Os salvadores, e salvadoras, da Pátria na pandemia

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    Um serviço que tem sido, ainda mais, fundamental durante o isolamento social Ă© o de entrega em casa. E alĂ©m de dar conta de tantos pedidos, esses profissionais ainda tĂŞm outro desafio: viver na linha de frente da pandemia. Como o cliente nĂŁo pode ou nĂŁo deve ir atĂ© o estabelecimento, o produto precisar chegar atĂ© os domicĂ­lios. 

    De comida a medicamentos e outros tantos segmentos, nesse cenário, os motociclistas, que sĂŁo a principal forma de entrega em casa (delivery), se tornaram trabalhadores de um serviço essencial. Mais do que isso, eles se arriscam todos os dias quando saem de casa para que mais pessoas nĂŁo precisem sair. SĂŁo os novos herĂłis sobre duas rodas. 

    Apesar dessa importância toda, há ainda muita gente que os enxerga com desprezo e com preconceito. Há casos de repercussĂŁo nacional que podem ilustrar bem esse pensamento que, infelizmente, ainda persiste por parte de algumas pessoas.

    O medo e a necessidade
    O motoboy Lucas Eduardo da Silva, 22 anos, atua há dois anos como entregador em Rolândia e, no momento, faz entregas no ramo de alimentação. Ele confessa que a forma de entrega e o contato com os clientes ficou mais perigosa durante a pandemia, mas que apesar disso, nĂŁo pode deixar de trabalhar. “Estar na linha de frente me gera medo, mas tambĂ©m gera reconhecimento e respeito por parte de alguns clientes, e eu admiro isso”, afirmou.

    Ele acredita que, alĂ©m deles, outros colegas de profissĂŁo que estĂŁo em atuação neste momento tambĂ©m trabalham com medo e sempre estĂŁo correndo risco na mira do vĂ­rus. “Temos um certo medo porque temos muito contato com os clientes, o dia todo, em vários lugares. Isso Ă© um risco muito grande, pois nĂŁo sabemos o que nos espera no local da entrega”, ressaltou Lucas.

    Robson Eduardo de Morais Junior, 20 anos, tambĂ©m trabalha no ramo de entregas de alimentos no municĂ­pio há dois anos e afirma que, devido Ă  proibição de mesas nos estabelecimentos e depois a limitação presencial, as entregas aumentaram muito a rotina de trabalho deles e se tornou duplamente mais corrida. “Posso dizer que trabalho com medo sim, porque temos contato direto com muitos clientes todos os dias, passando dinheiro de mĂŁo em mĂŁo, cartĂŁo e as prĂłprias entregas. NĂŁo Ă© um vĂ­rus qualquer e toda vez que se fala em aumento de mortes, todos ficamos mais preocupados”, salientou Robson.

    ExperiĂŞncia e força de vontade
    Com mais experiĂŞncia na função de entregador, Rodrigo Henrique Ribeiro, 37 anos, está há 10 anos neste setor e tambĂ©m sentiu as mudanças na rotina de trabalho por conta da pandemia. Nascido em Rolândia, ele Ă© casado e pai de duas meninas: uma de 5 anos e outra de 7 anos.

    Rodrigo trabalha o dia todo para levar o sustento diário para a famĂ­lia, faz entregas no almoço, no jantar, e no perĂ­odo da tarde trabalha como zelador em um condomĂ­nio residencial de Rolândia.  Especialmente agora, quando muitas pessoas perderam seus empregos, ele se desdobra para poder cumprir o papel de chefe de famĂ­lia com muito empenho.

    Rodrigo afirma que a maioria das pessoas valoriza o trabalho dos entregadores, porĂ©m tem sempre alguns que nĂŁo respeitam e veem o trabalho dos motoboys com outros olhos. “Há pessoas que nĂŁo nos enxergam como prestadores de serviço, como pais de famĂ­lia, e acabam nos comparando com outro perfil de pessoas que andam de motocicleta. Mas, no geral, tem muita gente que nos respeita”, salientou.

