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Margarida: lavadeira e passadeira, com muito orgulho

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A rolandense Margarida, de 79 anos, tem uma trajetória de vida marcada pela honestidade, muito trabalho e muitas batalhas vencidas

Dona Margarida com a foto do seu casamento com Domingos de Souza (já falecido)

A história da Margarida Tereza Heider de Souza (79) é parecida com a de muitas mulheres que, desde muito cedo, começaram a trabalhar para ajudar no sustento da casa. Nascida em 14 de maio de 1943, em um sítio na Gleba Bandeirantes, em Rolândia, filha de Max Heider e Flauzina Anunciato Heider, Margarida é a mais velha de uma família com outros dois irmãos, Osvaldo Heider (68), anos que hoje mora em Curitiba, e Clarice (74), que mora no Terezópolis, em Rolândia.


Desde os sete anos de idade, Margarida se viu na condição de trabalhar para ajudar dentro de casa e, foi dessa mesma forma, trabalhando como passadeira, que sustentou seus três filhos, Luzia, que hoje tem 60 anos, Luiz Flávio, de 56, e Laudemir, conhecido como “Mi”, de 54 anos. Desistir nunca foi uma opção para essa mulher cheia de garra que contou um pouco de sua trajetória de vida ao JR.


“Com 7 anos eu comecei a cuidar da minha casa, pois minha mãe era doente. Aos domingos ajudada meu pai a vender bananas, ele tinha um plantio de bananas no sítio, e todo domingo pegava um cesto cheio de banana e eu, mesmo pequena, o ajudava. Fiz isso até os meus 15 anos”, relembrou.

Casório
Aos 19 anos, Margarida casou-se com Domingos de Souza (já falecido), que na época tinha 24 anos e morava em Santa Catarina. Os dois se conheceram na Fazenda Bela Vista, aqui na região. “Ali eu trabalhei como costureira e cuidava das crianças da esposa do administrador. Sempre ajudando no sustento da casa junto com o meu marido”, revelou a dona de casa.


Por 11 anos, Margarida e Domingos trabalhavam e moravam em uma chácara que foi dada de presente pelo pai de Margarida. Foram anos trabalhando duro, de domingo a domingo para sempre levar o melhor para família e sobreviver com o que produziam na chácara. “Lá tinha café, milho, mandioca… e meus filhos eram todos pequenos, então eram muitas despesas, por isso, meu esposo vinha trabalhar de pedreiro na cidade e eu ficava sozinha tocando a lavoura”, pontuou.


Entre os relatos de uma vida regada a muito trabalho, independentemente da situação, Margarida lembra de situação de quando o filho Luiz nasceu. Segundo ela “nesse dia eu trabalhei até às 3 horas da tarde na roça, cortando e colhendo arroz. Estava com um barrigão trabalhando. Meu filho nasceu à noite em casa com parteira e veio ao mundo com 4,8 quilos”, lembrou-se.


Margarida conta que nunca esqueceu de um vizinho japonês que a ajudou e ao marido: emprestou dinheiro para eles comprarem uma casa. “Nunca me esqueci dele, ele nos ajudou muito. Quando moramos nessa casa comecei a trabalhar de doméstica e meu marido continuou trabalhando de pedreiro para nós conseguirmos melhorar a nossa vida e criar nossos filhos”, recordou.


Quando o assunto é atributos de trabalho, Margarida realmente surpreende. Durante sua vida já teve experiência trabalhando na lavoura, trabalhou como babá, como diarista, fez crochê, lavou e passou roupa na própria casa para as pessoas. “Já fiz de tudo, sempre trabalhei para criar meus filhos dessa forma, e nunca os deixei de lado. Toda noite eu conversava com eles, perguntava como tinha sido o dia. Hoje tenho muito orgulho deles”, conta.


Em 2009, Margarida perdeu o companheiro de vida. “Ele sempre foi muito trabalhador, e sempre incentivou os nossos filhos a estudarem e dizia que não queria que eles fossem pedreiro como ele. Quando ele faleceu, todos já eram casados e tinham suas vidas estruturadas com muita honestidade”, lembrou. Um dos valores que ela e o esposo passaram para os filhos a vida toda era o fato de serem sempre companheiros um do outro. “Aqui sempre dividimos tudo, não tinha o dinheiro dele, e o meu, era tudo junto”, afirma.

Exemplo
Entre as vivências mais marcantes de uma vida com tantas nuances e muito suor, Margarida lembra de um fato que aconteceu com ela há dois anos, em meio à pandemia, quando um homem chegou até a casa perguntando ‘quem era Margarida’. Ele se apresentou e disse que foi até ela fazer uma visita e um pedido.


“Ele era médico e foi até a minha casa porque disse que me conheceu quando ele era criança. Ele foi até a mim porque precisava de alguém para lavar e passar a roupa dele para uma formatura de que ele iria participar, e lembrou de mim, depois de tantos anos. Isso me marcou muito”, disse, emocionada.


Margarida é um exemplo, entre muitas mulheres brasileiras que trabalham fora, e dentro do lar, sempre com muita dedicação para levar o melhor para a família. Ela finaliza ainda deixando sua breve opinião sobre algo que ainda nos dias de hoje ocorre em nossa sociedade. “Para mim, o fato de uma mulher ganhar menos que o homem para fazer o mesmo serviço não é nada certo. Temos a mesma capacidade”, concluiu Dona Margarida, que tinha roupa esperando para ser passada.

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