Por Samuel M. Bertoco
Vamos começar com um subtítulo: Ambos os filmes oscilam muito e têm um resultado, como obra, de meia boca pra ruim. Pra quem boiou, foram lançados pelo Prime Vídeo na semana passada dois filmes que contam a história dos assassinatos dos pais de Suzane Von Richthofen por ela, seu namorado e o irmão dele. Um dos filmes conta a versão dela, enquanto o outro vai pela ótica de Daniel Cravinho, seu boyfriend.
Pra quem lembra – ou viu depois – ambos os julgamentos foram marcados por depoimentos manipulados e um jogando a culpa no outro de forma até meio caricata. A Justiça descartou quase tudo que foi falado e condenou todos a 40 anos de jaula. Então é estranho ver que o diretor optou justo por seguir a abordagem do julgamento. Na versão dela, Daniel é ganancioso, abusador e a convenceu a matar pela grana enquanto ela é uma moça inocente que acabou manipulada por amor. Na dele, quase o contrário, um rapaz trabalhador que era esculachado pelos pais da namorada rica cheia de problemas e bipolar.
Os filmes são espelhados e têm os mesmos problemas. O casal apresentou uma visão maniqueísta um do outro, e o filme simplesmente colou essa visão na tela, sem sutileza nem nuances. O filme não fabrica versões, mas conta as versões fabricadas por eles, e só por eles. É muito estranho porque sabemos que nenhum dos dois, realmente, diz totalmente a verdade e aí parece que estamos vendo 3 horas de um assassino acusando o outro, falando qualquer coisa aleatória pra parecer mais verossímil.
O filme tem seus méritos, a química do casal em cena é gigantesca e a atuação naturalista de Leo Bittencourt – Daniel – contrapõe uma Carla Diaz – Suzane – que brilha em alguns momentos, mas derrapa em vários, soando artificial. Aspectos técnicos como fotografia e trilha sonora são louváveis, mas para nisso.
No fim das contas, mesmo tendo que ver dois filmes, a sensação é que vimos uma história incompleta. Um relato frio que poderia estarmos lendo no Wikipédia em muito menos tempo.
Samuel M. Bertoco é formado em Marketing e Publicidade