Sobrelinhas – por Carla Kühlewein
Definitivamente a literatura não tem limites quando o assunto é criatividade. Imagine você que para tratar de um assunto delicado (como adoção) a escritora Dione Navarro criou uma história pra lá de inusitada, regada a mistério, detetive e muita animação que resultou no livro ‘O mistério do pote amarelo’, divertidamente ilustrado por Laqua e Wagner Muniz.
Acontece que o tal Pote Amarelo é o companheiro fiel de Juninho, “um lindo menino de sete anos, que tinha ficado órfão e que tia Su esperava adotar um dia” e juntos firmam uma parceria tão especial que nos faz lembrar dos tempos da infância, quando acreditávamos que os objetos tinham vida:
“- Tia Su, sabia que até o mingau de aveia fica mais gostoso nesse Pote Amarelo? Acho que ele é mágico! Deixa tudo mais gostoso.
E o Pote Amarelo sentia-se cada vez mais faceiro por estar cumprindo sua missão, que era agradar e cuidar de Juninho.”
Seria esse então o mistério do livro? Não mesmo! Antes de mais nada, é importante você saber: o Pote Amarelo era descolado e um solteirão convicto, mesmo assim causou uma ótima impressão assim que chegou:
“Quando aquele pote amarelo chegou ao armário da tia Su, foi o maior reboliço. Brilhando como um sol, entrou garbosamente, feito um príncipe. As jovens donzelas, as xícaras, que já estavam com seus enxovais prontos, esperando um bom partido, suspiravam todas ao mesmo tempo”.
Para elas, o bonitão da praça tinha um mistério: “Às vezes, do nada, ele desaparecia! Sumia! E ninguém sabia para onde ia. As xícaras candidatas a noivas ficavam muito intrigadas com seu sumiço, e já rolava fofoca no armário:
— Com certeza, ele foi namorar com a taça de champagne! — diz a xícara azul.
— Claro, né! Ela é toda transparente com aquele vestido esvoaçante — diz, com ciúme, a xícara verdinha, já meio desbotada.”
Assim o livro segue numa sequência deliciosa de fatos inusitados: primeiro descobrimos que o Pote Amarelo não só tem vida, mas também é um galã, depois, percebemos que o mistério do livro gira em torno dos sumiços dele e, enfim, somos surpreendidos por outra personagem, a abelhinha Zum Zum, contratada pelas próprias xícaras para investigar o caso. Tem como um mistério ser mais animado? (Cá entre nós, a história é baseada em fatos reais, a própria autora revela isso no final do livro, confere lá!).
O livro “O mistério do pote amarelo” está disponível na Biblioteca Gralha Azul, organizada pela Editora ABC. O acervo é digital, gratuito e composto por escritores e ilustradores paranaenses.
Para ouvir/ler basta acessar o link (que foi encurtado):
Carla Kühlewein é graduada em Letras Vernáculas e Clássicas (UEL), Mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada (Unesp) e Doutora em Literatura e Vida Social (Unesp).
