O município de Rolândia tem 108 famílias sendo acompanhadas pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) em casos de violência física, psicológica e sexual de crianças ou adolescentes. O número assusta ainda mais quando se foca sobre a quantidade de pessoas dessa faixa etária que estão em atendimento no Creas: são 121 – há famílias com mais de um “paciente”. Esses são os casos que são relatados ou denunciados, o que se leva a presumir que o cenário é ainda mais terrível.
Desse universo infantil de vítimas, 77 são meninas e 44 são do sexo masculino. Entre as violências sofridas por nossas crianças e adolescentes, o JR se debruçou sobre a sexual e falou com as psicólogas do Creas 1 Mariana Festti e Denise Pacheco e com Fernanda Buranello, diretora da Assistência Social de Rolândia. O encontro foi na própria Assistência Social na tarde da terça (23).
A violência sexual tem o agressor que abusa do poder que tem sobre a vítima para obter gratificação sexual, sem consentimento, sendo induzida ou obrigada a práticas sexuais, com ou sem violência física. Atualmente, 51 crianças e adolescentes são atendidos pelo Creas 1 de Rolândia por serem suspeitos desse tipo de violência – 42 são meninas e 9 meninos.
“Na questão da violência sexual entram o abuso e a exploração sexual”, explicou a psicóloga Maria Festti. “Essa criança ou adolescente vai para o Creas para ter o acompanhamento psicológico”, ressaltou Fernanda Buranello. “Por lei, somos obrigados a informar, pelo protocolo, primeiro ao Conselho Tutelar que, por sua vez, informa o Ministério Público”, afirmou Fernanda.
Quando a criança ou a família faz a denúncia em UBS ou outro local, primeira ela vai para uma escuta qualificada, que vai ouvi-la e repassar para os outros órgãos. “Assim se evita que a criança repita diversas vezes a mesma história e, assim, a vivencie cada vez que a conte”, revelou Fernanda. Há um técnico capacitado que a escuta e faz um relatório que vai para o Creas, por exemplo. “No Creas, se acolhe a criança e se faz uma avaliação do danos dessa criança em relação à violência sofrida. Trabalhamos com a família para interromper esse ciclo de violência. A nossa área não é a investigativa. Isso é com outros órgãos”, afirmou a psicóloga Denise Pacheco.
A maioria das vítimas sexuais são meninas e de várias faixas etárias. “O abusador geralmente mora dentro da casa e se aproveita do momento em que está junto dessa criança. Não necessariamente sozinho na casa, ou seja, com a criança sob sua responsabilidade. Alguém que convive com ela”, alerta Mariana. “Entre os agressores (abusadores) estão o pai, padrastos, irmãos, tios e primos. A maioria dos agressores são homens desse núcleo familiar”, complementou Denise.
Alertas
Em muitos casos, a mãe não percebe que um abuso pode estar acontecendo. “Há abusos pontuais, que acontecem uma vez, e há casos frequentes, em que a criança passa a manifestar alguns sinais e alterações comportamentais”, explicam as psicólogas. “Mudanças repentinas de comportamento devem ligar o sinal de alertas nas mães. Tem criança que sociável e começa a ficar isolada, tem criança que é tranquila e começa a ficar agitada, nervosa, alteração do sono. Essas mudanças são indicativos de que deve haver uma conversa com a criança, se isso for possível pela idade dela”, esclarecem.
O celular também pode ser um agravante, por isso os pais devem ficar atentos ao que ela assiste. “Se a criança passa a demonstrar interesse ou apresentar comportamento sexualizado não correspondente à idade”, alerta Mariana.
“As mães devem ficar atentas às mudanças drásticas no comportamento das crianças e tentar conversar com elas”, voltou a afirmar Fernanda. A confiança e a segurança encorajam a criança a contar o que pode estar acontecendo com ela, já que pode haver ameaças por parte do agressor. “Por isso é importante ouvir sempre o que o filho ou a filha dizem, para que eles tenham confiança nos pais e lhes contem o que está acontecendo”, salientou Fernanda. A dica também é para não deixar o filho ou filha dormir fora de casa, excetuando-se situações em que há confiança plena.
Os pais que tiverem desconfiança de que uma situação de abuso esteja acontecendo devem denunciar. Essa denúncia pode ser feita pelo Conselho Tutelar (fone 3906-1111 ou no 9.9166-0469 – plantão 24 horas), no Disque 100. A denúncia pode ser anônima. “A denúncia deve ser feita primeira ao Conselho Tutelar, que irá saber para onde encaminhar essa criança inicialmente: se é pra o hospital, para o Creas ou para o Caps. O Conselho Tutelar é o órgão indicado, pois providencia todos os encaminhamentos necessários”, concluiu Fernanda Buranello.