Por Monsenhor José Ágius
Encontramos no Evangelho escrito por Lucas, capítulo 9, versículo 62, estas palavras intrigantes: “Aquele que põe a mão no arado e olha para trás não é apto para o Reino de Deus”. Palavras que mexeram comigo quando, aos meus 18 anos, estava querendo optar pela vocação missionária. Afinal, era a época depois da segunda guerra mundial que havia arrasado com a vida pacata na minha terra natal e muitas famílias buscavam vida melhor na emigração para outros continentes.
Alguns dos meus familiares já tinham emigrado para a Austrália, incluindo meu pai, o qual tinha a intenção de levar toda sua família mais tarde. Portanto, o mais consequente teria sido acompanhar minha família para a Austrália. Me pareceu, entretanto, que a Austrália era lugar para trabalhar e ganhar dinheiro e não lugar para implantar o Reino de Deus. Foi quando entrei no Seminário Maior, em 1958, que fiquei sabendo que a América Latina precisava de sacerdotes para testemunhar o Evangelho em sua imensidão territorial e o Bispo Guzeppi Pace me indicou o Brasil, país que não sabia onde ficava e do qual nunca tinha ouvido falar. Então, pensei: é exatamente aí, quero ser missionário, não posso olhar mais pra trás… agora é só olhar pra frente!
De fato, nós, religiosos e religiosas, deixamos tudo para nos dedicar ao anúncio do Reino de Deus. Contudo, a maneira como o fazemos varia conforme o Espírito de Deus nos mostrar, por meio de nossos superiores, conforme Deus lhes mostra pelos acontecimentos do dia a dia e pelas pessoas que encontramos em nosso caminhar. Pensa-se, em geral, que proclamar o Reino de Deus é falar em publico e comover as multidões com a força dos argumentos proferidos. Entretanto, isso se dá também pelos que cuidam dos trabalhos domésticos: por exemplo, a mãe que, com muita dedicação, passa seu tempo a serviço de toda família. Também o eloquente exemplo de quem estejam sofrendo horrores em seu leito de enfermidade, oferecendo seu sofrimento em favor das demais necessidades da humanidade.
Dessa forma, importa o amor que se coloca nas ações que Deus faz por nosso intermédio, sendo elas realizadas por um afamado pregador ou por um simples pai de família. Ambos, para bem desempenharem-se na missão que o Senhor lhes confiou, primeiro precisam estar cientes de que são simples instrumentos de Deus no anúncio do Evangelho e de que devem rezar para que Deus lhes seja sua força, independentemente da natureza de seu trabalho na messe do Senhor. Uma vez recebida a missão das mãos de Deus, ela deve ser amada.
Monsenhor José Ágius