Historicamente, mulheres e homens tiveram lugares diferentes na sociedade. O homem era responsável por tudo que era externo à casa e a mulher pelas tarefas que poderiam ser feitas no lar. Mesmo alcançando bons voos hoje as mulheres estão se tornando líderes e ocupando cerca de 37% dos cargos de chefia em empresas no Brasil, mas só 10% nos cargos mais altos. Além disso, de acordo com pesquisa do IBGE de 2020, ainda há muita diferença na remuneração de homens e mulheres.
Segundo meta estabelecida pelo G20, que prevê a redução da desigualdade de gênero nas 20 maiores economias do mundo até 2025, o Brasil tem o desafio de reduzir a diferença entre homens e mulheres no mercado de trabalho em até 25%.
Para homenagear essa data tão importante, o Jornal de Rolândia vai trazer neste mês histórias de mulheres que ocupam funções ainda vistas pelo mercado de trabalho como majoritariamente masculinas. Aline França, 32 anos, é jornalista e também policial militar. Ela iniciou na carreia de PM a princípio como uma segurança e estabilidade financeira, visto que a função de funcionária pública propicia isso. “Em 2012 foi quando soube do concurso, e a motivação a princípio foi me tornar funcionária pública. E a partir daí comecei a conhecer a história de outras mulheres que já eram policiais e assim me espelhei muito nelas”, contou Aline.
Formada também em Comunicação Social, a policial no início teve receio dessa grande mudança de profissão, e os novos desafios que estavam por vir, a assustavam um pouco. Mas, mesmo com medo, e alguma incertezas, ela encarou o desafio e foi até o fim para conquistar o que queria, que era se tornar uma Policial Militar. “Pensei, se tem tantas mulheres maravilhosas desempenhando essa função, então eu também consigo, e encontrarei um espaço que seja só meu dentro da instituição, fiquei com receio no início, por “abandonar” a profissão que eu exercia que era pela qual eu estudei, me formei, mas senti que no jornalismo minha missão já havia se encerrado, e que eu precisava me aventurar nessa nova jornada”, lembrou.
O machismo presente
Aline afirma que por estar em um ambiente que em sua maioria é ocupado por homens, ela já passou por algumas situações de preconceito e machismo, que sempre ocorreram por meio de comentários negativos. “Não vou ser hipócrita em dizer que não acontece. Em uma profissão como você disse composta pela maioria de homens isso é recorrente. Mas com o acesso a informação sobre essas relações o machismo se tornou até muitas vezes velado. Mas sim, já senti várias vezes preconceito, muitas vezes até com comentários negativos e que visam nos diminuir”, revelou.
A policial ainda afirmou que no ambiente do militarismo demorou muitos anos para as vagas serem asseguradas em igualdade para mulheres. Então ainda é difícil para muitos homens lidarem com isso. “Afinal muito vem de uma realidade tradicional de uma visão em que a mulher era submissa e não tinha posição de autoridade. Já me senti triste, já fiquei decepcionada, mas sempre consegui driblar esses sentimentos e essas situações. Acredito que há espaço dentro da instituição para homens e mulheres”, pontuou Aline.
A PM assegura que hoje no espaço onde está se sente completamente qualificada e preparada para exercer a atividade que desempenha que é na área de prevenção através do Programa educacional de resistência as drogas e a violência (PROERD). Mesmo estando mais estável e segura hoje, os desafios na carreira ainda existem, segundo contado por Aline. “Os maiores desafios são lidar com o inesperado e saber que muitas vezes isso pode te custar a sua própria vida. Afinal essa é a nossa função, e juramos dar a vida se preciso for para salvar alguém, mesmo que esse seja um desconhecido”, afirmou.
Policial, dona de casa, mãe e influencer
Hoje além de exercer a profissão, ela dona de casa e mãe em tempo integral de dois meninos que são, segunda ela, a sua maior paixão. Ela ainda realiza trabalho de divulgação na Internet, atuando como digital influencer voltada para às pessoas que querem entrar na carreira militar. “Sinceramente não é fácil conciliar, mas mulher consegue”, confessou.
A PM revela que todos esses trabalhos, tanto com as crianças, quanto na Internet atuam como combustíveis. “Ao mesmo tempo que canso o meu físico, ganho muito com cada feedback positivo. Uma palavra das crianças, um abraço, ou em elogio por mensagem dizendo que meu exemplo tem inspirado me renova”, comentou.
Por fim, Aline deixou uma mensagem para as mulheres que hoje têm vontade em atuar em funções tradicionalmente ocupadas por homens, mas ainda tem medo do que pode ocorrer neste processo. Ela afirmou que as mulheres não podem nunca duvidarem de sua capacidade e precisam entender que uma delas são muito especiais a sua própria maneira.
“Eu tive certeza disso quando me coloquei a prova, intelectual e fisicamente, para passar no concurso e o meu resultado me surpreendeu. Depois disso pensei, o céu é o limite. Quero dizer para que se valorizem como ser humano, como mulher, não aceitem metades, não aceitem migalhas. Que se encham de si, que saibam sempre que são amadas de Deus, princesas em Cristo, que com ele somos mais que vencedoras”, finalizou a policial militar.