Ser um profissional da saúde é hoje, mais do que nunca, uma contribuição para humanidade e para a vida, pois ele dá o melhor de si, todos os dias, em prol da saúde de um desconhecido e, muitas vezes, perde horas de descanso ou de contato com a família. Em reconhecimento à importância desse profissional em um momento tão delicado da história da humanidade, muitas homenagens têm surgido ao redor do mundo, inclusive aqui em nossa região.
Recentemente, o artista plástico rolandense, Jota Dias, homenageou os profissionais da área saúde por meio da sua arte. Inspirada em vitrais de igreja, o grafite produzido com spray, tinta e rolo pode ser visto na parede de um estabelecimento comercial localizado na rotatória da avenida Robert Koch, em frente ao HU (Hospital Universitário), da cidade de Londrina. Para quem não sabe, o HU é o Hospital (com letras maiúsculas mesmo) referência para várias cidades no tratamento da Covid-19.
Jota Dias falou com o JR e revelou que tem uma irmã que atua na área da saúde e compreende, mais do que nunca, o valor que o trabalho desses profissionais tem para todos. “Diante de tantas coisas que esses profissionais vêm enfrentando com a pandemia, essa obra é o mínimo que eu, como artista, posso fazer”, afirmou Jota.
A motivação para fazer a obra nada mais é que uma pequena demonstração de carinho, e de valorização, aos trabalhadores que atuam na linha de frente do coronavírus diariamente. “Na obra eu lembrei de representar todos os profissionais que trabalham no setor: atendente, técnico, enfermeiro (a) e médico (a)”, ressaltou.
O artista pontuou que ouvir as histórias vivenciadas pela irmã lhe chamou muita a atenção, tanto pelas situações de perdas de vítimas quanto pelos problemas que ocorrem com ela e com os colegas dentro do hospital e que acabam os afetando até psicologicamente. “Depois disso eu disse que precisava criar algo. Eu, como artista de arte urbana, preciso valorizar essa profissão e seus profissionais. Aí tive a ideia de pintar o muro deste estabelecimento próximo ao HU”, revelou.
Para fazer a obra o artista utilizou várias técnicas com o auxílio de rolo, tinta e spray, e o conceito principal foi de sacralizar a profissão saúde e todas as pessoas que estão envolvidas nessa atividade. “A ideia de sacralizar e transmitir essa conotação de divino é para exatamente demonstrar o quanto esses profissionais estão todos os dias entre a vida e a morte, e são quase sacerdotes que lutam diariamente para aqueles que estão acometidos não venham a perder suas vidas”, afirmou o artista.
Os elementos que o artista utilizou para levar essa concepção de santidade foi o halo, que na arte representa uma aura ou brilho de santidade, que é convencionalmente desenhado circundando a cabeça. “E também utilizei alguns elementos que fazem alusão aos vitrais que nós vemos nas igrejas e nas catedrais”, relembrou.
Mas essa não é a primeira vez que o artista usa a pandemia como temática para as suas obras. No ano passado, ele grafitou três personagens das HQs, o Coringa, o Superman e a Alerquina, com máscaras de proteção no muro do Colégio Vicente Rijo, em Londrina. “A ideia era mostrar que a pandemia não faz escolhas, ela atinge a todos, por isso, precisamos sempre nos preservar”, explicou.
Jota Dias afirmou que não há como minimizar as coisas que estão acontecendo e simplesmente não perceber quantas vida estão sendo perdidas com essa pandemia na região, e no Brasil. “É muita gente indo embora por conta desse vírus, por isso existe sim a necessidade de se precaver e de avisar as pessoas que estão ao nosso lado”, alertou.
Sobre o artista
Jota Dias é um artista rolandense formado em Artes Visuais pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), e também é especializado em Arte-Educação e em Arte e TV. Ele também atua com criação, produção e pós-produção de Rádio e TV, e já foi o responsável pela criação de alguns curtas-metragens como Vida de Manequim e Nanuk Mathilde Hoster.
Irmã inspirou artista
A irmã de Jota Dias, Márcia Garrido (48), que inspirou o artista nas obras realizadas, atua há 20 anos na área de saúde pública, e sete especificamente na Enfermagem. Atualmente ela trabalha em um hospital de Ibiporã na ala da Covid-19. Ela se sentiu muito homenageada com a obra feita pelo irmão.
“Me senti honrada e sensibilizada com o que ele quis passar, foi uma surpresa e eu realmente não esperava. Confesso que foi muito gratificante, especialmente por ser irmã dele e me senti muito mais honrada pela minha profissão que escolhi exercer. Apesar de tudo que a gente passa é muito gratificante trabalhar na área”, afirmou.
A enfermeira afirma que o desgaste é enorme, é psicológico, físico e emocional. Em meio a muitas histórias vivenciadas por ela na rotina hospitalar, algumas chamaram muito a atenção da profissional. “Nós já tivemos casos de famílias grandes em que os membros faleceram todos no mesmo dia. É uma dor muito grande e o pior é que essas pessoas que perdem seus familiares não podem nem se despedir. É algo muito triste”, afirmou.
