Sinal de contradição

Monsenhor José Agius (in memoriam)

Ainda me lembro perfeitamente que as mães de antigamente, após o nascimento dos filhos, costumavam guardar 40 dias de dieta, durante os quais não comiam carne de porco, não lavavam a cabeça, não faziam trabalho pesado e não saíam muito pra rua. Passados os 40 dias, terminava a dieta e pai e mãe, juntos, levavam a criança à igreja para a “apresentação”. De onde vinha este costume piedoso? Era exatamente um costume inspirado na narrativa do evangelista São Lucas 1,22-40: Quarenta dias após o nascimento de uma criança, a mãe deveria passar por um ritual de purificação, segundo a Lei de Moisés. Assim Maria, acompanhada de José e levando o menino, foi a Jerusalém para, no templo, cumprir o preceito legal. No templo, encontram Simeão, um homem justo e piedoso. Tomando o menino nos braços, Simeão entoou um hino a Deus, onde profetizava que Jesus vinha como salvação para todos os povos e luz para as nações. Após entoar o hino, dirige-se a Maria, revelando-lhe que o menino está presente no mundo como um sinal de contradição, para a queda e soerguimento de muitos. À seguir, ainda em tom profético, diz a Maria: “Este menino será causa de queda e reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição, e a ti, uma espada traspassará tua alma!”


Concluindo sua narrativa, Lucas declara que depois de cumprirem o ritual da apresentação eles voltaram para Nazaré. O menino foi crescendo, ficando forte e cheio de sabedoria e a graça de Deus estava com ele. Simeão representa o “velho” que se renova ao encontro do “novo” que surge. É o abandono de uma religião excludente que cultua o poder, para o acolhimento do Deus do amor que acolhe os simples e humildes.


Uma das características marcantes de Jesus, em seu ministério, foi o conflito com as tradições da Lei e com os chefes religiosos do judaísmo. Com Jesus temos uma subversão dos valores tradicionais que vigoram nas culturas e sociedades, divididas entre grupos privilegiados e grupos empobrecidos. Jesus vem como a luz do mundo, fazendo-se presente entre todos, comunicando-lhes esperança e vida plena, vivendo na fraternidade.

Monsenhor José Agius
(in memoriam)

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