Kaingang or not Kaingang?

Sobrelinhas – por Paulo Vitor de Almeida

Mudanças! Quem nunca passou por uma delas? Seja ela de casa ou do trabalho, da mais radical a mais simples, se para nós, adultos, mudar é complicado, imagine para uma criança? É disso que trata o livro “Sikré”, escrito por Suelen Trevisan e ilustrado por Ana Taguchi, que traz a história de uma pequena Kaingang, a Sikré, que vive diversas aventuras na “aldeia” Maringá. Ali a mãe da pequena tinha o objetivo de cumprir a promessa que havia feito à avó: voltar “com uma infinidade de moedas e cinco mulheres”, ou seja, tornar Sikré e suas irmãs mulheres e voltar com algum auxílio para a aldeia de origem.


A história nos convida a acompanhar a trajetória dessa garotinha com o mundo em que vivemos para conhecer outro do qual nem sempre nos lembramos (ou sequer imaginamos que exista): o da tribo indígena Kaingang. Mas para isso, é preciso coragem, coisa que Sikré tem de sobra, pois carrega isso no nome e em seus ancestrais, conforme nos conta sua avó:

“Antigamente um único homem era o dono do fogo e não o dividia com ninguém. Seu nome era Pi Tãn. Até que o sikré, um passarinho mais miúdo e ligeiro que o beija-flor, pensou num plano para levar o fogo a todas as pessoas. Um dia, enquanto a filha de Pi Tãn apanhava água no rio, o sikré fingiu que se afogava. A moça, com dó, resgatou o animalzinho e o colocou perto do fogo para se secar. Sem demora, o sikré apanhou um graveto em chamas e voou para longe dali.”


A história de Sikré (menina e pássaro) é, antes de tudo, uma lembrança da coragem que encontramos nos povos originários e que está presente em cada um de nós, justamente porque somos frutos deles. A partir do livro de Suelen e Ana, entendemos que precisamos não só conhecer, mas também respeitar e acreditar em nossos antepassados. Enfim, parafraseando o grupo de escritores modernistas que revolucionou a Literatura Brasileira no século XX, que se perguntava “Tupi or not Tupi?”, o livro de Suelen e Ana é um convite a reverenciarmos os povos originários e assumir que somos também Kaingang.

O livro “Sikré” pode ser lido/ouvido gratuitamente no link: https://bibliotecagralhaazul.com.br/sikre/

Paulo Vitor de Almeida é graduando de Letras Português pela Unespar/Apucarana.

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Carla Kühlewein

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