José de Arimathéia
Imagine um livro infantil no qual o texto, poético, flui quase de forma líquida pelas páginas, entre desenhos aparentemente simples, mas que combinam com as palavras (que às vezes parecem soltas, mas não estão), têm uma dimensão simbólica, referências a clássicos e apontam para ideias fundamentais, como o tempo, a solidão, o trabalho, o desejo (e seu gêmeo consumo) e a morte. O historiador, escritor e documentarista Luís Henrique Mioto está produzindo cinco livros para abordar justamente estes temas e que devem ser lançados no final deste ano.
Doutorando em Educação na UEL, Mioto mora na Chácara Marqabu, em Rolândia, e é um dos 16 membros da comunidade universitária da UEL que tiveram projetos culturais aprovados no Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PROMIC), relativos ao Edital 005/2018. Foram aprovados 56 Projetos Independentes de Bolsa de Estudo e Pesquisa nas áreas de Teatro, Literatura, Fotografia, Arte de Rua, Circo, Música, Artes Gráficas, Preservação do Patrimônio e Cultura popular.
Mioto transita entre várias artes. Desde criança, desenhava histórias em quadrinhos (que guarda até hoje), produzia pequenos livros e foi estimulado pela mãe a investir na Arte. Formou-se em História da UEL (2006) e uniu estes conhecimentos ao cinema, produzindo documentários. Há cinco anos, participa de um projeto que criou um Centro de Memória Kaingang (Tamarana) onde ele ministra aulas de cinema e linguagem audiovisual, produzindo vídeos e filmes.
É comum unir as áreas de formação no exercício da carreira e pós-graduação. No Mestrado, partiu para a Filosofia da Educação, mesma área do Doutorado. No exercício profissional, também une saberes, na produção de artigos, longas metragens, documentários e aulas de cinema.
A paixão pela Literatura veio no meio deste percurso. Em 2014, publicou um livro pela editora da UEL e, há quatro anos, inscreveu-se num edital do PROMIC para Literatura e adaptar seus escritos. Foi o primeiro projeto na área, porque já teve anteriores, em Cinema, também aprovados. Em 2018, ele ficou em primeiro lugar na categoria Bolsa Criação e vai receber 30 mil reais para a primeira tiragem (300 exemplares). O lançamento dos livros, que serão distribuídos gratuitamente em escolas públicas, será acompanhado de um ciclo de cinco palestras a educadores, nas quais Mioto vai expor suas obras e demonstrar sua dimensão pedagógica, para uso em sala de aula.
Temas supremos
A coleção a ser lançada se chama “Temas Supremos” por abordar, de forma lúdica, conceitos fundamentais da Humanidade. Um dos livros é dirigido a crianças de 3 anos, aborda o tempo e se intitula “Foi” (desenhos da ilustradora Lauriane Casagrande). Os outros, para crianças com idade superior (ilustrados por Ricardo Bagge), trazem duas crianças como personagens (Jussara e Benedito, ambos com 7 anos) e apresentam os outros temas a partir de situações ordinárias. A reflexão sobre a morte, por exemplo, começa quando Jussara encontra um besouro em dificuldades.
Para produzir as obras, Mioto realiza intensa pesquisa – que aliás faz parte da natureza do projeto aprovado. Assim, muitas referências da Literatura Clássica aparecem em seus livros: Alice no País das Maravilhas, Pinóquio, Peter Pan, Mágico de Oz, entre outros. O resultado são textos que serpenteiam ou dançam pelas páginas, entre desenhos que às vezes lembram um livro didático do ensino básico. Olhados atentamente, revelam conceitos fundamentais da Humanidade e convidam ao prazeroso exercício de filosofar. Mesmo com apenas três anos de idade.
Agência UEL de Notícias