A Pixar tem essa mania – boa – de fazer filmes que você vai assistir com seus filhos, mas que a mensagem não são exatamente para eles. São produções que não só divertem, mas trazem um olhar diferente sobre temas difíceis como a solidão em UP – Altas Aventuras, ou sobre o que forma nossos sentimentos e a falsa necessidade de ser sempre feliz, tema de Divertida Mente, criando uma reflexão leve, simples e poderosa para temas complexos.
Em Soul a bola da vez é o pós vida. Depois de morrer, para onde vamos? Por que estamos aqui? Soul é a história de Joe, um pianista de Jazz frustrado com o rumo que sua vida tomou, seu sonho é viver de sua música. Porém quando finalmente consegue um teste em uma banda de Jazz, Joe morre. Ao se ver no pós vida, em uma grande esteira rumo a “luz”, Joe se desespera por não ter realizado seu sonho e foge, encontrando no caminho a 22, uma alma que se recusa a nascer por não ver sentido na vida humana.
E é partir dessa dinâmica que se desenrola o filme, com o músico tentando de tudo para voltar ao seu corpo enquanto 22 faz tudo o que pode para escapar da encarnação. Já de cara temos que falar do desenho em si, espetacular, que faz com que toda essa ambientação e essa metalinguagem nos conectem e nos encante. Tudo é lindo e ao mesmo tempo muito estranho. A direção de arte deu aula. Mas, show mesmo, é a trilha sonora, tanto na sua parte “tradicional” como nas maravilhosas composições de Jazz e Soul – reparem o trocadilho – durante o filme.
Absorver todas as camadas de Soul exige bastante de nós, mas nos retorna com plena satisfação e aquele toque de emoção “selo Pixar de choro”. No fim, não deixa de ser mais um filme da Pixar onde um personagem precisa encontrar seu caminho – ou o caminho de volta – mas eles fazem isso tão bem que tudo que precisamos é esperar o próximo e evoluir mais um degrauzinho como humanidade.
Samuel M. Bertoco é formado em Marketing e Publicidade