Vivendo um Mundo Paralelo

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A editora do JR, Josiane Rodrigues, fala sobre descoberta e tratamento do Câncer de Mama

Josiane descobriu a doença em novembro do ano passado

Meu nome é Josiane Rodrigues, tenho 45 anos, sou casada, tenho uma filha de 13 anos e há um mês e meio terminei meu tratamento contra o câncer de mama. E é assim que eu defino a descoberta do câncer, a abertura de uma porta pra um mundo paralelo ao que eu vivia.

Comecei a realizar os exames anualmente aos 34 anos, ultrassonografia e mamografia, depois de perder uma tia materna para o câncer de mama aos 45 anos. Essa perda deixou um trauma na família e um medo muito grande de que isso acontecesse também comigo. A partir dos 40 anos achei que precisava intensificar os cuidados, continuei com o exame de mamografia anualmente, mas passei a fazer a ultrassonografia a cada 6 meses.

Em agosto do ano passado, então com 44 anos, mesma idade em que minha tia também descobriu o seu câncer, realizei novamente os exames e apareceu um novo nódulo. Um nódulo aparentemente “igual” a dois outros nódulos benignos que já tinha há anos na mesma mama. Após sair do consultório da ginecologista uma voz começou, na minha cabeça, a me dizer pra procurar uma mastologista. Isso mesmo, uma voz ficou me “cutucando” pra investigar esse novo nódulo.

Passei pela masto. Nódulo novo em mulher com mais de 40 anos e com caso de câncer na família. Protocolo: biópsia. Oba! Exatamente o que eu queria, fazer a biópsia e me livrar dessa dúvida, desse peso. E aí, marca exame, espera pela data, realiza exame e espera pelo resultado.

Consulta com a mastologista marcada para dia 11/11/21. Sim, da primeira consulta com a ginecologista até o dia do resultado do diagnóstico passaram-se três meses. Primeiro por não ter atendido a “voz” de imediato (a correria do dia-a-dia nos faz adiar coisas muito importantes) e segundo porque marcar, ir a consultas, marcar o exame, fazer o exame e receber o resultado leva tempo. E o resultado foi o carcinoma, ou melhor, dois, um carcinoma invasor (um câncer formado) e um carcinoma in situ (um pré-câncer), ambos positivos para hormônios.
E foi nesse dia que o mundo paralelo se abriu pra mim.

Saí da sala da mastologista em suspensão, sim, essa era a sensação. Ao ouvir que o resultado da biópsia mostrava um carcinoma era como se estivesse suspensa (Significado: Presa em lugar elevado; pendurada, pendente; paralisada por alguns momentos; interrompido, parado, adiado) e com uma pilha de exames pra realizar.

E como contar pra família? Pro marido, pra filha?
Eram tantos sentimentos, surpresa, medo, angústia e sim, uma certa revolta. Como uma mulher que se exercitava diariamente, tinha uma alimentação saudável, não bebia, não fumava podia estar com câncer? Sim! Isso pode acontecer, pois existem muitas variáveis pra que uma pessoa tenha um câncer.

Bom, era preciso enfrentar e realmente sentia que ter ouvido aquela “voz”: “Procura uma mastologista” já era o meu processo de cura.

Na noite do mesmo dia recebi a visita dos meus pais e das minhas irmãs pra uma oração. Oramos e nos emocionamos na certeza de que Deus estaria à frente de tudo. Me dando força, ânimo e fé de que tudo iria passar.

Três dias depois começamos a realização dos exames, MUITOS exames. Era preciso saber exatamente o tamanho desses carcinomas, saber se eles estavam apenas na mama e principalmente dar nome e sobrenome a cada um deles. Isso faria com que o tratamento fosse o mais eficaz possível. Graças à tecnologia e ao avanço da medicina, saber qual é exatamente o seu tipo de câncer vai permitir que você receba o tratamento mais indicado e mais eficaz.


Com os resultados em mãos, mastologista e oncologista decidiram que o tratamento mais indicado, no meu caso, E CADA CASO É UM CASO (isso é muito importante), seríamos começar com a quimioterapia e somente depois fazermos a cirurgia. Claro que foi uma surpresa. Na minha cabeça, por ter descoberto o câncer ainda no início, me fez acreditar que estaria livre as quimios, mas não.

