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A abordagem do racismo também entre as crianças

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    Sabia que bonecas negras são uma verdadeira raridade nas linhas de produção de brinquedos e nas prateleiras de lojas infantis virtuais? Uma pesquisa foi feita pela ONG Avante, da Bahia, que atua com direitos das crianças, com base nos sites de fabricantes e lojas de brinquedos, apontou que apenas 6% das bonecas produzidas e 9% das ofertadas em lojas online são negras. O levantamento feito em 2019 identificou 1.093 modelos de bonecas em 14 sites de fabricantes de brinquedos associados à Abrinq (Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos). Entre elas, apenas 70 eram negras. 

    Essa foi uma das razões que levou a artesã Luciane dos Santos (50), moradora de Londrina, a oferecer representatividade para este universo das bonecas e criar a empresa Zuri – Bonecas Artesanais. Aposentada e graduada, Luciane se formou no curso de Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). A empreendedora produz bonecas artesanais negras que, além de muita beleza e delicadeza, carregam também toda uma cultura de conexão com ancestralidade, a qual, segundo ela, precisa ser fomentada já na infância. “Eu faço bonecas de pano há mais de 20 anos para amigos e familiares que me pediam encomendas. A Zuri nasceu este ano com o objetivo de fortalecimento da identidade das nossas crianças, e também dos adultos negros”, ressaltou.

    Como funciona?
    A maioria das bonecas são feitas sob encomenda com materiais de qualidade que, muitas vezes, a empreendedora precisa comprar de outros país. “Alguns materiais são caros porque preciso importar, especialmente os produtos que são utilizados para montar o cabelo. Por isso, as minhas bonecas saem em média no valor de 120 reais”, afirmou.

    Luciana explicou que os clientes mandam foto para ela das pessoas que pretendem presentear, sejam crianças ou adultos. “Eu procuro fazer as bonecas o mais próximo possível da foto e realmente causar um elo de representatividade para aquela pessoa que vai receber o presente”, revelou a artesã.

    Empreendedora, avó e dona de casa
    Luciana improvisou um espaço da sua própria casa para montar o seu ateliê de bonecas e se divide diariamente entre as funções de confecção das peças com as atividades domésticas e maternas e de avó. Ela dividiu o quarto e montou um pequeno espaço para poder trabalhar, pois ainda não tem condições financeiras para montar um negócio físico no momento.

    Ela tem quatro filhos e seis netos. “Cuido de alguns dos meus netos durante a semana para que meus filhos possam trabalhar. É uma rotina agitada e complicada às vezes, minha casa sempre está cheia, mas sempre faço o máximo que eu posso para cumprir com tudo que preciso”, ressaltou.

    A essência da Zuri
    Luciana conta que, embora tenha sofrido muito racismo durante a sua vida, e até mesmo violências físicas e simbólicas, sempre pensava que a culpa era dela. Só pode compreender que o racismo é uma doença, e um crime que está estruturado na sociedade, quando entrou na universidade, aos 42 anos, pelo sistema de cotas.

    “Lá eu fui estudar relações raciais e entendi muita coisa. Por isso, a essência e o objetivo do Zuri é este: devemos enfrentar o racismo da forma que podemos e acredito que, ao valorizar a beleza da criança, e da pessoa negra, fazendo as minhas bonecas com o máximo de cuidado possível, vai ajudá-las em muita coisa. Ao se sentirem belas, as crianças vão fortalecer a própria identidade e, com isso, espero que a beleza chegue antes do racismo na vida delas”, compartilhou.

    Encomenda 
    A empreendedora afirmou que as encomendas têm aumentado bastante com a proximidade do final do ano, e com um aumento da divulgação do trabalho feito por ela nas redes sociais. O trabalho da Luciana pode ser visto através de seu perfil no Instagram (@luu.bonecas). 

    Em Rolândia
    A arte de Luciana dos Santos também poderá ser conferida pelos rolandenses durante a 2ª edição do “Vem com as Minas”, evento que será realizado no dia 13 de dezembro, das 13 às 19 horas, no centro comunitário do Arnaldo Buzzato. A artesã também pode ser contatada pelo WhatsApp (43) 98477-3746.


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