    Respeito e preconceito
    Falando sobre respeito e preconceito, o entregador Robson, afirma que nunca vivenciou uma situação de preconceito por parte dos clientes, mas, que já passou por muitas situações em que os clientes faltaram com respeito, ou o trataram de modo nĂŁo educado. “Sempre acaba acontecendo alguma situação desse tipo”, revelou.

    Já Rodrigo contou de um episĂłdio que ocorreu há trĂŞs anos. Ele foi fazer uma entrega e no local presenciou uma cena de violĂŞncia domĂ©stica contra uma mulher. “Ela pediu para eu chamar a polĂ­cia. Eu saĂ­ com a motocicleta do local e acabei encontrando uma viatura da PolĂ­cia Militar e pedi ajuda para ela”, relatou.

    Infelizmente, situações mais graves e reais de preconceito já foram registradas no Brasil. No ano passado, o entregador Matheus Pires Barbosa, 19, que trabalhava para aplicativos de serviços de alimentação sofreu agressões verbais e racismo por parte de um morador de um condomĂ­nio de casas em Valinhos, SĂŁo Paulo. Na Ă©poca, um vĂ­deo mostrava o momento em que o homem ofendia o profissional e dizia que ele tem “inveja disso aqui”, apontando para a prĂłpria pele de cor clara. O caso acabou viralizando nas redes sociais e foi um dos assuntos mais comentados no Twitter.

    TambĂ©m no ano passado, o dono de uma lanchonete de Goiânia disse que uma cliente nĂŁo deixou um entregador entrar no condomĂ­nio de luxo em que ela mora porque o homem era negro. Nas mensagens enviadas por um aplicativo, a mulher escreveu que deveriam mandar um motoboy branco. “NĂŁo vou permitir esse macaco”, afirmou. 

    Esperança, muito trabalho e cuidado!
    Lucas orienta que todos os colegas de profissĂŁo continuem tendo o máximo cuidado porque alĂ©m dos perigos das ruas, agora o coronavĂ­rus tambĂ©m Ă© um grande risco para quem trabalha com entregas. “Precisamos nos cuidar muito, pois sempre vai ter alguĂ©m nos esperando do outro lado e temos que tomar o máximo cuidado e termos respeito pelo outro. Que neste momento a gente possa se unir porque somos uma categoria que cada dia que passa cresce mais, e juntos temos muita força”, ressaltou.

    Robson tambĂ©m falou sobre estes cuidados que sĂŁo indispensáveis neste momento. “Temos que nos cuidar sempre, ainda mais em uma pandemia, usando máscaras, álcool em gel o tempo todo, lavar as mĂŁos e nĂŁo ficar muito prĂłximo a outras pessoas, evitar sempre o contato prĂłximo”, pontuou. 

    Motogirls em ação
    A profissional Maria Fernanda da Silva Santana, 30 anos, Ă© casada e tem duas filhas (uma de 5 e outra de 10 anos). Há um ano atuando como entregadora, confessa que a motivação de fazer o que faz todos os dias Ă© pela paixĂŁo que tem ao universo das motos. “Na minha profissĂŁo, eu uni o Ăştil ao agradável”, afirmou. 

    Maria está entre a minoria de mulheres que atuam na profissĂŁo e confessa que um dos motivos do setor ainda ser majoritariamente masculino se dá pelo medo por ser uma atividade um tanto quanto arriscada. “NĂŁo Ă© fácil, passamos por muitos sustos. Já vivi uma situação no Contorno Norte, no perĂ­odo da noite, em um outro motorista ultrapassou um caminhĂŁo e veio pela pista contraria em minha direção. Quando ele passou, veio outro atrás, foi o maior susto que eu já levei”, relembrou.

    A entregadora tambĂ©m pontuou que muitas pessoas reconhecem o trabalho desenvolvido por eles, e reconhece o grande risco que ela e os colegas de profissĂŁo estĂŁo enfrentando neste perĂ­odo. “A gente entrega atĂ© para quem está contaminado, mesmo tomando todos os cuidados. E me dĂłi muito quando preciso fazer uma entrega para alguĂ©m que está doente e preciso deixar a comida no chĂŁo para a pessoa pegar em seguida. Mas, nĂŁo tem o que fazer, Ă© pela nossa saĂşde”, lamentou.

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