Referência quando se fale em atletismo, Ivar veio para Rolândia em 1974 para competir pela cidade e não saiu mais
Ivar Benazi nasceu Braúna, interior de São Paulo, em 25 de setembro de 1954, mas sempre viveu em Penápolis, próxima dali. Em janeiro de 1974, veio para Rolândia para competir pela cidade nos Jogos Abertos do Paraná, que aconteceram em novembro de 1974, na inauguração do Emílio Gomes.
“Fui convidado por Aristides de Andrade Junqueira Neto, professor de Educação Física, que veio para ser treinador de atletismo naquele mesmo ano”, relembra Tucano. Aristides ficou aqui até junho de 1979 e saiu para se tornar um técnico da seleção rbasileira. Tucano assumiu o seu lugar em Rolândia, onde está até os dias atuais, construindo uma carreira respeitada.
Completou 70 anos na semana passada e o texto abaixo é uma homenagem (de alguns anos) de um de seus ‘atletas’…
O que fizeste Sultão de minha alegre menina
Motivado por minha esposa, no último mês de agosto, participei da prova pedestre ‘Saturday Night Rua’, realizada em Londrina. Tarefa ‘fácil’ a de correr 8 km em trechos de subidas e descidas. Impressionante o poder das mulheres em nos convencer a fazer loucuras… Casas, por exemplo (brincadeirinha).
Impressionou-me o número de rolandenses que encontrei por lá. Homens e mulheres de idades e profissões variadas, fazendo da corrida uma maneira saudável de confraternizar. Na verdade, a prova noturna é uma verdadeira festa, uma vez que, no seu transcurso, o participante compartilha trilhas sonoras que vão do Maracatu à Bossa Nova, passando por uma tenda especialmente decorada onde se ouvia música eletrônica.
Participaram também atletas de ponta e, como sempre acontece, Rolândia contou com representantes no pódio. A impressionante vocação de nossa cidade produzir atletas campeões vem de longe.
Apesar do resultado pífio (último de minha categoria), a superação pessoal me fez considerar vitorioso e animou-me a continuar treinando em busca de resistência e, quem sabe, participação em outras provas.
Com este intuito, depois de muito tempo, retornei à ‘pista’ existente no estádio Erich George. Logo na primeira volta, passando pelo corredor formado entre o muro e o campo de futebol, veio à lembrança os áureos tempos em que me aventurei treinar atletismo. Falo de fato ocorrido no século passado, final dos anos 70, início dos 80.
Era época em que a pista (aquela sim) de atletismo, como de resto todo o ‘Complexo Esportivo Emílio Gomes’, vivia repleto de jovens atletas. A área de atletismo não eraq diferente. Campeões brasileiros como Lucilente Lonardoni e César Chueire Cattai se misturavam a vários vencedores estaduais (tatos que o espaço é reduzido para mencionar) e iniciantes, num movimento de pessoas que lembrava imagens de filmes de gladiadores – mens sana in corpore sano.
A cada volta da corrida (e não foram muitas), as imagens daqueles jovens atletas surgiam – Vanderlei Lonardoni correndo os 100 metros, Pedro Mazzarin e Marcos Rocha treinando salto em altura, Wagner Cheloni fazendo salto com vara, Mauro Barbosa no salto em distância, João Welter nas provas de fundo, Edson Pires no arremesso de martelo, Luizinho Nogueira nos 100 e 200 metros. Também aqueles que minha traidora memória não me conduz ao nome completo: o Sidnei nos 400 metros, com barreira, o Paulão no arremesso de dardo, o Alceu (de São Martinho) nos 100 metros, a Dilsa (que vinha de Cambé para treinar aqui) no arremesso de peso. Eram tantos e tão talentosos…Sei que estou sendo injusto em não falar de tantos outros campeões, mas o espaço e a memória (ela de novo) não me permitem.
Havia no local pista devidamente revestida e demarcada, caixas de areia, equipamentos para as provas de força, barreiras, colchões, enfim, toda estrutura necessária a formação dos atletas.
Com o passar do tempo, o descaso das administrações públicas que se sucederam, as quais nunca tiveram o esporte como prioridade, ocorreu o sucateamento das instalações, a ponto de ser retirado o revestimento da pista, deixando um piso impróprio ao esporte e expondo os atletas atuais a contusões. “Acabaram com o Sinca Chambourd’, relembrando a música do Camisa de Vênus.
Mas o esporte existe e resiste. Se a estrutura física e de equipamentos é precária, Rolândia tem um diferencial que a visão míope dos que deveriam enxergar não consegue destruir. Trata-se do material humano que brota de tempos em tempos, revelando campeões a cada ano. Mas esta característica não vem de graça – tem nome e sobrenome. É devida a quem, com competência e dedicação doou sua vida a formar campeões.
Falo do conceituado professor Ivar Benazi, famoso e popular ‘Tucano’, alquimista que consegue tirar da escassez material, inúmeros talentos. Apenas o amor pelo que faz pode explicar tal façanha. Somente quem conhece a capacidade do esporte em transformar vidas pode mostrar este desprendimento. A paga, caro professor, ainda que não venha em pecúnia, resulta no reconhecimento de seu trabalho por seus atletas (atuais e pretéritos) e da comunidade esportiva brasileira. Como rolandense, agradeço por sua persistência.
Ex-atleta Horácio