Por Carla Kühlewein
O que você faria se encontrasse uma nota de cinquenta reais no chão? Procuraria encontrar o dono (se é que isso é possível) ou discretamente embolsaria (afinal cédula não tem endereço)? Uma dica de resposta à tão intrigante questionamento é oferecida no livro ‘E algo aconteceu naquele dia…’, de Jonas Ribeiro. E aí você pode até se perguntar: mas como, bolotas, uma história infantil poderia responder a uma pergunta dessas?
Calma lá, que tudo se ajeita… O livro começa com a façanha do menino Nicholas que encontra uma nota de cinquenta reais caída no pátio da escola e a entrega para Sandra, a coordenadora. Ao sair da sala, ele fica satisfeito com sua atitude. Enquanto a coordenadora:
“nem percebeu que Nicholas havia plantado uma invisível flor de esperança sem seu coração. Ela sentia que estava muito feliz. E algo aconteceu…”
Logo em seguida, Sandra pega um livro da bolsa e o entrega à amiga Dulce, que enfrentava o desafio de lidar com as novas condições do pai com Alzheimer. E não é que Dulce também sentiu algo diferente no gesto da amiga?
“Ela sentia apenas que estava muito feliz. Sugeriu à mãe que se deitasse um pouco e deu um banho no pai. Depois, sentou-se com ele. Abriu o livro e começou a ler em voz alta. […] Ficaram entretidos com a leitura por um bom tempo. O dia entardeceu. E algo aconteceu…”.
Então Dulce fez um bolo e o ofereceu ao primo Guilherme, que deu um pedaço a um mendigo, que o repartiu com sua família… e uma sequência de gentilezas acontece até atingir um final surpreendente (vale a pena conferir no livro!). De alguma forma, a história que começou com um gesto simples gera uma série de outros que resultam em efeitos grandiosos.
Como diria o poeta popular José Dautrino: “gentileza gera gentileza”. No fim das contas, quando a gentileza acontece, convém retribuir.
Carla Kühlewein É graduada em Letras Vernáculas e Clássicas (UEL), Mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada (Unesp) e Doutora em Literatura e Vida Social (Unesp).