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Opinião: Perturbação do sossego e a sua inversão de valores

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    Já há algum tempo, o Jornal de Rolândia vem batendo em cima da tecla da poluição sonora e perturbação do sossego até porque, eu, Josiane, e José Eduardo, proprietários do Jornal de Rolândia, assim como muitos rolandenses, também sofremos com a falta de respeito de algumas pessoas ao ouvirem suas músicas em altura exagerada, seja nas suas casas, seja em seus carros perambulando pela cidade.

    Assim como muitos, sofremos com o som alto vindo da casa de vizinhos. Pessoas que em sua maioria são vistas como ótimas pessoas no seu ambiente de trabalho, nas igrejas que frequentam ou em suas páginas nas redes sociais. Cidadãos de bem que quando estão em suas casas esquecem os bons mandamentos e deixam de lado a empatia e respeito que deveriam ter com seus vizinhos.

    Num desses vizinhos, começamos, obviamente, indo até a casa, tocando o interfone e pedindo por favor e com muita educação que abaixassem o som, fizemos isso várias vezes, o passo seguinte foi chamar a polícia e ao fazer isso uma, duas, cinco vezes, resolvemos fazer um BO e quase tivemos uma audiência. Sim, as coisas melhoraram, a altura das músicas baixaram (um pouco), mas vira e mexe ainda somos obrigados a nos trancar num cômodo no fundo da nossa casa com todas as janelas fechadas pra que possamos, num sábado à noite, escutarmos a nossa própria televisão. Em alguns finais de semana (embora, infelizmente, o som alto muitas vezes também aconteça nos dias de semana), preferíamos sair, dar uma volta pra não sermos incomodados dentro da nossa própria casa.
Mas e agora, na quarentena? Como sair, dar uma volta, visitar alguém se estamos presos em casa, o que obviamente é o correto dentro da pandemia que estamos vivendo? Bom, não há o que fazer…a não ser, o que eu já disse, trancar a casa, erguer a televisão e, às vezes, chamar a polícia…nem sempre ela vem, pois, infelizmente, 
existem ocorrências mais graves que uma perturbação do sossego.

    Mas o que quero destacar aqui é essa INVERSÃO DE VALORES. Já ouvi de pessoas próximas que em alguns países, principalmente Europa, as pessoas reclamadas, ou seja, quem pratica a perturbação do sossego e, consequentemente, incomoda alguém e faz com que essa pessoa tenha que tomar alguma providência, se sente envergonhado e acaba por pedir desculpas pelo incômodo causado. Infelizmente não é o que acontece no Brasil, não é o que acontece em Rolândia. Aqui, o chato, o praticante do incômodo não é quem está praticando a perturbação do sossego, mas sim quem reclama. A pessoa que está tendo o seu sossego interrompido, o seu direito ao descanso violado é quem leva a fama de mau. Falamos por experiência própria, já que por várias vezes fomos ofendidos pelas pessoas de quem reclamamos, por alguns fomos chamados de chatos ou de anti-sociais por apenas querermos, no final do dia, depois de um dia de trabalho, ou no final de semana, depois de uma semana inteira de tarefas e compromissos, descansar, assistir a uma TV, ler um livro e simplesmente não termos que ouvir a música, o barulho que um vizinho está fazendo.

    Pra nós, a regra é básica, todos podem ouvir a música que quiser e quando quiser, desde que essa música, esse som não ultrapasse os limites de sua casa e que não obrigue outras pessoas, seja de dia ou de noite, a ouvirem a sua música.

    Amamos ouvir música, aqui em casa ouvimos música o tempo todo, até mesmo quando estamos trabalhando, mas temos a plena consciência de que a altura dessa música jamais poderá ultrapassar os muros da minha casa, jamais poderá adentrar o espaço do meu vizinho.

    E aí, como podemos ser os chatos, os que incomodam se somos nós os que estão tendo o direito ao descanso, direito ao sossego, violado? O que leva uma pessoa a achar que ela pode ouvir a sua música, seja em casa, seja no seu carro, numa altura que invade o espaço e o direito do outro?
    Essa foi a pergunta que fizemos quando um parente chegou pra gente e disse que, andando pela rua, encontrou a mãe de uma vizinha e que essa teria endemonizado a mim e ao Eduardo, nos chamando de chatos e insuportáveis por reclamarmos da altura das músicas ouvidas pela sua filha, nossa vizinha. É mole ou quer mais? Além de sermos incomodados, não termos direito ao descanso, ao sossego, ainda levamos a fama de chatos, de antipáticos?

    Sonhamos e continuamos reclamando pela não inversão de valores, do respeito ao nosso espaço e ao direito de estarmos em nossa casa num sábado à noite, num domingo à tarde, ou numa noite durante a semana e não termos que ouvir os “tutsi-tutsi” ou os sertanejos universitários dos nossos vizinhos e, obviamente, não ter que reclamar por esses direitos.

Josiane Rodrigues

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