Por Edneli Costa – Psicóloga
O câncer é uma doença muito antiga, com registros datados em épocas anteriores a Cristo e que, ao longo da história, foi sendo considerada como uma doença incurável e terminal. Essa construção histórica acerca da doença contribuiu para que ela fosse associada a um medo profundo de adquiri-la. Contudo, atualmente, os avanços da medicina trazem boas perspectivas de tratamentos e possibilidade de cura em muitos casos. No caso específico do câncer de mama, essa probabilidade chega a ser de 98% dos casos descobertos precocemente.
Ainda assim, a experiência de receber um diagnóstico de câncer é desafiadora tanto para pacientes como para todo seu contexto familiar. Além dos efeitos físicos, o câncer também desencadeia reações devastadoras no âmbito emocional. As reações podem ser variadas em cada pessoa, a depender de sua personalidade, vivências anteriores e contexto social, dando origem a diferentes respostas comportamentais. Ao recebermos uma notícia como essa, nosso cérebro entende como um ‘sinal de alerta’, pois já aprendemos previamente (na nossa cultura) que o câncer é algo ruim e perigoso. Por isso, é esperado e compreensível que os sentimentos presentes inicialmente estejam relacionados à raiva, ansiedade, medo e tristeza.
Nesse momento, o que se espera é que tanto a pessoa diagnosticada quanto seu círculo familiar acolha e valide esses sentimentos. É esperado que tenhamos medo diante de uma ameaça. É natural sentir raiva quando nos vemos impotentes diante de uma situação. E como não ficar triste frente a uma sensação de desesperança? É necessário que a pessoa se permita passar por essa fase, regular suas emoções, acolher e aceitá-las, para que daí, então, possa agir apesar delas. Talvez elas estejam presentes ainda em alguns momentos ao longo do tratamento. Não é possível controlar as emoções, elas são respostas automáticas do nosso corpo, elas apenas acontecem. Mas podemos escolher como agiremos, apesar delas.
Para isso, é necessário que o paciente cuide também de seu bem-estar mental. Não apenas no momento do diagnóstico, mas também ao longo do tratamento, já que o paciente também poderá vivenciar frustrações, sintomas e terá que lidar com a espera pelo fim do tratamento que o coloca diante da incerteza em relação ao futuro, aumentando assim sua ansiedade e angústia.
Quanto mais a pessoa diagnosticada conseguir aumentar a sua qualidade de vida durante o tratamento, mais fácil será lidar com a doença. Algumas ações podem contribuir para que isso ocorra, como a realização de atividades físicas dentro das possibilidades de cada paciente e manter-se ativo em atividades que considera prazerosas (como hobbies, lazer…). Além disso, o convívio social pode ser um grande aliado para o paciente. Mesmo que, a princípio, surjam sentimentos e sensações relacionadas a medo de comentários ou do julgamento social, manter uma rede de apoio na qual se sinta confortável e seguro para expressar seus sentimentos e comunicar suas necessidades é uma ótima opção para aliviar as emoções desagradáveis que possam estar presentes.
Outras estratégias de enfrentamento que têm se mostrado bastante úteis como suporte para se conviver com a doença são a espiritualidade e a religiosidade, pois ajudam o paciente a lidarem com o sentimento de desesperança. Além disso, existe uma área da psicologia, a psico-oncologia, que é dedicada ao estudo e tratamento de pacientes com câncer, auxiliando o paciente a lidar com seus pensamentos e sentimentos, aceitação da doença e melhora da qualidade de vida. Portanto, a busca por apoio psicológico para o enfrentamento desta enfermidade pode contribuir muito com o tratamento.
Por fim, é importante também que o paciente esteja ciente de que está passando por um período em que seu corpo e sua mente estão fragilizados em decorrência da doença. Portanto, é necessário respeitar seus limites, saber pedir ajuda quando for preciso e encarar com otimismo o tratamento, pois as expectativas em relação à melhora são bastante positivas!
Edneli Costa é Psicóloga clínica infantil e adulto, mestre em análise do comportamento
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