A cada ano, estima-se que ocorram mais de 10 mil novos casos de lesão medular no Brasil, sendo o trauma a causa predominante
As férias de verão são um convite ao descanso e às viagens para conhecer novos destinos e aproveitar os dias quentes. Nessa época, os riscos de acidentes de trânsito aumentam significativamente devido ao maior fluxo de veículos nas rodovias. O neurocirurgião Dr. Ivan Hattanda, que atua em Londrina, destaca que, entre as principais consequências dos acidentes nas estradas, estão as lesões medulares e no crânio – os chamados traumas raquimedular e cranioencefálico – que podem causar danos irreversíveis ao corpo.
De acordo com as “Diretrizes de Atenção à Pessoa com Lesão Medular”, publicadas pelo Ministério da Saúde, estima-se que ocorram a cada ano no País mais de 10 mil novos casos de lesão medular, sendo o trauma a causa predominante. Estudos em centros de reabilitação revelam que a maior parte dos casos relaciona-se a acidentes automobilísticos.
O uso do cinto de segurança é uma das medidas mais eficazes para prevenir lesões graves em acidentes de trânsito. Dados do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) mostram que o cinto reduz em até 50% o risco de morte e em 45% a probabilidade de lesões graves. Ele impede que os ocupantes do veículo sejam projetados contra o painel, o para-brisa ou para fora do carro.
Um estudo da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego apontou que o uso do cinto de segurança no banco da frente reduz em 45% as chances de lesões graves em sinistros e, nos bancos de trás, os passageiros ficam até 75% mais seguros.
Já para os motociclistas, o uso de capacetes é obrigatório, e as luvas, botas e jaqueta são essenciais para evitar lesões.
O que são lesões medulares?
Dr. Ivan Hattanda explica que a medula espinhal é uma estrutura importante do sistema nervoso central, que fica protegida dentro da coluna vertebral. Ela é responsável por transmitir as informações e comandos entre o cérebro e o resto do corpo (braços, pernas, tronco, pelve).
“As lesões medulares são danos à medula espinhal, decorrentes geralmente de uma fratura na coluna vertebral, que comprometem a comunicação entre o cérebro e o resto do corpo. Dependendo da gravidade e da localização da lesão, os sintomas podem variar de paralisia parcial a total tanto dos braços quanto das pernas, além de disfunções cardiorrespiratórias e geniturinárias”, define.
A lesão medular pode levar a alterações motoras, sensitivas, autonômicas e psicoafetivas. Estas alterações se manifestam, principalmente, como paralisia ou paresia dos membros, alteração de tônus muscular, alteração dos reflexos superficiais e profundos, alteração ou perda das diferentes sensibilidades, como tátil, dolorosa, de pressão, vibratória e proprioceptiva, além de perda de controle esfincteriano, disfunção sexual e alterações autonômicas, como controle de sudorese, de temperatura corporal, entre outras.
Os principais tipos de lesão medular incluem paraplegia e tetraplegia. A primeira é caracterizada pela perda dos movimentos e sensações nos membros inferiores (coxa, pernas e pés), geralmente causada por lesões na região torácica ou lombar. Pode ser uma perda total (paraplegia) ou parcial (paraparesia).
Já a tetraplegia é o comprometimento dos movimentos e sensações nos membros superiores e inferiores (nas mãos, braços, tronco e pernas). São associados a lesões na região cervical. Também podem ser total ou parcial.
Pessoas com lesões medulares frequentemente enfrentam complicações secundárias, como infecções pulmonares, urinárias e escaras devido à imobilidade prolongada; espasticidade muscular, que pode interferir na qualidade de vida; e depressão e outros transtornos psicológicos decorrentes das limitações físicas e sociais.
Tratamento começa na cena do acidente
De acordo com o Dr. Ivan Hattanda, as lesões medulares se dividem entre primária e secundária. A lesão primária é aquela que acontece já no ato do acidente, com o sintoma já presente no momento da lesão. A lesão secundária é a piora da lesão primária, ou seja, a medula já machucada recebe outros fatores agressores que aumentam o seu dano: uma piora da compressão medular devido um transporte ou mobilização inadequada do paciente ou uma falta de oxigênio ou circulação de sangue na medula devido a algum dano em outros órgãos.
Por isso, é importante destacar que o tratamento da lesão medular já começa na cena do acidente, durante o atendimento pré-hospitalar. Geralmente é realizado com a equipe do SAMU ou do SIATE, com a imobilização, estabilização e transporte da vítima de forma segura.
Chegando no hospital, a equipe do pronto-socorro já faz o primeiro atendimento hospitalar, diagnosticando os problemas e estabilizando a vítima.
Quando diagnosticada a lesão medular, o neurocirurgião é prontamente acionado, desencadeando uma cascata de medidas para o tratamento da lesão medular propriamente dita, que vai desde medicamentos, imobilização com colar e colete podendo, muitas vezes, passar por cirurgia.
“O tratamento cirúrgico para uma lesão medular, quando necessário, visa tirar o que está machucando a medula, seja um hematoma, um pedaço de osso devido a fratura da coluna ou até um corpo estranho. Durante a cirurgia, o neurocirurgião certifica que a medula está livre dessas compressões e, muitas vezes, é necessário estabilizar a coluna colocando parafusos, placas e hastes”, explica o Dr. Ivan.
Depois da cirurgia, vem um longo período de recuperação, reabilitação e readaptação. O tratamento multiprofissional, com fisioterapeuta, fonoaudiólogo, psicólogo, nutricionista, entre vários outros, é peça importante para restaurar o máximo de função do paciente.
Sugestão de Infográfico:
Medidas preventivas para evitar acidentes
- Usar cinto de segurança
- Respeitar os limites de velocidade e a faixa de pedestres;
- Evitar a condução sob efeito de álcool ou drogas;
- Realizar a manutenção regular do veículo;
- Usar cadeirinhas e assentos apropriados para crianças;
- Não falar ao celular no trânsito;
- Manter uma distância segura de outro carros;
- Usar as setas do veículo corretamente;
- Praticar direção defensiva.
Fonte: DNIT