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“Eu e o câncer de mama”

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Angela Turini descobriu o Câncer de Mama aos 42 anos e contou ao JR como enfrentou a doença

Meu nome é Angela Mara Turini Bezerra, tenho 44 anos, sou casada e tenho dois filhos: Diogo de 18 anos e Davi com 13 e há exatamente dois anos recebi o diagnóstico de câncer de mama. Um diagnóstico que não era compatível comigo. Eu amamentei meus dois filhos até um ano e meio de idade, sempre fui ativa e um dos planos para 2020 era correr uma maratona. Nunca fumei, não sou de beber. Como assim, câncer de mama?

Havia várias pessoas próximas que tiveram, uma cunhada. Lembro-me bem do dia que ela recebeu o diagnóstico, o sofrimento da família, a luta dela com todo tratamento. Participava de um grupo e uma das integrantes também teve. Como mulher colocava-me no lugar dela, imaginando o sofrimento das químios, ficar careca, mas ela, assim como minha cunhada, demonstrava sempre força.

No começo de 2020, tive duas tias com o mesmo diagnóstico. Uma tia paterna em fevereiro que acompanhei de perto a etapa da cirurgia até a tirada do dreno. Ela ficou na casa de minha mãe e quando voltou para a casa o coração não aguentou, faleceu. A outra tia, minha madrinha, irmã de minha mãe, em março também foi diagnosticada. Minha mãe ajudando a cuidar da cunhada em casa, com pandemia e todo aquele afastamento social, não podendo nem visitar a irmã. Foram dias difíceis, mas graças a Deus, tudo passa.

O meu diagnóstico veio em setembro de 2020. Final de agosto fui ao ginecologista com a intenção de colocar um DIU. Na consulta, o médico sentiu um nódulo na mama direita e eu já saí do consultório com tudo esquematizado, com as datas para colocar o contraceptivo e com pedidos de mamografia e ultrassom da mama.

Aí começou! Ao pegar os resultados dos exames apareceu o tal do ‘BI-RADS IV’ e o ginecologista, muito prestativo, já me indicou um mastologista e já deixou pedido os exames que ele faria. Quando cheguei na primeira consulta com o mastologista, ele desenhou um círculo e explicou que se o nódulo tivesse aquele formato estaria “tudo bem”, mas como o meu não era, então era um nódulo maligno. Com toda sua experiência e sabedoria nos orientou com todos os exames a serem feitos e disse que passaria por um momento difícil, mas que 80% da cura dependia de mim. E assim começou nossa batalha.

Mas só pra confirmar, no dia 28 de setembro de 2020, recebi o laudo da biópsia CARCINOMA MAMÁRIO INVASOR, GRAU 3. Nesse mesmo dia, o mastologista me atendeu, pediu mais exames para definir o tratamento. Saí de lá pensando em tudo o que aconteceu com minha cunhada, com minha amiga, com a tia. Agora era minha vez.
O médico falou com tanta convicção que era maligno, mas mesmo assim fiquei esperando o resultado da biópsia para falar para as pessoas o que estava acontecendo. Foi muito difícil falar para as pessoas mais próximas, porém depois parece que tudo vai ficando mais leve. As pessoas são muito solidárias, e recebi muitas mensagens de força, de oração e até mesmo testemunhos de pessoas que passaram por dificuldades parecidas e não tinham falado ainda.
Com exames feitos, consulta com oncologista, foi traçado o tratamento. Seriam 6 quimioterapias brancas com intervalo de 21 dias. Nos primeiros dias sentia dores no corpo como se fosse virose, mas na segunda semana já conseguia fazer pequenas caminhadas na rua. Fiz a segunda, a terceira e passei por consulta com o mastologista, que já fez alteração no tratamento. Segundo ele, o nódulo era pra ter diminuído e não tinha acontecido. A intenção era diminuir o nódulo que era de 2,5 cm para fazer cirurgia só do quadrante.

Passei a fazer químio vermelha com intervalos menores. Eram duas semanas não muito boas, quando estava melhorando já fazia outra. Na semana de químio não conseguia sair de casa. Foram três químios vermelhas. Na quarta eu não estava bem, me sentia muito cansada e apesar dos exames de sangue estarem bem não conseguia ficar em pé.
Optaram por fazer a cirurgia e nova bateria de exames. Nesse intervalo, meu pulmão estava 75% comprometido. Fiquei 7 dias internada com 3 exames de covid negativo e o médico que me acompanhou tinha Covid e chegou a ser intubado. No sexto dia de internamento, ele me falou que não acreditava que tinha me recuperado, pois quando cheguei meu estado clínico era bem pior que o dele e nem precisei ir para UTI.

