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Errou? Tente de novo!

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Por Monsenhor José Ágius

Nossas escolhas nem sempre são fáceis. Quando o que está em jogo é a nossa felicidade ou a realização de um desejo muito forte, uma escolha errada pode pôr tudo a perder. Diz o ditado que “quem não arrisca não petisca”, mas há circunstâncias em que a melhor opção pode ser justamente não arriscar. O mundo atual muitas vezes nos leva a fazer escolhas erradas. Daí a necessidade de constante discernimento, de ponderar as coisas e de rever posições, pois obstinar-se no erro traz consequências ainda piores do que errar uma vez. Mesmo quando erra, o ser humano pode refazer a sua escolha.

Discernir, porém, nem sempre é fácil. Muitas vezes erramos em nossas escolhas justamente por não conseguirmos discernir o que é melhor. Somos maduros quando conseguimos rever os erros e tentamos acertar. Dizia Santo Agostinho que nós não escolhemos o mal pelo mal, mas que exercemos mal o nosso livre arbítrio e acabamos errando.


Mas poderá o próprio ser humano, ainda que aprendendo com seus erros, conseguir evitar totalmente o mal? Mais ainda: poderá ele consertar o mal que já fez sozinho? A fé bíblica nos faz afirmar que sem a orientação e a ajuda de Deus, nós não conseguiremos ser felizes e tampouco conseguiremos consertar o estrago que já fizemos com nossos erros. A trajetória do povo de Israel na Bíblia nos indica que, contrariando as mais pessimistas previsões humanas, Deus não desiste de salvar o ser humano. Ele não deixa a humanidade à mercê de sua própria sorte, abandonando-a para que ela se dane, já que é o que Ele escolheu. Salvá-la é a única forma de continuar o seu projeto. Deus até poderia deixar que tudo se acabasse e voltasse ao caos; poderia pôr fim à aventura da vida. Estaríamos perdidos para sempre. O que é que faz Deus optar por continuar? Jamais entenderemos o que se passa em Deus! É um mistério insondável! Se pudermos ao menos confiar que Ele fez a escolha certa, temos um parceiro para realizar nossa vocação à felicidade.


No evangelho escrito por Lucas, capítulo 4, versículo de 1 a 13, Cristo manifesta sua solidariedade ao povo sofrendo as mesmas tentações que se abatem frequentemente sobre nós também. Vivemos nesta constante luta contra as forças que nos impelem na direção contrária à que Deus gostaria que fôssemos. São as forças ditas demoníacas, que o livro do Gênesis simbolizou na serpente. Estas forças agem tanto dentro quanto fora de nós. São aquelas vozes que nos confundem e nos fazem acabar por escolher o que não nos realiza, mas ao contrário, nos afasta de Deus e de seu projeto.


As três tentações de Cristo se referem àquilo que mais desperta o desejo humano: a primeira é satisfazer as próprias necessidades (transformar as pedras em pão para matar a fome); a segunda é estar isento de sofrer de sofrer qualquer dano físico (jogar-se do alto abaixo e não ferir-se): e a terceira é ser rico, famosos e poderoso (possuir os reinos do mundo e suas riquezas). Em si mesmas estas não são coisas más. A questão é a serviço de que e de quem estes desejos são orientados. O evangelho nos revela que podemos distorcer o sentido de um bem real, de algo que é bom, a ponto de idolatrarmos esse bem, tornando-nos escravos de nossos impulsos, de nossos desejos e perdendo o sentido de nossa vida. Jesus nos mostra que nossos anseios podem ser canalizados para o projeto de Deus, rejeitando toda manipulação que escraviza a nós e aos outros. Ele nos mostra que somos capazes de rejeitar o mal quando nos orientamos pela Palavra de Deus. Sabendo escolher, com discernimento, com clareza, com coragem e confiança em Deus, podemos evitar que o mal domine em nossas vidas e neste mundo. Muitas vezes a realização pessoal não pode ser a única razão para se escolher algo. Temos de pensar também na realização do coletivo, pois o futuro de muitos depende também de nós.

Monsenhor José Ágius

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