Por Samuel Bertoco
Na semana passada faleceu, aos 80 anos, o baterista dos Rolling Stones. Uma lenda. Na música – como em muitas outras profissões – pessoas exuberantes, performáticas, acabam tendo um holofote maior em cima de si. Se fizermos de cabeça uma lista dos cinco maiores bateristas, dificilmente lembraríamos de Charlie assim, de memória; nomes como John Bonhan, do Led ou Keith Moon do The Who costumam ser nomes que vem automaticamente na cabeça. Mas sua batida, quase contida, foi boa parte do que fez os Stones se tornar esse rolo compressor de sucessos e se tornar a banda mais longeva da história do rock.
Mesmo dentro dos Stones, Charlie era figura menos aparente, quase antipático segurando as baquetas como um baterista de Jazz – sua formação musical – mas não importava. Sua batida perfeita e precisa era o encaixe do som da banda.Com as guitarras de Keith Richards e Ron Wood se embaralhando e um Mick Jagger sempre caótico, a batera de Charlie era a corda que amarrava tudo pra não virar uma barulheira confusa. A sensação é que sua batida é propositalmente simples, e sempre melhor do que qualquer outra alternativa.
Na vida pessoal Charlie era também o oposto de seus companheiros de banda. A linha de frente com Jagger e Richards viveu intensamente cada aspecto do lema sexo, drogas e rock n roll, enquanto o baterista era caseiro, casou em 64 com a esposa com a qual permaneceu até sua morte.
Existe a piada recorrente de que os Rolling Stones vão durar pra sempre, que para terem cometido tantos excessos e ainda estarem em pé só poderia ser algum tipo de imortalidade sobrenatural, a ironia é que justo o mais recatado dos caras é o primeiro a deixar seus companheiros. Ele se foi, mas sua obra como o baterista de uma – ou talvez da – maior banda de Rock n´Roll de todos os tempos permanece eterna – como Keith Richards provavelmente é.
Samuel M. Bertoco é formado em Marketing e Publicidade