Autismo é um termo geral usado para descrever um grupo de transtornos do neurodesenvolvimento, chamados de Transtornos do Espectro do Autismo (TEA). Atualmente o autismo é considerado um espectro, pois se sabe que ele pode se manifestar de diferentes formas e de diferentes graus. Há casos mais graves e outros mais brandos, em que os pacientes podem ter um bom grau de envolvimento emocional com os outros e de independência. Os TEA apresentam duas manifestações importantes e que os caracterizam, que são os prejuízos da comunicação social e a presença de comportamentos restritos e repetitivos.
Os primeiros sintomas aparecem logo nos primeiros anos de vida, e os pais geralmente percebem essas alterações durante o desenvolvimento da criança. A dificuldade de comunicação social pode se mostrar através de um isolamento, de falta de interesse em buscar a companhia de outras pessoas, inclusive dos pais. São bebês que podem não sorrir para os outros, ou não conseguir manter contato visual, e até mesmo não se aconchegar ou se acalmar no colo. Não buscam compartilhar seus interesses com outros. A criança com autismo não tem muita habilidade para fazer e manter amizades, e tem dificuldade para interpretar gestos, olhares, tonalidades de voz, ou seja, toda a comunicação não verbal. Em casos mais graves de autismo, a linguagem pode estar prejudicada de uma forma muito importante – há pessoas que não falam nada, ou falam de uma maneira incompreensível. A prosódia também pode estar alterada, fazendo com que a fala tenha um aspecto mais formal.
Os comportamentos restritos e repetitivos também se apresentam de diferentes formas. Podem ocorrer movimentos repetitivos, chamados de estereotipais, que podem ser motoras ou vocais. A criança pode ficar, por exemplo, balançando o corpo ou as mãos, batendo palmas, girando objetos, fazendo barulhos contínuos ou gritando aparentemente sem motivo. São comportamentos que os pais trazem como “manias”. É muito comum também que esses pacientes apresentem interesses restritos a determinados assuntos, e quando focam em um assunto, demonstram um interesse exagerado. Os pacientes com autismo têm bastante dificuldade em sair da rotina, e são, de forma geral, bastante inflexíveis.
O diagnóstico nunca é feito em apenas uma consulta ou uma conversa. A criança precisa ser avaliada em diferentes contextos e por diferentes profissionais, já que os sintomas são heterogêneos e variam em forma e intensidade de caso para caso. É muito importante o envolvimento da família na avaliação e no tratamento. Os quadros de TEA podem trazer no início bastante angústia e incertezas ao pais, e eles precisam de apoio e ajuda para aprender a lidar com seus filhos. É importante ressaltar que quanto mais cedo for feito o diagnóstico e o tratamento, maiores são as chances do paciente em ter uma vida independente e um bom nível de comunicação e envolvimento social. Portanto, a qualquer sinal de atraso ou alteração do desenvolvimento, da fala e da interação social, os pais devem conversar com o pediatra, para que seja feita uma avaliação, e se necessário, encaminhamento para profissionais especializados.
Isabella Gouveia é médica psiquiatra e atende na Otocentro (Willie Davids 390, sala 25)