A HBO Ă© um selo de excelĂŞncia em produções de TV. O canal por assinatura mantĂ©m um “modus operandi” conceitual que Ă© facilmente identificável: Produção impecável, atores consagrados em atuações, no mĂnimo, consistentes – quando nĂŁo extraordinárias – uma lentidĂŁo caracterĂstica e um final geralmente linear. É uma ganhadora de prĂŞmios nata, mas muita gente desgosta pela falta capacidade de gerar emoções e vibrações.
The Undoing, a mais nova minissérie do canal é 100% isso, pro bem e pro mal.
A trama gira em torno de uma psicĂłloga – espetacular Nicole Kidman – que vĂŞ sua vida de alta classe nova-iorquina virar de cabeça para baixo ao ver seu marido sendo acusado de assassinato – que jura inocĂŞncia – e a dissolução de sua famĂlia durante um julgamento midiático. Mas a linha que leva a sĂ©rie nĂŁo Ă© o famoso “quem matou?” – este estando lá, tambĂ©m – mas a dificuldade de encarar a verdade perante uma realidade aparentemente perfeita e a tendĂŞncia de procurar informações e verdades que nĂŁo contradigam crenças já estabelecidas. A sĂ©rie nĂŁo Ă© sobre assassinato, Ă© sobre dissimulação.
Esse tema mais complexo Ă© o cĂ©u e inferno da sĂ©rie, pois quem espera grandes reviravoltas, pistas mirabolantes e discursos espetaculares dos advogados vai se decepcionar, eles atĂ© estĂŁo lá, mas nĂŁo Ă© a ideia de quem está contando a histĂłria dar protagonismo a isso. E Ă© nesse ponto que a HBO revela um pouco de seu defeito: A incapacidade de se conectar Ă s vezes com quem já nĂŁo Ă© um fĂŁ da HBO. Eu sou, e já sabia que a histĂłria era sobre as pessoas, e nĂŁo sobre a histĂłria – rá. Night Of, Big Little Lies, Chernobyl, Outsider …todas nĂŁo sĂŁo sobre suas tramas, mas sim sobre como os personagens reagem a elas.
Undoing é tudo isso – com o plus da atuação magistral de Hugh Grant – se você gostou das que citei, vai amar essa também. Mesmo se não é fã, vale a tentativa, mas já saiba o que esperar.