Monsenhor JosĂ© Ăgius faleceu na cidade de Victoria no dia 18, depois de passar em Munxar, sua aldeia-cidade natal no dia 17

Nesta quinta-feira (18), completa-se um ano do falecimento do monsenhor JosĂ© Agius, pĂĄroco de RolĂąndia por dĂ©cadas e um de seus moradores mais ilustres. Padre ZĂ©, como era mais conhecido, faleceu aos 81 anos em Victoria, na Ilha de Gozo, em Malta, vĂtima de uma AVC. Ele estava em sua aldeia-natal, em Munxar, quando passou mal no dia 17 e foi levado atĂ© Victoria, onde veio a falecer um dia depois. A notĂcia pegou todos os rolandenses e pessoas da regiĂŁo de surpresa, jĂĄ que o monsenhor passava fĂ©rias em sua terra natal.
Joseph Bernard Agius ajudou a construir RolĂąndia e a formar a identidade dos rolandenses ao longo de mais de 60 anos â considerava-se um nascido na cidade de coração. Participou de debates e decisĂ”es importantes em vĂĄrias ĂĄreas do municĂpio e foi figura influente, politicamente falando, em RolĂąndia e regiĂŁo.
Colunista do JR hĂĄ mais de dois anos, Padre ZĂ© deixou uma sĂ©rie de textos escritos para serem publicados em sua coluna. âEscrevi e te mandei vĂĄrios, jĂĄ que vou estar de fĂ©rias em Malta em abrilâ, revelou o religioso ao editor do JR, JosĂ© Eduardo. Seus textos continuaram a ser publicados e, talvez, atĂ© haja uma republicação de suas memĂłrias, escritas especialmente para se tornar um livro e que foram publicadas semanalmente pelo JR quando Padre ZĂ© se juntou ao jornal, em abril de 2021.
Abaixo, a âprimeira memĂłriaâ escrita e publicada pelo JR em que Padre ZĂ© fala de seu nascimento e primeiros anos de vida. Que Deus o receba carinhosamente.
âEm uma pequena aldeia chamada Munxar, na ilha de Gozo, arquipĂ©lago de Malta, que se ergue sobre uma pequena colina cercada por vales verdejantes e que se estende atĂ© a fascinante praia de Xlendi, onde no ano 1600 tinha sido construĂda uma Torre de Vigia pelos cavaleiros da Soberana Ordem Militar de SĂŁo JoĂŁo de Malta, eu nasci aos 02 de outubro de 1941 numa simples casa de pedra, cuja metade servia de estĂĄbulo para animais, como era costume naquele tempo.
Meus pais Spiridione e Maria Rosa, ambas pessoas simples e devotados a Deus, me deram os nomes de Joseph Bernard Francis TarcĂsio* (um costume maltĂȘs de dar mais nomes no batizado) e me educaram nos princĂpios religiosos da fĂ© catĂłlica. NĂŁo podia ser diferente, uma vez que a Ilha de Malta tinha sido evangelizada pelo ApĂłstolo Paulo quando ali sofreu o naufrĂĄgio no ano 60 da era cristĂŁ, de acordo com livro dos Atos dos ApĂłstolos, capĂtulo 28. Malta conservou a fĂ© pregada por Paulo.
Como Malta, naquele tempo, era governada pela Inglaterra desde 1798, minha primeira infùncia transcorreu sob o signo do medo dos constantes bombardeios aéreos realizados pelas incursÔes dos aviÔes da Alemanha e da Itålia durante a Segunda Guerra Mundial, travada entre 1939 e 1945. Os alemães faziam voos rasantes e metralhavam prédios e pessoas enquanto que os italianos voavam alto e não jogavam bombas por serem vizinhos e amigos dos malteses.
Eu me lembro das tantas vezes que a sirene tocava, a qualquer momento do dia ou da noite, para avisar a população que um ataque aéreo se aproximava⊠e nós correndo às pressas para esconderijos subterrùneos cavados na rocha para evitar sermos mortos ou mutilados. Eu me lembro também que faltava alimentos na Ilha e os pequenos agricultores enterravam sacas de trigo e de aveia em seus campos para não serem saqueados pelo governo e de quantos navios tinham sido afundados no mar Mediterrùneo pela ação sinistra do inimigo.
Quando jĂĄ estava com 5 anos de idade, em setembro de 1945, ouvimos, alegres, todos os sinos das igrejas repicando solenemente e anunciando que, finalmente, a guerra havia terminado.
- Nota do editor: no momento do registro civil, os nomes Francis e TarcĂsio âcaĂramâ e foi acrescentado o Agius (sobrenome paterno) ao nome do futuro religioso rolandense.â