Ainda tinha na minha cabeça o tratamento enfrentado pela minha tia há 13 anos. O quanto ela sofria e passava mal com o tratamento quimioterápico. Mas, mais uma vez repito, o avanço da tecnologia e da medicina, juntos, fazem com que tratamentos contra o câncer estejam cada vez mais menos agressivos e mais assertivos.

E lá fomos nós, quatro “químios vermelhas” a cada 15 dias e depois mais 12 “químios brancas”. E sim, inevitavelmente veio a queda dos cabelos. Usei, durante 3 sessões uma touca térmica. Um recurso que evita toda a queda dos cabelos, mas, pra mim, o uso dessa touca estava tornando as sessões muito mais pesadas, cansativas e demoradas e, por isso, desisti e preferi passar máquina 2. Isso foi um alívio.

No meio do tratamento, novos exames e a constatação de que os tumores estavam diminuindo muito. Terminadas as quimios, em 22 de abril, marcamos a cirurgia para o final de de maio.

Antes da cirurgia, a necessidade da realização de mais uma ressonância e o resultado era a existência de resíduo. Isso indicava que o tratamento não terminaria com a cirurgia, mas posteriormente ainda seria necessário a realização de sessões de rádio. Mais um susto, mais uma surpresa. Na minha cabeça era como se fazer radioterapia significava um retrocesso, o que não é verdade. Era preciso fazer tudo o que era necessário pra alcançar a minha cura.

No final do mês de maio foi realizada a mastectomia radical, retirada total da mama esquerda. Procedimento que, graças a Deus e a todos os profissionais envolvidos, foi muito tranquilo.

Por ter ainda que realizar as sessões de rádio, era indicado que eu não fizesse a reconstrução da mama com a colocação do expansor (implantes temporários, os quais são preenchidos gradativamente com soro fisiológico, até a obtenção do volume desejado, sendo posteriormente substituídos por próteses definitivas).

Um mês depois comecei as sessões de rádio. Um mês e meio indo para Londrina todos os dias. Uma semana após o término em consulta com mastologista e oncologista a frase mais esperada: Acabou!

Daqui pra frente, tratamento via oral por 5, 10 anos com medicamentos que irão inibir a produção de hormônios e me proteger de uma recidiva (reaparecimento do câncer) e exames a cada três meses que serão realizados com menos frequência com o passar dos anos.

Coisas imprescindíveis
Ter fé, ter esperança, ter ânimo e olhar somente pro término do tratamento foi imprescindível pra mim. Combinei comigo mesma de não olhar e não dar importância pras coisas que eu teria que passar até ao final.

O apoio familiar é, sem dúvida, a coisa mais importante durante um tratamento contra o câncer. Ter as pessoas que você mais ama, cuidando de você, se preocupando e orando com e, por você, faz toda a diferença.

Acesso a um bom tratamento e a profissionais qualificados, tecnicamente e humanamente, traz um tratamento tranquilo, eficiente e com chances altíssimas de cura. Está aí a necessidade de muito investimento no nosso sistema de Saúde.

Procurar e se cercar de mulheres que já passaram por isso, seja individualmente ou através de grupos de apoio, traz conhecimento e a experiência de quem já passou por isso. Foi de algumas dessas mulheres que eu ouvi as melhores frases: “Vai passar” e “Não é tão difícil quanto parece”.

Respeitar o tempo. Ter paciência. Quando começamos o tratamento a impressão que temos é que não vamos conseguir esperar tanto tempo, mas ter paciência, respeitar a hora e o momento certo de cada etapa, de cada procedimento é imprescindível. E como fazer isso diante de uma sociedade tão imediatista? A gente aprende.

Se amar, se cuidar, colocar a sua saúde em primeiro lugar, se alimentar bem, fazer atividade física, cuidar do seu psicológico, do seu emocional. Essas ações podem não ter me impedido de ter um câncer, pois como já disse, existem muitas variáveis a serem consideradas, mas com certeza me ajudaram a passar da melhor forma possível pelo tratamento.

Vivenciar a espiritualidade. Ah!!! Como isso foi e está sendo importante. Deus esteve comigo todo o tempo. Não me deixou me acomodar diante do resultado lá do primeiro exame, me fez agir. Me trouxe coragem, força, discernimento, confiança e muita, muita fé de que tudo isso iria passar. E passou, está passando…

Tudo ainda é muito recente, mas olhar pra trás e ver tudo pelo que passei e onde estou hoje é motivo para a gratidão diária e eterna!

Acredite. Tudo passa e não é tão difícil quanto parece.

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