Memórias do Padre Zé
Observando atentamente os documentos históricos guardados no arquivo paroquial, reparei que na planta original da Igreja Matriz São José já constava a torre dos sinos, que nunca foi construída. A Planta era assinada pelo engenheiro Dr. Eugênio de Proença Sigaud do Rio de Janeiro, que era irmão do então Bispo de Jacarezinho, Dom Geraldo de Proença Sigaud, em 1948. Conheci também alguns dos antigos integrantes da Comissão da Igreja que tinham acompanhado de perto os trabalhos do 1º Vigário, Padre José Herions, como também do 2º Vigário Padre Carlos Bonetta. Estes comentavam que o Padre Herions queria construir uma igreja em estilo gótico, igual aquelas que tem na região da Alemanha donde ele era originário. O Bispo, porém, achava um absurdo “uma igreja gótica no meio do mato” e, então, pediu ao irmão dele engenheiro que fizesse planta em estilo colonial/barroco muito grande e com muitos detalhes de arquitetura “para o povo não conseguir construir”. Aí, começou aquela disputa entre o Bispo e a Comissão da Igreja. O padre, junto com a Comissão, formou mutirões com os moradores das Capelas rurais, foram eliminando detalhes do estilo barroco, inclusive a torre, e a igreja foi inaugurada, ainda inacabada e sem a torre, no dia 1º de maio de 1955. Depois, vieram o reboco interno, o piso, o forro, os vitrais, a via sacra, etc… Mais tarde chegou o Padre Carlos com novos planos: casa para as Irmãs Franciscanas, escola, creche, asilo, capelas… e a torre foi ficando.
O tempo foi passando e o povo dizia que em Londrina tem torre, em Cambé tem torre, em Astorga tem torre, em Arapongas e Apucarana tem torre… e em Rolândia não tem. E foi crescendo a esperança de dotar a igreja Matriz com uma torre adequada ao seu estilo. Os jovens Rodrigo Della Rovere e Maurício Picotti conseguiram elaborar um panfleto muito bem feito, divulgado em 2008, que despertou o interesse do povo e repercutiu positivamente a possibilidade da construção da “torre dos sinos” na entrada principal da igreja Matriz, mudando radicalmente a fachada deste majestoso templo, atração turística referencial da nossa cidade. Claro que, algumas pessoas criticaram este projeto, alegando que seria melhor gastar o dinheiro em projetos sociais. Infelizmente, quem criticou nunca havia colaborado com os tantos projetos sociais que já tínhamos na Paróquia. Assim, foi formada dentro do Conselho Econômico Paroquial uma “Comissão da Construção da Torre” coordenada por José Antônio (Nico) Vanzella e integrada por Edson Pereira de Souza, Arlindo Armacollo, José Carlos (Zeca) Salgueiro, Nilson Giraldi, Marcelo Abrunhosa e Marcelo Vanzella. Alunos da engenharia com seu professor Antônio Zani da Universidade Estadual de Londrina elaboraram o ante-projeto, estudando todos os detalhes. E encetamos uma grande campanha de arrecadação de fundos entre empresários, negociantes, agricultores e povo em geral. E ficamos surpreendidos com a colaboração generosa do nosso povo, até mesmo rolandienses que estão morando em outros Estados mandaram, via bancária, sua colaboração. E o Nico Vanzella, admirado e feliz com esta resposta do povo, comentava: “realmente nosso povo estava esperando esta obra grandiosa em nossa Matriz”. A pedra fundamental foi lançada no dia 18 de março de 2012 e a torre foi concluída dois anos mais tarde, no dia 19 de março de 2014.
No dia da inauguração, houve grande festa com os 5 sinos repicando harmoniosamente para mais de oito mil pessoas, extasiadas na praça da Matriz. Eis o que o Arcebispo Metropolitano Dom Orlando Brandes deixou registrado no livro “Tombo” da Paróquia São José:
“Hoje, festa de São José, presidi a solene celebração durante a qual foram inaugurados e torre da Igreja e os novos sinos. A torre era prevista na planta original, mas por razões históricas, foi solenemente inaugurada neste dia. A Igreja Matriz de Rolândia estava repleta de povo, religiosos, visitantes e convidados. Concelebraram padres malteses e muitos sacerdotes da Arquidiocese de Londrina. A meu lado, concelebraram o Cardeal Dom Geraldo Majella Agnelo e Dom Albano B. Cavallin, Arcebispo Emêrito de Londrina. O qual proferiu profunda e tocante homilia. Dois Corais abrilhantaram a celebração com um grupo de cantores que animava a participação do povo. No Ofertório, foram levados até o presbitério as fotos dos párocos anteriores. No final da celebração, o pároco Monsenhor José agradeceu a presença de todos e trouxe uma memória histórica da paróquia. Em seguida, apagaram-se as luzes da igreja, foram acesas velas que o povo segurava nas mãos para o canto solene de gratidão e louvor “Te Deum Laudamus” (A Ti, ó Deus louvamos). Após a bênção final, aconteceu a inauguração dos sinos e a bênção da torre com minha mensagem à multidão presente e ao som do Hino Pontifício. As festividades foram concluídas com uma queima de fogos de artifício que, além de bonitos e festivos, era originais em sua coreografia. E, mais uma vez, experimentamos a ardorosa ação pastoral do nosso Mons. José Agius, sua alegria contagiante, seu vigor missionário, sua capacidade administrativa, dons provenientes de sua fé, oração e vida interior. Todos admiramos sua jovialidade, criatividade e ousadia apostólica. Tudo isso comprova seu grande amor pela Igreja de Jesus Cristo e por Rolândia”.
Também o Senhor Cardeal Dom Geraldo Majella Agnelo deixou registrada uma linda mensagem:
“Estamos encerrando mais um dia de festa em homenagem ao glorioso padroeiro desta paróquia dedicada a São José. Como podemos ver, aqui com fiéis cristãos, orgulhosos por terem construído uma cidade que se destaca pela sua fé em Cristo, nós Bispos bem conhecemos o dinamismo das comunidades que se formaram já a partir da fundação da cidade. Os primeiros cidadãos de Rolândia, pioneiros, foram imigrantes ou filhos de imigrantes de origem alemã, italiana, portuguesa, espanhola, libanesa e japonesa. Com pequenas exceções, a maioria destes pioneiros traziam dentro de si uma tradição de fé cristã, convicta e dinâmica. O Brasil inteiro foi evangelizado por pessoas que souberam aproveitar o impulso da fé cristã para espalhar por todo canto estruturas inspiradas para dar conforto aos mais fracos e sustentar a fé de cada um e cada uma. Isso explica porque o número de escolas, igrejas, entidades sociais voltadas para os pobres, que até hoje caracterizam a cidade. Bem no comecinho eram os leigos que se organizaram em pequenas comunidades (Capelas rurais), depois apareceu um ou outro padre que recebia do Bispo de Jacarezinho o convite ou mesmo sói a autorização para administrar os Sacramentos. A eles se somaram os religiosos e as religiosas de diferentes Congregações, vindos de outros países, aqui trazidos pelo carisma missionário. Nós, Bispos somos testemunhas do trabalho realizado nesta região de Rolândia por leigos cheios de fervor e solidariedade, por religiosas amigas de crianças e idosos, de pobres e doentes. A escolha de São José para padroeiro da cidade revelou-se acertada porque todo cristão rolandiense sempre sentiu a proteção do guardião da Sagrada Família e da Igreja Nascente”.