Há 10 anos, os smartphones eram pouco comuns. Dávamos brinquedos de presente para nossos filhos, e não celulares. Contudo, nos dias de hoje, é raro ver alguém sem um na mão. As interações sociais entre adolescentes foram canalizadas para estes aparelhos, e crianças cada vez mais novas estão também entrando na onda.
Atendendo adolescentes, Ă© assustador ver as coisas que acontecem no mundo virtual deles, principalmente nos Ăşltimos anos. Bullying virtual (cyberbullying), exploração sexual, envio de imagens Ăntimas, consumo de pornografia, incentivo Ă automutilação, ao suicĂdio e Ă violĂŞncia, tudo isso sem avaliarem as consequĂŞncias, porque parece, para eles, que nesse mundo virtual nĂŁo há regras.
A internet, e o celular mais especificamente, Ă© uma porta aberta para um mundo livre de supervisĂŁo, sem controle dos pais, onde eles ficam expostos a qualquer tipo de conteĂşdo, sem ter ainda a maturidade para discernir o bom do ruim, para saber o que Ă© adequado ou nĂŁo expor ao mundo.
Crianças e adolescentes expostos durante muito tempo a telas estĂŁo perdendo a capacidade de se relacionar, estĂŁo deixando de desenvolver algo muito importante para o relacionamento humano: a empatia. Olhar nos olhos do outro e ver que ali existe outro ser humano. Isso sĂł Ă© possĂvel nos relacionamentos reais, nĂŁo virtuais.
Precisamos refletir sobre como estamos educando e tratando essa geração. Crianças que não sabem mais inventar brincadeiras. Adolescentes cada vez mais deprimidos, revoltados, vazios, abandonados nos próprios quartos em frente a uma tela. Temos que estar mais atentos, mais presentes, estimular relacionamentos de verdade e verdadeiros. Olhar nos olhos dos nossos filhos e ensiná-los o valor disso. E, por fim, deixar nosso próprio celular de lado e enxergar o valor de quem está à nossa frente.
Dra. Isabella Gouveia é médica psiquiatra (CRM-PR 21583) e atende na Essence