O médico Afonso Murad Filho, 71 anos, faleceu na manhã desta quarta-feira (24) em Londrina, onde morava com sua filha. Dr. Afonso é muito conhecido em Rolândia e região por seu trabalho como clínico-geral e proctologista, além de cuidar de doenças do aparelho digestivo. Além disso, o profissional ajudou na implantação da Pastoral da Criança, em 1980, em Florestópolis, onde se instalou em 1975, quando veio do Rio de Janeiro. Seu corpo está sendo velado na ACESF de Londrina, cidade em que será sepultado ainda nesta quarta. Casado com Geisa Lacerda, deixou dois filhos: Gustavo e Carolina.
Pastoral
Afonso Murad Filho deu uma entrevista, em setembro do ano passado, ao jornal Folha de Londrina. Na matéria, motivada por sua participação na implantação da Pastoral da Criança, o médico contou um pouco de sua vida e da Pastoral. Nascido em Vitória (ES), em 09 de março de 1947, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde fez o ginasial, colegial e Medician na Universidade Gama Filho. Afonso deixou o Rio de Janeiro, onde clinicava, aos 28 anos, em 1975, e veio para o interior do Paraná, motivado por um cunhado dentista em Arapongas. Resolveu instalar-se em Florestópolis. O médico não gostava do calor carioca e queria lugares mais frios. E conseguiu, cinco meses depois de chegar em Florestópolis veio a terrível Geada Negra, em julho de 1975.
Florestópolis tinha cerca de 6 mil habitantes à época e a maioria era de boias-frias, com taxa de mortalidade infantil alarmante: 127 mortes para cada mil nascimentos. O número de crianças desnutridas era muito alto e havia epidemias com de piolhos. Murad foi surpreendido também pela má qualidade da saúde da população. “Toda aquela miséria humana, em Florestópolis, era muito grande naquela época. Na saúde, nosso ramal de Rolândia para cá era chamado de ‘ramal da pobreza'”, falou Murad à Folha.
Então, um projeto elaborado pela médica pediatra e sanitarista Zilda Arns, de Curitiba, foi abraçado pelas Irmãs Servas da Caridade, que já trabalhavam com os doentes em Florestópolis. O ano era 1980 e nascia o projeto piloto da Pastoral da Criança e a proposta de Zilda era de tentar diminuir a desnutrição e a mortalidade infantil, com uma parceria com a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). O médico afirmou que foram feitas várias reuniões com diretores de escolas, professores, e voluntários do município.
A imunização infantil também entrou nas ações da Pastoral e a carteira de vacinação passou a ser exigida para tudo no município: recebimento de cestas básicas, matrícula escolar. As voluntárias chegavam nas casas, pesavam e mediam a criança, viam as carteiras de vacinação, os remédios. Dr. Murad era o único médico da cidade nessa época. Toda essa ação surtiu efeito e a saúde teve uma melhor estatística no ano seguinte: os óbitos infantis eram em menor número e as crianças estavam mais sadias.
A partir de 1984, o projeto foi chamado de Pastoral da Criança e começou a se espalhar. Cidades vizinhas iam até Florão para saber mais. É dessa época a formulação do soro caseiro e a multimistura, um farelo de alto valor nutricional que tornou-se um símbolo da pastoral. Em cinco anos, os índices se normalizaram no município. O médico contou que se sentia bem pelo trabalho que realizava: de sair, ir nas escolas ou casas para pesar as crianças. Dr. Murad se dizia orgulhoso por ter participado do projeto da Pastoral da Criança desde o início e ver que a ideia se espalhou pelo Brasil e em outros países.
Cidadão Honorário
Em julho de 2017, o médico Afonso Murad Filho, então com 70 anos de idade, recebeu o título de cidadão honorário pelo trabalho prestado na Pastoral da Criança. A homenagem foi feita na da Câmara Municipal de Florestópolis.