Entrelinhas – Por Carla Kühlewein
Imagine que, em meio à correria frenética do dia a dia, uma criança resolva parar e lhe observar com insistência. Você, com seus crescentes, múltiplos, intermináveis problemas pra resolver e a única coisa que o “serumaninho” quer é fazer amizade. Essa é a cena inicial da obra clássica de Saint-Exupéry “O pequeno príncipe”: com o avião quebrado no meio do nada, um piloto se vê obrigado a dividir seu tempo entre consertar o estrago e tagarelar com o menino loiro de voz doce.
Apesar de morar e reinar sozinho em um planeta, onde cultiva com cuidado uma rosa, o Pequeno Príncipe, em essência, é uma criança como tantas outras, iniciando a longa jornada da vida. Agarrado em cometas, vem parar no Planeta Terra e logo faz amizade com o piloto, único adulto com quem conversa o livro todo. Além disso torna-se amigo de uma raposa, que traz ensinamentos importantes (provavelmente você já tenha visto algum):
“— Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.
— O essencial é invisível aos olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
— Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
— Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa… repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
— Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.”
Ironicamente, é a criança que ensina o adulto da história (e a nós, leitores) a importância de se cultivar relações, tornando-as realmente significativas. Foi preciso que algo fizesse o piloto parar por um instante para que ele passasse por uma das experiências mais importantes de sua vida…
O final dessa história fica pra você conferir (caso ainda não conheça). O fato é que as reflexões desse clássico da literatura continuam atuais. Afinal, cultivar relações em tempos de tamanha efemeridade pode nos levar a descobrir a verdadeira essência do que é ser humano.
Valeu a dica, Pequeno Príncipe!
Carla Kühlewein É graduada em Letras Vernáculas e Clássicas (UEL), Mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada (Unesp) e Doutora em Literatura e Vida Social (Unesp).