Jesus disse ‘sim’

Por Monsenhor José Ágius

Nosso catecismo básico diz que Jesus morreu para nos salvar. Difícil é explicar porque ele teve que morrer. Dizer que é “porque Deus quis assim” não explica nada. Ao contrário, leva a pensar que Deus devia ser muito mau para querer isso para seu próprio filho! A pequena história a seguir serve para introduzir a questão da relação da morte de Jesus com a sua missão de nos salvar:


Um pai estava passando férias com a família na praia. O pai e o filho mais velho ficaram tomando sol na areia, enquanto a meninada foi aproveitar as ondas. De repente o clima mudou e o mar ficou agitado. As crianças começaram a se afogar. O pai, então, que não sabia nadar, gritou para o filho mais velho: “Salve os seus irmãos!” Ele foi, levando uma boia, enfrentou as ondas e conseguiu recolher todos, fazendo-se apoiar-se na boia. Mas aí veio uma onda enorme, muito forte, que ia pegar a todos. O rapaz, então nadou com todas as suas forças, empurrando a boia para a praia. Ele não queria decepcionar o pai, precisava salvar as crianças. Aí, enquanto empurrava a boia, a onda o pegou e o arrastou para o fundo. As crianças foram salvas, mas o jovem morreu afogado. Reunidos na praia, todos choravam muito. O pai também chorava, mas consolava a si e aos outros filhos dizendo: “Ele é um herói! Mandei-o salvar vocês e ele conseguiu, mesmo perdendo a sua vida.”


O significado da morte de Cristo para nós hoje está claro: ele morreu para nos salvar. Veio “para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (João 10,10) e assumiu esta missão até as últimas consequências, morrendo por nós. Mas a morte de Jesus de um modo tão violento nos causa espanto.

Por que aconteceu isso com ele? A ideia de que o Cristo Salvador, quando viesse, fosse condenado e morto era impensável para o povo da época bíblica. Tanto que os discípulos não compreendiam quando Jesus tocava nesse assunto (Lucas 9,45) e Pedro chegou até a repreender Jesus por pensar assim! (Marcos 8,32). Ninguém podia imaginar que Deus fosse concordar com isso. Matar o Escolhido de Deus significaria vencer o próprio Deus, desfazendo seus planos. Na visão comum das pessoas, Deus teria que reagir, teria que defender o seu Ungido, para que ele pudesse realizar a sua missão. Como o Messias poderia salvar, se nem sequer a si mesmo conseguisse salvar? Esta questão com certeza inquietou muito as pessoas que viram Jesus morto na cruz. Enquanto ele estava vivo, todos os que haviam acreditado nele deveriam esperar ainda por alguma reação. Talvez pensavam: Quem sabe ainda um milagre ainda vai acontecer? Quem sabe ele vai sair da cruz?” Mas… nada acontecia! O tempo passava e Jesus ficava cada vez mais ofegante na cruz. A morte rondava cada vez mais perto, enquanto a esperança de uma possível reação também ia morrendo no coração dos discípulos.


Certamente não foi fácil para os discípulos acreditar naquilo que estavam vendo: Jesus, o homem em quem eles depositaram toda a confiança e por quem tinham deixado tudo, estava ali, morto na cruz! Como foi possível isso? É compreensível que tenham ficado confusos e até decepcionados. Mas nem todos os discípulos reagiram da mesma forma. A mãe de Jesus e o “discípulo amado” estavam lá, “junto à cruz”, com outras mulheres. Elas representam as discípulas e discípulos que ficaram solidários com seu Mestre, acreditando que seu gesto solidário pelo menos aliviaria a dor de um homem que deu tudo por eles, até a sua própria vida. Era o mínimo que poderiam fazer naquele instante. O verdadeiro significado da morte de Jesus, porém, veio algum tempo depois. Com sua gloriosa Ressurreição!

Monsenhor José Ágius

Picture of Monsenhor José Agius Monsenhor

Monsenhor José Agius Monsenhor

Compartilhe:

Facebook
Twitter
WhatsApp
Email

VEJA TAMBÉM:

Religião

Como escapar

Por Humberto Xavier Rodrigues O propósito eterno de Deus é o Seu Filho. Para tal, Deus tem como objetivo reunir todas as coisas na Pessoa

Cultura

Senna

Por Samuel M. Bertoco Primeiro um off: Tá rolando na internet uma espécie de “cancelamento” do Senna, algo “como podem achar um piloto de F1

literatura

Um tesouro quase de ouro

Sobrelinhas – por Raquel Lopes Rondina Quando ouvimos falar em tesouro, geralmente pensamos nas histórias de piratas com baús, joias, moedas, colares de pérola, mas…