Tive alta, era pra esperar pelo menos um mês para a realização da cirurgia, mas com 15 dias refiz exames e o pulmão estava liberado. Aí veio outro momento difícil. O nódulo que era de 2,5cm tinha aumentado, pelos exames estava com 5 cm, e o CARCINOMA MAMÁRIO INVASOR passou a ser GRAU 6, resultado, mastectomia total.

Nessa altura do tratamento, a vaidade que não era muito ficou quase nada. Estava muito acima do meu peso, aquele rosto de doente, inchado, pálido. Fiz a mastectomia total com esvaziamento de axila, fiz fisioterapia, 28 sessões de radioterapia, hoje estou bem e de quatro em quatro meses passo por consultas com mastologista e oncologista e alguns exames de rotina.

Muitas vezes pensava na minha tia, já de idade, que aguentou fazer dezenas de quimioterapia e eu, com a metade da idade dela, não aguentei fazer todas. Pessoas falavam que conheciam ou sabiam de pessoas que não pararam suas atividades, trabalhavam, corriam durante o tratamento. Eu não conseguia caminhar, ficar em pé por cinco minutos, a careca suava, me achava fraca impotente por não conseguir. Já depois de ter acabado as quimioterapias, conversando com o oncologista, ele falou que cada paciente é um tratamento e que o meu foi bem agressivo para ver se o nódulo respondia, até brincou: “Mulher, quase te fritei.

Lá nos primeiros dias em que estava procurando informações sobre a doença, sobre o tratamento, uma amiga me falou: “tudo passa”. Na hora achei tão pouco, mas hoje entendo, é tudo passageiro. São dias de tempestade que parecem não ter fim. Hoje ninguém morre por isso, graças a Deus tem tratamento e cura. Mas os sentimentos de medo, angústia e insegurança eram grandes. Cada consulta que ia levava uma lista de perguntas, o médico só respondia: “um dia de cada vez”.

O pré-tratamento foi mais desafiador e doloroso. O receber a notícia que está com câncer; o falar para as pessoas que ama o que você tem; a angústia da espera para realizar os exames; a espera de ver os cabelos caindo após a 1ª quimioterapia, porém, ao passar por cada etapa destas, ganhei força, confiança, me abasteci das orações recebidas e encarei o inimigo. Só queria começar e acabar o mais rápido possível.

Tenho certeza que consegui passar por tudo isso porque eu estava perto de Deus. Em plena pandemia, Ele me fez ir ao ginecologista, colocou os melhores médicos no meu caminho, as pessoas certas nas horas certas. Tive e tenho muito apoio do marido que foi fundamental desde as primeiras consultas até hoje, apoio e compreensão dos filhos, porque estávamos passando por uma pandemia e, eu, com imunidade baixa, então não podíamos ficar saindo de casa. Apoio dos amigos sempre com gestos de carinho por mim e com minha família. Apoio de toda família, da cunhada que me acompanhou muitas vezes que precisei ir na emergência do Hospital do Câncer.

Acabei a radioterapia no mês de junho de 2021, foram 10 meses desde a descoberta até a última rádio. Aquela pessoa ativa, disposta, sempre pronta pra fazer qualquer coisa não existia mais. Levantava da cama escorando nas paredes e móveis. Me ajoelhava para rezar e precisava de ajuda para levantar, tudo doía. Mas não queria aceitar ficar assim. Procurei ajuda de fisioterapeuta, voltei para academia, comecei a caminhar, tudo do zero novamente.

A maratona de 2020 aconteceu no mês de agosto deste ano. Depois de 1 ano e 2 meses, não corri os 42km, mas consegui com muita alegria e esforço correr 10km: a “ minha maratona”.

Muitas vezes não imaginamos o quão forte somos, mas tendo fé em Deus e pessoas queridas ao nosso lado conseguimos passar pelos obstáculos da vida e sair vitoriosas. O câncer de mama pode atingir qualquer mulher em qualquer idade. Sei de mulheres com seus 20 e 30 anos que passaram e venceram. E não importa a sua idade, procure fazer alguma atividade física quando se sentir bem, pois ajuda muito.

Ainda acompanho alguns grupos de apoio às mulheres com câncer e sempre tem relato de alguém com dor, formigamento, inchaço nos braços, sequelas que a quimioterapia deixa, e eu posso dizer que os exercícios físicos me ajudam muito a não sentir esses sintomas. Quando fico dias sem fazer alguma atividade física, o corpo começa a reclamar, o braço incha e começa a formigar, e uma simples caminhada já me ajuda a aliviar.

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