O JR falou com especialistas para entender como está a qualidade das águas de mananciais que atravessam a cidade e também descobrir como esses rios são monitorados pela Sanepar

O JR – Um Jornal Regional falou com especialistas para entender como está a situação atual dos rios que atravessam a regiĂŁo de Rolândia, com foco especial no ribeirĂŁo Cafezal e no rio Bandeirantes do Norte. De acordo com Mário LuĂs Orsi, biĂłlogo e pesquisador do Centro de CiĂŞncias BiolĂłgicas, da UEL, existem algumas preocupações sobre a qualidade da água nessas fontes hĂdricas.
“A cada ano, a qualidade desses ambientes tem piorado, principalmente na nossa regiĂŁo. EspĂ©cies de peixes estĂŁo diminuindo suas populações, algumas desistindo e sendo substituĂdas por espĂ©cies invasoras. O desmatamento, uso inadequado do solo e lavouras que se estendem atĂ© a margem dos rios estĂŁo degradando o ambiente”, afirmou o biĂłlogo.
Orsi tambĂ©m mencionou a presença de nitrato no rio PirapĂł, que Ă© onde o Bandeirantes do Norte deságua, proveniente das lavouras, e ressaltou que a situação Ă© crĂtica nĂŁo apenas para a fauna local, mas tambĂ©m para os humanos, pois alguns rios sĂŁo mananciais de abastecimento.
“Temos visto a expansão urbana de uma forma tão mal planejada que não está levando em consideração uma questão muito importante para o futuro. Como vão estar esses mananciais tanto para a fauna que existe dentro dos ambientes, quanto para o nosso uso?”, alertou o pesquisador.
O JR tambĂ©m conversou com Andrea Cristina Fontes Silva, gestora de Educação Socioambiental na Companhia de Saneamento do Paraná – Sanepar, que há 21 anos dedica-se Ă preservação dos recursos hĂdricos, e que tambĂ©m Ă© doutoranda em Geografia pela UEL. Segundo a profissional, cerca de 30% da população de Londrina Ă© abastecida por meio das águas do RibeirĂŁo Cafezal. AlĂ©m disso, a gestora destacou os rigorosos processos de monitoramento estabelecidos pela legislação.

“Existe monitoramentos que acontecem a cada hora, outros a cada duas horas e tambĂ©m a cada quatro horas. Algumas análises que sĂŁo trimestrais, e a obrigação das companhias de saneamento Ă© realizar análise da qualidade da água do momento em que ela retira a água de um corpo hĂdrico atĂ© os hidrĂ´metros”, explicou Andrea.
Ainda de acordo com a gestora, para acompanhar essa qualidade nos hidrômetros, é realizado um monitoramento com coletas diárias em todas as regiões da cidade. “Nesse monitoramento é verificado ali no momento da retirada a questão do cloro e flúor que está chegando e outras análises são realizadas no nosso laboratório regional, que fica no centro de Londrina”, destacou.
Andrea explicou o compromisso da Sanepar em monitorar a Bacia do Cafezal em pontos estratĂ©gicos, antecedendo a captação, para avaliar a contribuição dos corpos hĂdricos. “Esse monitoramento Ă© feito em locais de interseção de corpos hĂdricos, como cĂłrregos, ribeirões e outros que pertencem Ă bacia do Cafezal. Mesmo nĂŁo sendo exigido por lei, a empresa realiza esse monitoramento como aprimoramento na gestĂŁo da qualidade da água”, pontuou.
A gestora abordou tambĂ©m a complexidade do enquadramento dos corpos hĂdricos, ou seja, a classificação que esses corpos recebem em termos de qualidade da água. Essa classificação Ă© realizada em atĂ© nove classes. As cinco primeiras classes, de um a cinco, sĂŁo relacionadas a corpos hĂdricos de água doce. Já os corpos hĂdricos classificados como “classe 4”, que Ă© o caso do Bandeirantes do Norte, sĂŁo destinados a usos menos exigentes, como navegação e harmonia paisagĂstica, nĂŁo sendo adequados para consumo humano sem tratamento convencional.
Desafios do Bandeirantes
Em relação Ă uma possĂvel recuperação do rio Bandeirantes do Norte, a gestora afirma que todo corpo hĂdrico pode passar, sim, por um processo de recuperação, mas Ă© necessário considerar diversos fatores. “Quando nĂłs falamos numa bacia hidrográfica, nĂłs temos diversos usos, diversas demandas pela água e diversos impactos, tanto positivos quanto negativos, nessa água. E para que haja um trabalho de recuperação efetivo, nĂłs precisamos considerar todos os atores sociais, desde produtores rurais, os industriais, atĂ© o uso domĂ©stico da água e para onde vai o esgoto”, explicou a gestora.
Andrea compartilhou experiĂŞncias positivas de trabalho de recuperação, destacando a parceria com o Fundo Azul. “A Sanepar tem histĂłrico de trabalho de recuperação. Nossas principais ações sĂŁo derivadas do Fundo Azul, que Ă© um fundo mantido pela Sanepar visando a recuperação de mananciais de abastecimento. Esse trabalho Ă© sempre realizado em parceria com entidades, seja do poder pĂşblico, seja de indĂşstrias, cooperativas, e entre outros, considerando sempre a questĂŁo de que sĂŁo vários os fatores que impactam um corpo hĂdrico”, ressaltou.
Andrea ainda reforça que “a Sanepar, um produtor rural isolado ou uma cooperativa individual não possuem a capacidade individual de recuperar um manancial de abastecimento. No entanto as ações integradas, envolvendo diferentes entidades e setores, têm sim a capacidade de promover o processo de recuperação”, afirma.
Um exemplo na cidade de Rolândia, onde houve a aplicação de recursos do Fundo Azul para a recuperação do Ribeirão Caviúna. “Em 2006 foram injetados recursos do Fundo Azul para a recuperação do Caviúna, que naquela época tinha ocupação irregular. Em parceria com a prefeitura, os moradores receberam casas em um Conjunto Habitacional, foram realocados, e a área foi destinada ao plantio e foi abandonada, o que significa deixá-la para uma regeneração natural”, recordou a gestora.
Além disso, o Projeto Fundo Azul também foi implantado pela Sanepar em Rolândia em 2010, para recuperação do córrego das Amoreiras. A prefeitura e a Sanepar executaram, em parceria, atividades como o reforço do sistema de drenagem das águas pluviais, plantio com espécies nativas para recuperação de áreas de preservação permanente (APP) e ações de educação ambiental.