Por Samuel M. Bertoco
Num desses infelizes acasos, em menos de um mês venho aqui falar mais uma vez da morte de um gigante da música brasileira. Depois de Gal, dessa vez foi Erasmo Carlos que nos deixou. Erasmo foi, em sua parceria com Roberto, um dos maiores compositores que nosso país já viu. Também foi, junto com Roberto e aí mais uma galera, fundador da Jovem Guarda, um dos maiores movimentos musicais que nosso país já viu. Era grande, ele tava lá.
Eu pensei em fazer a coluna parecida como fiz a da Gal, com algumas músicas marcantes de sua carreira. Mas é impossível, tanto pela quantidade como pela dificuldade em escolhê-las. Bom, falar de Erasmo é falar de Roberto, é quase uma simbiose. Alguns acham que é uma relação meio Cyrano de Bergerac, onde Erasmo – o feio, porém poeta – passava poesias para Roberto – o galã sem criatividade – declamar para sua amada. Nada disso, Roberto tem tanto talento para composição quanto Erasmo arrasou corações. Mas, sim, em suas músicas, é muito, mas muito difícil dissociar o que é de um, o que é de outro e o que é dos dois.
Mas eles não são iguais, e, apesar das músicas serem as mesmas, a grande conquista pessoal de Erasmo – dita por ele mesmo – foi conseguir se manter, como cantor, autêntico ao que ele era. Nada de ternos e flores pras mocinhas, e sim jaquetas de couro e correntes. Isso talvez tenha custado o sucesso comercial que seu grande amigo fez, mas ele não se importa. Se manteve relevante se mantendo ele mesmo.
Em suas músicas com Roberto, Erasmo vendeu milhões, tem composições históricas e atemporais. Mas o que mais impressiona em suas composições é a capacidade de se conectar com as pessoas, é simplificar o amor. É poesia, mas é a poesia da vida, do dia a dia. Milhões e mais milhões de pessoas se apaixonaram, brigaram, beijaram, romperam, sofreram e seguiram a vida nas canções de Erasmo.
Samuel M. Bertoco é formado em Marketing e Publicidade