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O serpentário como forma de preservação e prevenção

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Profissionais da área estudam a possibilidade de criar um ambiente de pesquisa e preservação de serpentes na região de Londrina, possivelmente na UEL; projeto poderia ampliar a produção de soros no Estado e salvar mais vidas

“Podemos ser craques em muitas coisas”, lembra Daniel Steidle – acima, uma jararaca capturada na Bimini e que, posteriormente, foi solta. Serpente poderia ser levada para um local adequado

Aprendemos que todos os animais desempenham um papel vital em nosso ecossistema. Mas o que aconteceria se não houvesse mais serpentes? Elas fazem parte da cadeia alimentar como predadoras e presas. Quando predadoras, comem diferentes tipos de presas, dependendo da espécie. Elas também servem como alimento para aves, répteis e mamíferos.


Um fator que influencia diretamente na redução da população de cobras são as questões ambientais. À medida que o ser humano modifica o meio ambiente, os animais podem perder seu espaço natural. Além disso, estudos indicam que 98% das serpentes do Paraná são mortas e não possuem um local adequado para serem encaminhadas, quando capturadas.


Ainda dentro dessa pauta, no último sábado (20), Rolândia e região receberam a visita do pesquisador Érico Vital Brazil, neto do imunologista Vital Brazil, que teve um grande protagonismo no desenvolvimento de soros contra venenos de animais peçonhentos, como serpentes, escorpiões e aranhas – que, até hoje, salvam milhares de vidas no país. Érico já esteve em Rolândia em visita à escola rural municipal Vital Brasil, que fica no Deizinho do Vermelho. A visita de Érico deve alavancar o projeto de um possível serpentário em Londrina, dentro da própria UEL.

Estudo de serpentes
Preocupado com os dados do extermínio de serpentes e também com os poucos hospitais que têm soros contra venenos e peçonhas, Daniel entrou em contato com outro profissional, Erickson Moura, do Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiológicos – CPPI, que fica em Piraquara e é um dos quatro laboratórios oficiais responsáveis pela produção de soros hiperimunes do Brasil. A unidade é a produtora exclusiva do Soro contra acidentes com aranha-marrom (Soro Antiloxoscélico trivalente); e produz também o soro contra os acidentes com Jararaca (Soro Antibotrópico Pentavalente).


Assim como os outros produtores de Soros Hiperimunes (Instituto Butantan; Instituto Vital Brazil; Fundação Ezequiel Dias), a Unidade necessita de venenos de serpentes para a produção do Pool antigênico (mistura de venenos das espécies de interesse médico para a produção de matéria-prima dos soros hiperimunes). Esse pool antigênico precisa ser formado com amostras de veneno bruto de espécies de diferentes idades; tamanhos e espécies, conforme preconizado pela Farmacopeia Brasileira.


Nesse sentido, a visita do Érico Vital Brazil na região de Londrina ocorreu pela necessidade de ampliação de campos de pesquisa na área de estudo de serpentes de interesse médico, e também pela necessidade de parcerias entre os produtores de soros hiperimunes e comunidade para a obtenção de veneno bruto e serpentes para a produção de medicamentos.


A descoberta de Vital Brazil sobre a especificidade dos soros antipeçonhentos estabeleceu um novo conceito na imunologia. Através desse trabalho, Érico tem divulgado a história de seu avô, Vital Brazil, que dedicou sua vida à pesquisa e produção de soros antiofídicos e deixou um importante legado para a ciência e a sociedade brasileira.


Em uma carta de 1907, Vital Brazil doou a propriedade intelectual de suas pesquisas e patentes para a ciência e para os agricultores, abrindo mão de possíveis ganhos financeiros em prol do bem comum. Agora, a missão do neto é buscar por parceria técnica entre instituições de ensino e comunidade para a criação de um serpentário local, que tenha como propósito o recebimento, manutenção e fornecimento (quanto necessário) de serpentes aos produtores de soros hiperimunes; além de executar ações de pesquisa e educação em saúde na comunidade regional dentro dos próximos 5 anos.


Com isso, o ambientalista da Fazenda Bimini de Rolândia, Daniel Steidle, vai aproveitou a visita de Érico na região, para articular junto ao pesquisador esse serpentário na região, que além de pesquisa, preservação e prevenção, também busca desmistificar a imagem negativa das serpentes e valorizar sua importância para a biodiversidade.


“Nós falamos sobre isso na Prefeitura de Rolândia. Também tivemos uma palestra do Érico no Colégio Souza Naves, e também uma visita dele ao Deizinho do Vermelho, na escolinha Vital Brazil na qual ele esteve na inauguração, pois ele conduz toda a memória do avô”, disse Steidle. Érico também fará visitas ao Hospital Universitário de Londrina, que tem o Centro de Informações Toxicológicas (CTI), referência na região para pessoas mordidas ou picadas por animais peçonhentos, terá reuniões na UEL com professores e diretores de departamentos que trabalham com peçonhas.


Já o diretor do CPPI, Erickson Moura, acredita que esse projeto na região pode “começar por fases, em um primeiro momento (até para mostrar a viabilidade), talvez montar um local dentro da Universidade Estadual de Londrina por meio da fazenda-escola, viveiro, um pequeno lugar para estudo das serpentes. Esse investimento inicial pode ser desde interno da UEL, como com suporte de cooperativas agrícolas ou indústrias de produção de soros veterinários”, afirmou Erickson. “Depois desse projeto-piloto, pode-se pensar na expansão, como um local amplo para visitação e aumento da capacidade de recebimento de outras serpentes”, afirmou.


O diretor também comentou sobre os acidentes que ocorrem com serpentes. “O problema está na falta de clareza de informações em todos os pontos da cadeia: desde como evitar acidentes, como manejar serpentes, como dar o correto destino, para onde ser encaminhado, e em caso de acidentes como atender a pessoa acidentada da forma mais efetiva possível com o tratamento correto. Às vezes, problemas complexos podem ser diminuídos apenas com um processo bem desenhado e uma boa comunicação”, pontuou Erickson.


Atualmente, no Brasil são registrados cerca de 30 mil acidentes por ano provocados por serpentes, com um índice de letalidade de 0,5%. Ou seja, aproximadamente 150 pessoas morrem a cada ano depois de serem mordidas por cobras peçonhentas. Vale reforçar que na região, o único local que atende pessoas que foram picadas por serpentes, ou outros animais peçonhentos, é o CTI do Hospital Universitário. Em Rolândia, assim como em outras cidades da região, não existe um local específico para esse atendimento e as serpentes são mortas, sem a preocupação de serem levadas para algum local. As pessoas são levadas para uma UBS, para um Pronto Atendimento ou para um hospital e depois transferidas para o HU. Com um local de preservação e pesquisa desses animais, depois de capturados de maneira correta e segura, mais soros poderiam ser feitos e mais vidas poderiam ser salvas.

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