“Apagaram tudo. Pintaram tudo de cinza”. A música “Gentileza”, da cantora Marisa Monte, acabou descrevendo o que aconteceu após a reforma das quadras do Complexo Esportivo Emílio Gomes. O mural do artista plástico Jota Dias, que fazia referência a construções germânicas, foi totalmente apagado com tinta. Além dele, outro grafite do artista Gian Magon, que havia sido feito como parte de seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) também foi coberto.
O grafite não foi autorizado pelo poder público. Já o mural foi idealizado e executado por Dias na gestão do ex-prefeito José Perazolo, em 1998, sendo restaurado em 2005, na gestão Eurides Moura. O mural já fazia parte da paisagem urbana de Rolândia, registrado na consciência coletiva dos moradores. “Até três meses atrás, podíamos considerar esse mural como um dos maiores do Norte do Paraná, pois ele possuía 600m²”, contou o artista. Em 2017, Dias ofereceu-se para fazer a manutenção na pintura, mas o poder público considerou essa restauração “inviável” financeiramente.
O artista tem consciência que a arte não é para sempre e concorda que as quadras realmente necessitavam de reforma, mas criticou a forma com que a obra foi tratada, por todo o contexto histórico e cultural germânico representado no mural. “Eu vejo que faltou sensibilidade, de ver que esse trabalho era muito mais que apenas um paredão pintado, uma vez que a Oktoberfest é considerada patrimônio imaterial do município, assim sendo, o mural pintado há 20 anos está associado a este patrimônio”, justificou. “O apagar do mural, deixando apenas uma cor cinza no seu local, demonstra uma desvalorização do real valor que esse mural representava para essa etnia e para a cidade como um todo”, apontou Dias.
O poder público justifica que a decisão de cobrir as manifestações artísticas aconteceu porque a pintura já estava prevista na reforma da quadra. “Em nenhum momento buscaram a minha opinião referente ao assunto, de cobrir aquele paredão de cinza ou de restaurá-lo”, lamentou o artista. A secretaria de Planejamento está decidindo se fará um chamamento público ou concurso cultural entre artistas de Rolândia para voltar a colorir o espaço.