Memórias do Padre Zé
Uma obra caritativa que tinha chamado minha atenção logo que cheguei em Rolândia, no mês de dezembro de 1961, foi, exatamente, a ‘Creche São José’, que funcionava do outro lado da Igreja Matriz (onde hoje se localiza a Casa Paroquial), sob a tutela da Associação das Damas da Caridade. A diretora era a dinâmica Irmã Scolástica Grech, da Congregação das Irmãs Franciscanas, a qual, por sinal, era da mesma região de Malta como eu, a Ilha de Gozo. Era a única Creche de Rolândia naquele tempo, obra que tinha nascido da sensibilidade social do inesquecível segundo pároco, Padre Carlos Bonetta, aos 2 de junho de 1961. Abrigava 40 crianças provenientes de famílias cujas mães trabalhavam como empregadas domésticas ou nas lavouras de café e não tinham com quem deixar seus filhos durante o dia. Eram mantidas com doações de cereais e frutas que os sitiantes traziam generosamente.
Ao completar 30 anos de funcionamento ininterrupto, organizamos uma digna e solene comemoração. Até mesmo porque, neste meio tempo, a Creche São José transferiu-se para um terreno mais amplo e adequado na saída para Caramuru, que tinha sido adquirido pela Sociedade São Vicente de Paulo (Vicentinos) e construído conjuntamente pela Paróquia e Lions Club de Rolândia. A comemoração ocorreu no dia 2 de junho de 1991 no pátio em frente da Creche e se iniciou com a Banda do 15º Batalhão da Polícia Militar executando o Hino Nacional. Estiveram presentes diversas autoridades municipais e diversas “damas” do passado. A senhora Sônia Haddad Perazolo, esposa do então prefeito José Perazolo, e eu hasteamos as bandeiras do Brasil e do Papa e, em seguida, a secretária da Associação, Luzia Sella Vanzella, leu um breve histórico da Creche e agradeceu a todos aqueles que colaboraram no decurso daqueles 30 anos.
O então deputado estadual Eurides Moura pronunciou brilhante discurso no qual enalteceu o valor desta obra e lembrou que ele próprio conduziu, anos atrás, a construção do atual prédio em nome do Lions Club. Finalmente, a nova Creche foi inauguração invocando a bênção de Deus sobre todas as entidades que ajudaram nesta obra caritativa. O monumento/lembrança com a imagem de São José foi doado pelos Vicentinos. Madre Brígida Nepa, superiora das Irmãs Franciscanas, agradeceu a todos pela colaboração que sempre foi dada às Irmãs que cuidam com muito carinho e amor das crianças.
No dia 17 de maio de 1994, a diretoria da Associação das Damas da Caridade, mantenedora da Creche São José, comunicou as seguintes alterações: a Associação das Damas da Caridade passou a se chamar de “Associação das Voluntárias da Caridade”; e a Creche São José, “Educandário São José”. As modificações foram decididas em assembléia geral para atender a legislação governamental em vigor, elaborando-se, inclusive, novo estatuto que se encontra em fase e registro. A incansável presidente Luzia Aparecida Sella Vanzella e sua abnegada secretária, Antônia Gimenez Manganotti, agradeceram a todos quantos colaboraram com a mencionada Associação e apresentaram as novas sucessoras nas pessoas de Creuza Trevizan como presidente e Célia Silveira como secretária.
No dia 3 de agosto de 1994, foi inaugurada a “Oficina do Trabalho Mons. José”, recentemente construída ao lado do Educandário São José e da Legião Mirim de Rolândia com a presença de muitas autoridades, entre os quais o prefeito Leonardo Casado, seu vice Ernesto Nogueira, a Superiora das Irmãs Franciscanas, Madre Brígida Nepa, a diretora do Colégio Santo Antônio, Irmã Izabel Dangió e padre Jorge Grima, fundador e coordenador do Movimento Missionário “Jesus no Próximo”, de Malta, que tinha financiado a construção das respectivas salas. A Oficina recebeu este nome como homenagem aos meus 25 anos de exercício sacerdotal em Rolândia. Também fui eu que tinha feito contato com o Padre Jorge e consegui seu auxílio para esta nova construção. E, com muita alegria, o Padre Jorge procedeu com a bênção do local. Finalmente, eu apresentei a D. Luzia Sella Vanzella como coordenadora da Oficina, a qual detalhou os cursos já em andamento: serigrafia, malharia, corte e costura, cozinha experimental, bordado, tricô. Crochê e horticultura, somando esforços com a Legião Mirim.
Com o passar do tempo, a demanda foi aumentando e os recursos diminuindo. Foi um tempo de mudanças sociais a nível nacional. Tínhamos que adequar nosso sistema de trabalho social às exigências federais. Me lembro das preocupações constantes das respectivas diretorias das Voluntárias e, principalmente, da Irmã Giovanna Callus, diretora do Educandário e seus esforços para mantê-lo em pé. Por outro lado, começaram a surgir os Centros Municipais de Educação Infantil –CMEI, ligados à área da Educação. Finalmente, o Governo Federal começou a se interessar por aquilo que era dever dele. Aí pensamos em fazer parceria com o Poder Público e passar o Educandário à administração Municipal em forma de aluguel a ser pago à proprietária do terreno, a Sociedade São Vicente de Paulo. Assim, no dia 19 de março de 2010, após missa solene de São José, o Arcebispo Dom Orlando Brandes e o Prefeito Johnny Lehmann assinaram o “Termo de Parceria” entre Cáritas Paroquial (SSVP, Voluntárias da Caridade, ONG SOAME) e Prefeitura Municipal (Secretarias de Educação e de Ação Social). Foi uma parceria benéfica e salutar porque, em pouco tempo, houve muitas reformas no novo CMEI São José e o número de crianças atendidas subiu para 300 (trezentas).