Caminhos, desafios e destinos de um seminarista

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    Em 1958, entrei no Seminário Maior da Diocese de Gozo, pois já tinha definido minha vocação de ser padre. Mas não queria ser padre para exercer meu ministério em Malta, pois já havia padres suficientes por lá. E, naquele tempo, havia grande incentivo missionário no Seminário, pois vinham diversos missionários malteses e italianos nos relatando suas experiências missionárias na Índia ou nalgum país africano. Mais ainda, o Papa Pio 12 e, mais tarde, o Papa João 23, faziam apelos para que a Europa ajudasse países de outros continentes onde faltavam padres para evangelizar, também a América Latina. 

    Meu pai estava emigrado ainda na Austrália e desejava que eu fosse ser padre naquele país. Mas, para mim, a emigração para Austrália era para trabalhar e ganhar dinheiro e não para ser missionário. Com o passar do tempo, começou a crescer em mim a vocação de ser padre missionário nalgum país africano. Kenya? Ghana? Rodésia? Ao mesmo tempo, descobri no Seminário um colega, José Xuereb, que tinha as mesmas intenções e começamos a tramar juntos como irQQíamos concretizar nosso sonho. O diretor espiritual nos aconselhou que fôssemos trocar ideias com o Bispo local, Dom Joseph Pace, o qual nos acolheu com muita benevolência. Ele nos disse que ele tinha contatos com nenhum Bispo africano: “Como posso mandar vocês pra lá? Um continente tão complicado!”

    E, de repente, como que por inspiração, Dom Pace nos disse: “Por que não o Brasil?”  Olhamos um para outros e demos uma risadinha de leve porque nunca tínhamos ouvido falar deste país. Pensávamos até que fosse algum lugar na África! Isto ocorreu no último trimestre do ano 1959. Acontece que alguns meses antes deste nosso diálogo com Dom Pace, em 1958, tinham acontecido em Roma as reuniões preliminares em preparação ao Concílio Vaticano 2º (1962 – 1965) e o Bispo da recém criada Diocese de Londrina, Dom Geraldo Fernandes, esteve em Roma. Entre as sessões, ele, conversando com o Bispo de Jacarezinho, Dom Geraldo de Proença Sigaud, disse que em Malta havia muitas vocações sacerdotais e religiosas: é que Dom Sigaud havia acolhido em sua Diocese, antes da divisão das duas, as Irmãs Franciscanas de Malta em 1954. 

    Dito e feito: Dom Geraldo Fernandes pegou um avião e desembarcou em Malta à procura de padres ou seminaristas de Teologia que viessem terminar seus estudos aqui no Brasil. Foi recebido com muito carinho pelo Arcebispo Dom Michael Gonzi, o qual delegou o reitor do Seminário Maior Arquidiocesano, Mons. Victor Grech, para acompanhar o Bispo brasileiro. Claro, não podia deixar de visitar a Diocese de Gozo e seu Seminário. E, indo de carro para o porto donde partiam os navios para a Ilha de Gozo, enquanto passavam pela Baía de São Paulo, onde o Apóstolo Paulo havia naufragado no ano 60 da era cristã (Atos dos Apóstolos, capítulo 28), o Reitor explicava para o Bispo: “Olha, Excelência, foi ali que o Apóstolo Paulo naufragou!”. Era o mês de fevereiro, mês de temporais e mar agitado; o Bispo olhou, viu aquelas ondas furiosas e, tremendo de medo, exclamou: “Não vou mais para Gozo, não sou Apóstolo Paulo e não quero naufragar aqui”. Mais tarde, ligou para Dom Pace, pediu desculpas e ficou combinado que, tendo algum vocacionado à missão no Brasil, fosse encaminhado para Mons. Victor Grech. E, assim, por indicação do Bispo Pace, iniciamos nosso contato com Mons. Grech, o qual nos informou que no Seminário de Malta havia outros três seminaristas querendo ir ao Brasil: Bernard Gafá, Frans Debattista e Carmelo Mercieca. Ao mesmo tempo, me deu o endereço postal do Bernard Gafá para podermos corresponder e nos estimular mutuamente no ideal missionário.

    O mais difícil era como transmitir à minha mãe esta minha decisão porque, como meu pai estava longe de casa, ela tinha se tornado a comandante da família. A coitada já tinha sofrido tanto com a separação dos dois irmãos, depois com a separação do marido e, agora, com a vez do filho mais velho querendo sair da casa para ir para o desconhecido. Convidei o pároco e amigo meu, Pe. Alan Fenech, para conversar com minha mãe juntamente comigo… Ela, repleta de fé, disse apenas: “Se esta é a vontade de Deus, quem sou eu para contrariá-la? Que você seja feliz nesta vocação”. E começou a chorar! Choramos juntos! Grande mulher!

    E foi com imensa alegria que, no mês de maio de 1961, que recebi a primeira carta do Brasil, que me dizia em italiano: “Ao seminarista Giuseppe Agius, Dom Geraldo Fernandes, Bispo de Londrina, PR, saúda e abençoa o caro seminarista que o Senhor envia à minha Diocese. Serei feliz de poder vê-lo a meu lado em outubro. Reze por mim e pela nossa Diocese”. Londrina, 25-04-1961

    E, no dia 18 de dezembro de 1961, nós cinco, Joseph Agius, Joseph Xuereb, Bernard Gafá, Frans Debattista e Carmelo Mercieca, chegamos em Londrina e fomos acolhidos carinhosamente pelo Bispo Dom Geraldo Fernandes, o qual nos mandou para Rolândia, onde fomos hospedados por dois meses pelo pároco Pe. Carlos Bonetta (italiano) e as Irmãs Franciscanas (maltesas), antes de irmos a Curitiba para  iniciarmos o curso de Teologia no Seminário Maior Rainha dos Apóstolos e Studium Theologicum.

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