (adequadamente) precisou ser mediado pelas pessoas que passaram pela sua vida, foi aprendido, aí está a tal ponte. Ok, essa parte é simples. Mas e os sentimentos? A gente consegue nomear sentimentos tão bem quanto sensações?
O que a gente chama de medo, raiva, alegria (sentimentos) são indícios de relações que já vivemos, são ao mesmo tempo descrições de estados corporais identificados a partir de relações atuais, ou seja, de nosso comportamento. A pessoa que cresceu em um ambiente hostil e opressor tem elevada probabilidade de viver a vida adulta se relacionando com pessoas ou situações como se ainda estivesse sendo castigada e seu comportamento afastará as pessoas – afastando-as, experimentará sentimentos ruins.
Ah, espera, o que me faz sofrer, então é o meu passado? Não, o que te faz sofrer não é o seu passado, e também não está dentro de você, o que te faz sofrer são as consequências do seu comportamento, como você tem lidado com o que te acontece. O que sentimos só serve como termômetro, não como causa. O termômetro não é causa da temperatura, ele apenas te avisa sobre a relação entre “a temperatura e a carne do peru”.
O que deve mudar não são nossos sentimentos, o que deve mudar são nossas relações com o mundo. O que sentimos não são nossos principais problemas, são apenas os termômetros de nossas relações, nós não choramos por que estamos tristes, nós choramos por que alguma coisa aconteceu, e aprendemos a nomear como tristeza.
Guilherme Poiani é psicólogo clínico, especialista em Neuropsicologia e Saúde Mental. Atende na CLINIMED – Saúde Integrada, na rua Estilac Leal 77 – Rolândia. O fone é o (43) 3255-1717.