Bryan Teles, 20 anos, nasceu em Apucarana, mas muito pequeno veio para Rolândia. Atualmente Bryan trabalha com vendas na região central do município e também é Influencer Digital no Instagram, no qual já possui 80,8 mil seguidores e no TikTok, plataforma em que número é ainda maior: 475,7 mil seguidores. De modo irreverente e divertido, Bryan utiliza as redes sociais para transmitir sua mensagem sempre com muito humor e mostra ainda um pouco mais de sua personalidade e seus hobbies.
Na semana do dia do Orgulho LGBTQIA+ (28 de junho), esse rolandense vem destacando muito no meio digital, e que tem um modo muito leve de mostrar quem verdadeiramente é. Sempre aliado ao humor e a um universo que ele descobriu há alguns anos gostar muito, o das drag queens. “Desde que eu me conheço por gente eu sou desse jeito. A minha família sempre fala que tenho fotos que desde bem pequeno eu sempre fui desse jeitinho em todos os lugares, inclusive na escola. E em casa todos já notavam o meu modo ‘diferente’ de ser. Para a minha família foi complicado no início, não por eles, pois todos sempre foram muito acolhedores comigo, mas pois eles tinham um pouco de medo também do preconceito que eu poderia sofrer, e do que eu iria enfrentar”, revela Bryan.
O apoio da família
Ser, com orgulho, o que se é em qualquer lugar. Para a comunidade LGBTQIA+, esse é um enfrentamento que começa, quase sempre, em casa, no núcleo familiar. Atualmente, Bryan mora com a mãe, Graciela Moura, e com o padrasto, e afirma que mesmo que ela tenha tido receio no começo nunca o demonstrou e sempre o apoiou muito.
“Eu sei que no fundo ela sentia medo, coisa de mãe, né? Mas sempre foi super tranquilo, eu nunca tive que chegar para a minha família e falar: gente, eu sou gay; porque foi uma coisa tão natural. Teve alguns momentos que eles duvidavam e pensavam (será que ele é mesmo?), mas aí eu afirmava que eu era sim e pronto”, relembra.
Para ele, o apoio da família para uma pessoa que se reconhece como LGBTQIA+ é fundamental, pois a família sempre deve ser o local acolher e seguro, e quando isso não é uma realidade, tudo se torna muito mais difícil. “Os familiares sempre podem apoiar quem é assim dentro do meio familiar, e não descriminar, pois não há nada de errado em ser quem realmente você é”, afirmou. “Eu nem me imagino sem o apoio deles, e sei que há muitos jovens que quando se assumem precisam sair de casa cedo, pois eles não conseguem ser eles mesmos”.
O universo drag – A drag queen é uma performance temporária, sem necessariamente sempre ter a ligação com a orientação sexual. Bryan revela que sempre adorou esse universo, porém, nunca tinha tentado se “montar” e sair para as baladas e festas, como muitos de seus amigos faziam. Ele tinha vontade de fazer o mesmo, mas ficava com dúvidas se iria gostar. Foi a partir de sua grande inspiração na cantora Pablo Vittar, e outras artistas internacionais, que ele finalmente resolveu testar e o resultado foi surpreendente para ele. “Quando eu fiz 18 anos no dia 1º de outubro de 2018, começou a aflorar mais esse desejo. No dia 28 de outubro de 2018 aconteceu a minha primeira montação em uma festa halloween, e foi daí que começou e peguei gosto pela coisa. Comecei a buscar dicas de make com amigas que já se montavam e olhando elas, assistindo tutoriais, comecei a me inspirar.
Nunca fiz curso de maquiagem, foi mais no dia a dia mesmo que eu aprendi na prática como me maquiar”, conta.
Após essa nova descoberta, Bryan também trouxe esse aspecto da drag queen para as suas mídias digitais, e mesclou o que ele já fazia que era mais voltado ao humor, e já tem um ano que ele uniu ambos e mostra tudo por lá. Ele afirma que, depois de se maquiar e colocar a sua lace, se sente incrível e adora o que vê no espelho. “Além de me sentir muito bonita, sentimento que eu tive desde a primeira vez que eu me montei porque geralmente na primeira vez é sempre estranho, eu já me senti muito linda. Eu sinto uma força que eu não sei explicar, é uma coisa até difícil de se caracterizar aqui, mas foi algo que como se eu tivesse levado um ‘empurrão’ que me mostrou que poderia sim ser quem eu queria. Foi uma coisa realmente muito libertadora”, ressalta.
A internet – Bryan é um fenômeno nas redes há algum tempo, mas foi depois de um vídeo antigo dele viralizar que ele se tornou muito mais visto e hoje tem muitos seguidores que diariamente visualizam o seu conteúdo. “Estou recebendo muito carinho, não esperava que aquele vídeo ia viralizar tanto, realmente foi um divisor de águas para mim”, confessa. Ele tem agora planos para as suas mídias e vem recebendo propostas: “Quero um dia trabalhar só com internet e espero que eu consiga”.
Um aspecto importante abordado por Bryan é enquanto ao apoio que ele, enquanto influencer, também recebe nas mídias. “Desde de quando eu comecei a fazer conteúdo, há cinco anos eu sempre tive alguns seguidores que nem me conheciam pessoalmente, que moravam longe e já me apoiavam muito. Eu percebo que muitos amigos não me apoiaram assim como essas pessoas que eu nem conhecia, e que começaram a levar em consideração o que eu faço, somente agora que eu estou crescendo”, afirma.
O cenário no Brasil – O Brasil ainda registra índices altos de mortes violentas da população LGBTQIA+. O relatório “Observatório das Mortes Violentas de LGBTI+ no Brasil – 2020”, produzido por pesquisadores do Grupo Gay da Bahia e do grupo Acontece Arte e Política LGBTI+, mostra que nos últimos 20 anos mais de 5 mil pessoas da comunidade foram assassinadas ou se suicidaram por LGBTfobia.
“Parece que quanto mais a gente luta e mais a gente grita pelos nossos direitos, somos cada vez menos escutados. É muito triste todas essas tragédias que eu vejo acontecendo. Graças a Deus eu nunca fui vítima de agressão, mas sempre observei os olhares, comentários, as risadas, isso sempre, não só por ser gay, mas também por seu negro”, comenta Bryan.
“Não é fácil ser LGBT no Brasil em todos os aspetos, todos os dias a gente tem que levantar da cama e matar um leão”, afirma. Bryan, assim como toda a comunidade LGBTQIA+, deseja que esses índices caiam e que as pessoas realmente entendam que questões ligadas ao gênero, e a orientação sexual do outro, não precisam de opinião, mas apenas e somente de respeito.