As policiais militares do 15º BPM de Rolândia falam sobre a importância de haver mulheres no setor e em qualquer outra área que queiram

Palavras como proteção e segurança, na maioria das vezes, sĂŁo relacionadas ao universo masculino. Logo, instituições como a polĂcia, bombeiros e exĂ©rcito sĂŁo quase sempre associados como sendo profissões predominamente masculinas. Mas essa realidade vem mudando já há alguns anos. Tem sido cada vez mais natural ver mulheres na polĂcia, seja no meio operacional ou em posições de gestĂŁo e comando. Mesmo ainda em minoria, elas estĂŁo ocupando seus lugares de direito em diversos setores da sociedade. Hoje, o 15Âş BatalhĂŁo de PolĂcia Militar de Rolândia tem 21 mulheres – o JR conversou com algumas delas.
A Tenente Aspirante Amanda Alves (26) está no 15Âş PM desde agosto de 2021. Antes de ser policial, ela fazia faculdade de Arquitetura e Urbanismo, mas decidiu fazer algo diferente e foi quando deu inĂcio na profissĂŁo. “Eu sempre tive muita referĂŞncia do meio militar dentro da minha casa, pois meu pai militar Ă© do exĂ©rcito. EntĂŁo já tive um conhecimento do mundo do militarismo desde criança e foi assim que acabei escolhendo a PolĂcia Militar”, relembra.
Para ela, a mudança de profissĂŁo ocorreu de forma bem tranquila, e depois que passou a ser policial teve ainda mais certeza que era realmente esse o caminho que iria seguir na vida. “O inĂcio para mim foi bem natural, tudo foi acontecendo tranquilamente, e foi dando certo. NĂŁo senti assim medo, como já cresci meio que nesse mundo, sempre indo no quartel e vendo meu pai chegando de farda, entĂŁo para mim foi tudo bem natural”, conta.
A cabo AndrĂ©ia Souza (34) está no 15ÂşBPM há 10 anos e tambĂ©m fazia algo bem diferente antes de ser policial. “Eu fazia matemática, aĂ depois trabalhei um pouco na Guarda Municipal e finalmente vim para PolĂcia Militar. TambĂ©m tive referĂŞncias na minha famĂlia, pois meu pai Ă© sargento e meu irmĂŁo tambĂ©m Ă© militar. Para mim, essa Ă© uma profissĂŁo muito gratificante, todo o dia Ă© diferente, a gente sempre está se movimentando e eu gosto muito desse meio”, revela.
Andréia comenta que o preconceito ainda existe quando o assunto é mulheres atuando posições de poder, no geral ainda são mais dominadas por homens. “Estamos em uma sociedade que tem preconceito, a dificuldade da nossa rotina é em muitas pessoas ainda não aceitarem a mulher fazendo o papel de policial, a mulher abordando, a mulher na viatura. A gente tenta mudar o cenário e mostrar para as pessoas que é normal, que mulher tem que estar trabalhando em qualquer ramo. Cada um tem a sua vocação, e todos têm o direito de seguir essa vocação”, afirma.
A policial Joice Cristina (34) está no 15ÂşBPM há oito anos e na função que exerce hoje há seis. Ela fez faculdade de Educação FĂsica porque era algo que tinha vontade, alĂ©m de ser policial. Depois de formada, foi viver o sonho da profissĂŁo. “Mesmo que eu nĂŁo tenho referĂŞncia na minha famĂlia do mundo militar, sempre achei bonito o respeito e a educação que envolve essa profissĂŁo. O jeito de falar, a continĂŞncia, nossa postura, sempre achava isso muito bonito. EntĂŁo resolvi tambĂ©m fazer parte da PolĂcia Militar”, conta.
Joice conta que, no inĂcio, teve um pouco medo de nĂŁo saber exatamente o que iria enfrentar, mas depois, os medos foram vencidos. “Eu nĂŁo sabia como era o mundo militar, pois ele Ă© realmente diferente, mas com o tempo fui vivenciando e me apaixonando ainda mais. Na minha opiniĂŁo, a mulher tem que fazer o que ela quer, o que ela tem vontade, o nosso lugar Ă© onde a gente quiser estar, entĂŁo nĂŁo importa a profissĂŁo que vocĂŞ tenha, vocĂŞ pode ser o que quiser”, reforça.
Há 15 anos atuando no 15ÂşBPM, a cabo Jaqueline AraĂşjo (34) falou sobre como foi o inĂcio de sua trajetĂłria na PM, quando ela ainda era uma das poucas na corporação. “Eu sempre tive a referĂŞncia do militarismo e tive um exemplo dentro de casa, mas eu nunca pensei em ser militar. Eu tive filho com 16 anos e, quando eu estava com 18 anos, abriu o concurso e eu fiz. Tudo tambĂ©m foi bem natural. Diferente das meninas, há 15 anos atrás quase nĂŁo tinha mulher aqui no BatalhĂŁo. Quando terminou minha escola, nĂłs ficamos aqui com trĂŞs mulheres, uma para cada equipe”, lembra.
Jaqueline comenta que, no inĂcio da profissĂŁo, ela observava o quanto ainda era estranho ter mulheres no meio policial, e quanto as pessoas comentavam sobre o fato de ver mulheres assumindo esse cargo. “Quando a gente saĂa na rua, falavam que apenas que era uma mulher na viatura, uma mulher vestida de polĂcia, nĂŁo nos enxergavam como uma mulher como policial. Hoje, vejo que esse cenário vem mudando, e Ă© bem gratificante, apesar de toda dificuldade, vale a pena”, afirma a cabo.
Mulheres inspiram e ajudam outras mulheres
“A gente vive ainda em uma cultura que algumas pessoas pensam que a mulher não pode fazer o que ela quiser, e que ela é limitada a somente algumas coisas. Mas, a principal mensagem que a gente tem que passar é que sim, ela pode fazer o que ela quiser, pode preparar o corpo e a mente dela para fazer o que ela quiser. Ela é capaz de tudo independente do lugar que ela esteja agora, ela consegue sair e se levantar”, afirma a tenente Amanda.
A tenente cita ainda quanto aos casos de violĂŞncia domĂ©stica e da violĂŞncia contra mulher que tem Ăndices altĂssimos e assustadores. “E isso acontece muito por causa dessa pressĂŁo psicolĂłgica sobre a mulher, que acha que nĂŁo há saĂda daquilo. EntĂŁo ela aceita muita coisa, aceita ocupar lugares de subordinações que nĂŁo deveriam existir por achar que ela nĂŁo Ă© capaz de sair dali, porque ela Ă© dependente, financeiramente ou emocionalmente. Acho que a mensagem mais forte que a gente pode passar, Ă© que há uma saĂda, sim: ela pode sair do que nĂŁo a está fazendo feliz, ela pode se livrar de um relacionamento e pode achar um emprego e nĂŁo ser dependente financeiramente”, conclui Amanda.