Uma princesa firme…

Sobrelinhas – por Beatriz Araujo Batista

Procurando firme (1984) de Ruth Rocha

Quando pensamos em histórias infantis, é quase automático que nos lembremos dos tão conhecidos contos de fadas. Histórias que, na maioria das vezes, relatam as aventuras de belas princesas, bravos príncipes, dragões ferozes e lindos finais felizes.


Porém, em um belo dia, a ousada e questionadora escritora de livros infantis Ruth Rocha resolveu reescrever a antiga história de alguns personagens tão clássicos dos livros infantis.


A Ruth faz isso em várias obras, mas a que destaco hoje é Procurando firme (1984), uma história que já começa diferente: com uma conversa entre duas personagens apresentando a trajetória de dois irmãos, um príncipe e uma princesa chamada Linda Flor. Só que essa princesa, diferentemente das outras, deseja fazer algo mais do que simplesmente esperar por um príncipe…


No estilo contestador da Ruth (que é mesmo uma “rocha”), o livro questiona o velho padrão da sociedade em delegar à mulher duas funções básicas: casar-se e servir ao marido. Corajosa, ela quebra padrões, começando pelo jeito de se vestir: “E as roupas de Linda Flor? Ela não usava mais aqueles lindos vestidos de veludo com entremeios de renda e beiradas de arminho que a gente vê nas figuras dos contos de fadas. Ela agora estava usando… calças compridas!”. Linda Flor, teimosa como ela só, ainda resolve fazer “coisas de menino”, como aula de esgrima, berro, corrida e sair pelo mundo (como ela mesma diz):


“É isso mesmo, correr mundo! […] Eu estou muito cansada de ficar neste castelo esperando que um príncipe qualquer venha me salvar. Eu acho muito mais divertido sair correndo mundo como os príncipes fazem. E se eu tiver que casar com alguém eu encontro por aí, que o mundo é bem grande e deve estar cheio de príncipes pra eu escolher.”


A história é um prato cheio para aqueles que gostam de fugir do que é esperado e se enche de coragem para enfrentar seja lá o que for! Afinal, se pensarmos bem, ninguém precisa esperar pelo que se deseja, o importante mesmo é procurar firme.

Beatriz Araujo Batista é graduanda do Curso de Letras Português da Universidade Est. de Apucarana (Unespar)

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